Por Magno Martins
Na entrevista com o presidente Bolsonaro, terça-feira passada, no Palácio do Planalto, fiz questão de informá-lo e ouvir a sua opinião de um exemplo, entre tantos outros, da fragilidade da sua área de comunicação. Passou-se em Caruaru, quando os ministros Marcelo Queiroga (Saúde) e Gilson Machado (Turismo) estiveram na crise da ameaça de falta de oxigênio e de vacina, mas após a solução do problema a população atribuiu o feito à prefeita Raquel Lyra (PSDB) e não ao Governo Federal.
“É a Imprensa que não nos ajuda”, queixou-se o presidente. Bolsonaro trava um duelo com a mídia, especialmente com as organizações Globo, mas, na verdade, sua área de comunicação pecou por muito tempo – dois anos e meio – e ainda está se ajustando. A internet para geração da minha entrevista, por exemplo, para mais de 400 emissoras no Norte e Nordeste, só ficou disponibilizada cinco minutos antes.
A esta altura, meu celular pipocava de reclamações das emissoras parceiras alegando a falta de som. O sinal para geração do link só saiu por causa de um wi-fi disponibilizado de última hora, quando nossa equipe técnica precisava de um cabo central seguro, que não caísse em nenhum momento. Resultado: com o wi-fi provisório, chegamos a perder entre três a cinco minutos da entrevista, provocando uma reclamação geral entre as emissoras.
Em resumo, isso é amadorismo. Bolsonaro chegou ao Salão de Audiências, local da entrevista, faltando exatamente oito minutos para o início da entrevista. Começou um pouco tenso, mas o deixei bem à vontade, chegando a relaxar, bater duramente no ex-presidente Lula e encarar toda pauta com destemor.
Para o grande público, o presidente passou uma imagem completamente diferente das outras aparições em entrevistas. Parece ter sido orientado para evitar declarações polêmicas, não pisar em cascas de banana. Tanto que, nem quando o provoquei sobre o “acidente” envolvendo a deputa Joice Hasselmann (PSL-SP) derrapou. Respondeu com serenidade, achando apenas esquisito o incidente.
Por fim, ao trazer esses bastidores, não poderia destacar que o Governo descobriu a pólvora, depois de dois anos e meio de gestão: falar em rádio, veículo que nunca morre, sempre atual, que ganhou mais vitalidade ainda com o advento da internet, quando muitos imaginavam que perderia seu poder de fogo na formação da opinião pública. Bolsonaro quer falar toda a semana em rádio e essa tem sido uma estratégia já delineada pelo seu novo secretário de Comunicação, André de Souza Costa, que nos recebeu com muita distinção, dando total apoio para a entrevista.
Tensão e alívio – Tão logo acabou a entrevista, o presidente disse: “Gostei, Magno”, para em seguida reclamar que fazia tempo que havia ficado tão à vontade. Na realidade, em nenhum momento o presidente deixou de responder as questões levantadas, nem mesmo quando se tratou das suspeitas de corrupção em seu Governo nas denúncias de um contrato superfaturado para compra de vacina que não chegou a ser assinado. “A entrevista depende muito do entrevistador”, comentou.