Ao The Guardian, presidente ressaltou que qualquer tentativa de tirá-la do poder ilegalmente deixaria cicatrizes profundas na democracia.
Agência O Globo
BRASÍLIA – Diante da repercussão internacional da crise política em que está envolvida, a presidente Dilma Rousseff reforçou nesta quinta-feira, a jornalistas estrangeiros, o o discurso de que o processo de impeachment carece de bases legais, e que tirá-la do poder sem justificativa é golpe. Segundo ela, o movimento que estaria sendo engendrado agora não se compara ao golpe militar executado na década de 60, mas o sucesso do impeachment seria a ruptura da ordem democrática. Dilma afirma que querem a renúncia dela para evitar retirarem um mandato legítimo de forma “indevida, ilegal e criminosa”.
— Nós tivemos golpes de Estado militares em nossa história. Em um sistema democrático, esses golpes mudam de forma. Cada regime tem seu tipo de golpe. A Constituição garante direitos e em um golpe você subverte esses direitos e perverte a ordem democrática. E isso é perigoso. Sem base legal, esse processo é um golpe contra a democracia. E as consequências disso não sabemos, porque não temos capacidade de prever o futuro — afirmou, segundo o diário espanhol El Pais.
Na véspera, os ministros do STF Dias Toffoli e Cármem Lúcia afirmaram que, se for respeitada a Constituição, impeachment não é golpe. A entrevista foi concedida a jornalistas do “El Pais” (Espanha), “The Guardian” (Inglaterra), “The New York Times” (Estados Unidos), “Le Monde” (França) e “Página 12” (Argentina).
O Guardian ressaltou que Dilma distinguiu o que seria o golpe atual do golpe militar que jogou o Brasil numa longa ditadura.
— Eu não estou comparando o golpe de agora com os golpes militares do passado, mas seria a ruptura da ordem democrática no Brasil — disse a presidente.
A decisão de convocar jornalistas de veículos internacionais vem sendo executada desde o início da semana. Depois que importantes publicações passaram a defender, em seus editoriais, a renúncia da presidente, José Eduardo Cardozo (advogado geral da União) falou com correspondentes estrangeiros em São Paulo, e Jaques Wagner (chefe de gabinete de Dilma) fez o mesmo no Rio.
PREVISÃO CONSTITUCIONAL
Personalidade de 2015 do Prêmio Faz Diferença, do GLOBO em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro ( Firjan), Cármen Lúcia se posicionou na noite de quarta-feira sobre a legalidade do processo:
— Tenho certeza que a presidente deve ter dito que, se não se cumprir a Constituição é que poderia haver algum desbordamento. Não acredito que ela tenha falado que impeachment é golpe. O impeachment é um instituto previsto constitucionalmente.
Já Dias Toffoli disse que o impeachment é um instrumento democrático:
—Não se trata de um golpe. Todas as democracias têm instrumentos de controle, e o impeachment é um tipo de controle.