Por Magno Martins
Depois de silenciar sobre a crise e até ser objeto de memes que virilizaram na internet, o ex-presidente Lula (PT) disse, em entrevista ao jornal O Liberal, do Pará, que se comprovadas as denúncias contra o Governo Federal, a CPI da Covid deveria abrir a interdição ou o pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Lula disse que a CPI está “desnudando o monstro que foi plantado no Brasil” e afirmou que os senadores devem apurar “todas as denúncias” contra o Governo.
Na verdade, Lula blefa. Não é este o pensamento dele nem tampouco o cerne da sua estratégia para tentar voltar ao poder. Ele, seus asseclas, orientadores e conselheiros, como o jornalista Franklin Martins, querem Bolsonaro na frigideira, queimando até o limite do irrecuperável, para ser mais fácil o abate nas urnas. O afastamento do presidente implica, em qualquer das hipóteses, na chegada ao Planalto do vice-presidente Hamilton Mourão, osso mais duro de roer.
Ao assumir, Mourão criaria o fato novo, com chances de atrair mais apoios do que Bolsonaro se viesse a dar o rumo ao Brasil que a sociedade deseja e que se frustrou com o Governo. Recuperaria, igualmente, o eleitorado que votou em Bolsonaro para tirar o PT do poder e que anda desapontado com o Capitão. Lula quer Bolsonaro sangrando até as eleições. Num pleito polarizado, quanto mais queimado o chefe da Nação, mais chance de Lula derrotá-lo.
Com Mourão, cara nova, expectativas restauradas no eleitorado de centro, de direita e até esquerda, este segmento ranzinza com a roubalheira do PT, o cenário seria muito mais complicado para Lula. Poliglota, centrado, Mourão é integrante das Forças Armadas desde 1972. Escalou rápido entre as patentes e se tornou general, visto por interlocutores das instituições militares como o principal líder do Exército. Mesmo ocupando cargos altos, Mourão nunca se privou de dar demonstrações de insatisfação com governos e contra a esquerda.
Em 2015, quando era chefe do Comando Militar do Sul, um dos maiores do País, acabou exonerado do cargo após criticar a gestão Dilma Rousseff (PT) durante uma palestra ministrada no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), em Porto Alegre. Na indecisão da escolha do vice de Bolsonaro, o nome de Mourão surgiu para apaziguar os ânimos entre vertentes do PSL que preferiam o de Janaina Paschoal e outras lideranças, que optavam pelo do empresário Luiz Philippe de Orleans e Bragança. Na articulação, ficou acordado que Bolsonaro apoiaria o candidato do PRTB ao governo de São Paulo, Rodrigo Tavares, genro de Fidelix. Mourão sempre se destacou por ser arrojado, de coragem moral e muito culto.