Ministro vem sendo muito cobrado pelo seu partido, o PT, e pelo ex-presidente Lula por ações da Polícia Federal.
Agência O Globo
BRASÍLIA – O ministro da Justiça José Eduardo Cardozo deve oficializar ainda nesta segunda-feira sua saída do cargo. Ele participa logo mais da reunião da coordenação política com a presidente Dilma Rousseff, com quem já conversou neste fim de semana sobre sua situação no governo. Cardozo vem sendo muito cobrado pelo seu partido e pelo ex-presidente Lula por não controlar a Polícia Federal e acabar permitindo investigações que afetam o PT e, especialmente, o ex-presidente.
A reunião do Diretório Nacional do PT, no último fim de semana no Rio, teria sido a gota d´água para a decisão de Cardozo, na qual foi muito criticado e aumentou o seu desejo de deixar o Ministério da Justiça.
Ausente da festa de comemoração de 36 anos do PT, na noite deste sábado, e em rota de colisão com o partido, a presidente Dilma enviou uma nota na qual afirma que é “solidária” ao ex-presidente Lula que, segundo ela, está sendo “duramente atacado, de forma injusta”.
Em outubro do ano passado, a operação de busca e apreensãofeita pela Polícia Federal no escritório da LFT Marketing Esportivo, de Luis Claudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, fez crescer no PT a insatisfação com o ministro Cardozo. Também há reclamações sobre supostos excessos na Operação Lava-Jato, que investiga esquema de corrupção na Petrobras, e de vazamentos considerados seletivos. Lula tenta derrubar Cardozo desde o final do ano passado, mas, nesse período, Dilma já fez duas reformas ministeriais e não mexeu na pasta da Justiça.
Mas não está descartada a possibilidade de Cardozo se manter no governo, porém, em outro cargo. Como o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, está de saída, Cardozo poderia ser remanejado para essa vaga. Essa manobra atenderia a um movimento do ex-presidente Lula, revelado pelo GLOBO em novembro do ano passado.
A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), que recentemente teve divergências com Cardozo em relação ao orçamento da corporação, soltou nota demonstrando “extrema preocupação” com a possível saída do ministro do cargo.
“Os Delegados da Polícia Federal receberam com extrema preocupação a notícia da iminente saída do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em razões de pressões políticas para que controle os trabalhos da Polícia Federal. Os Delegados Federais reiteram que defenderão a independência funcional para a livre condução da investigação criminal e adotarão todas as medidas para preservar a pouca, mas importante, autonomia que a instituição Polícia Federal conquistou”, diz trecho da nota.
A ADPF também voltou a pregar a autonomia funcional e financeira da Polícia Federal.