Por Magno Martins
Capital da República, centro do poder, Brasília é cosmopolita, mas seus eixos e quadras foram feitos por Niemeyer em ambiente para convívio de aldeia. Sua atmosfera política faz o seu mundo girar entre o Planalto e o Congresso. Difícil lados opostos, oposição e governo, adversários e aliados, não baterem de frente um com o outro.
Basta um ato, um acontecimento histórico, uma cerimônia no Palácio do Planalto, no Congresso ou Ministérios para personagens das províncias, seja de qualquer parte do território nacional, se perfilarem lado a lado, de repente, mais que de repente, respirando o mesmo ambiente de modo civilizado, com educação doméstica como impõe a lei da vida.
Ontem, fiquei frente a frente, nome do meu programa pela Rede Nordeste de Rádio, com o prefeito do Recife, João Campos, do PSB que me processa, na casa do deputado Sebastião Oliveira, na 302 Norte, por quem fui convidado para um jantar com prefeitos. Cheguei primeiro e só soube que ele também estava à caminho lá, pelo anfitrião. Que, aliás, sabendo das idiossincrasias que nos separam, me avisou da presença do prefeito.
Na chegada, já encontrei um ambiente tensionado, com prefeitos aliados de Sebá, como é tratado o deputado, intrigados por notícias no blog que provocaram dissabores ao longo da campanha. Conhecedor das peculiaridades da fauna política de Brasília, soube quebrar o gelo. E Sebá também colaborou.
Mas com João, o gelo não foi quebrado, ficou intacto, não se derreteu. O prefeito chegou em companhia de dois assessores que nunca vi, cumprimentou a todos, mas me ignorou. Esqueceu de cumprir o protocolo básico dos manuais da política, princípio do marco regulatório entre contrários na cidade projetada por Niemeyer para indiferenças serem relevadas em ocasiões dessa natureza.
No meu livro Histórias de Repórter, com prefácio do jurista José Paulo Cavalcanti e orelha da jornalista Andreza Matais, chefe da sucursal de O Estadão em Brasília, conto algumas brigas antológicas que travei com políticos, inclusive o pai do prefeito, o ex-governador Eduardo Campos, com quem fiquei dois anos sem trocar um bom dia, mas que o tempo nos reaproximou antes dele morrer num acidente aéreo. Também narro casos de políticos que esfregaram até revólver na minha cara.
Eduardo era um sedutor na arte de atrair contrários e engolir sapos. Quem sabe o filho também não venha a encarnar, com o tempo que tinge de branco os cabelos, o mesmo espírito do pai.