Não é esquisito que a classe médica ignore os levantamentos objetivos demonstrando que as regiões mais trancadas são as que têm mais óbitos por milhão?
Você talvez esteja estranhando a postura de parte da classe médica em relação à pandemia. Se não estiver estranhando, não tem problema. Aqui não temos certezas nem sentenças. Mas vamos tentando inventariar as esquisitices, enquanto isso (inventariar esquisitices) não vira também falta de empatia, negacionismo e comportamento potencialmente criminoso para com a saúde pública.
O que está parecendo meio esquisito?
(“parecendo”, “meio” e “esquisito” são palavras deliberadamente atenuantes para não ferir suscetibilidades. Tudo aqui é meio relativo, meio inconclusivo, meio “perguntar não ofende”, ok? Não sabemos de nada.)
Voltando: o que está parecendo meio esquisito no comportamento de parte da classe médica? Estamos novamente usando a atenuante “parte”, porque referir apenas a “classe médica” poderia parecer uma generalização injusta — embora a quantidade de esquisitices consagradas no ano de 2020 sem uma refutação clara por parte da classe médica dê vontade de perguntar, generalizando mesmo: o que houve com a classe médica? Mas vamos seguir prudentemente com o eufemismo “parte”.
São pelo menos algumas esquisitices flutuando por aí com boa imunidade entre profissionais da medicina. A mais esquisita de todas, obviamente, é o tal do lockdown. Inglaterra e Alemanha fecharam tudo de novo. “Tudo” quer dizer praticamente tudo, porque o lockdown deixa funcionar “serviços essenciais” — sendo que em cada lugar a autoridade decide se padaria é essencial, ou só supermercado. E também metrô, ônibus e trem podem ficar de fora do trancamento. Isso tudo cuidadosamente negociado com o coronavírus, para ele não pegar o bonde errado.
Dependendo da região, até 99% das pessoas infectadas com a covid-19 não estarão em risco letal. Mas as políticas restritivas jamais são dirigidas a grupos de risco e à conduta geral para com os grupos de risco. Os trancamentos são indiscriminados para toda a sociedade. O que a classe médica acha desse show de critérios ocultos?
Felizmente você poderá citar médicos que disseram que essa diretriz supostamente sanitária é só uma hipótese aventureira que ninguém nunca fundamentou. Mas onde está o repúdio da classe médica — por meio de suas instituições representativas — a medidas extremas, já reiteradas por quase um ano, que afetam a saúde das populações de variadas formas — com represamento de doenças a partir do adiamento de diagnósticos e da interrupção de tratamentos, para não falar em depressão, violência doméstica e suicídio?
Também não é esquisito que a classe médica de forma geral, ou em sua maioria, ou a ressalva que você prefira, ignore os levantamentos objetivos demonstrando que as regiões mais trancadas são as que têm mais óbitos por milhão?
Por que a comparação inevitável entre uma Inglaterra e uma Suécia — tendo notoriamente o segundo país menos restrições e menos óbitos por milhão — não suscitou ao menos alertas médicos (no nível institucional) quanto à condição no mínimo altamente duvidosa desse instrumento devastador chamado lockdown?
Esquisito. Ou não é?
E as vacinas? Grandes laboratórios celebram contratos eximindo-se de responsabilidade judicial por reações adversas nos vacinados. E estamos falando de vacinas desenvolvidas em pouco mais de seis meses — quando o ciclo mais curto de aprovação de uma vacina na história da medicina é de quatro anos. Sempre aparece um especialista para dizer que está tudo normal, que é assim mesmo. E sempre aparece um veículo de mídia para veicular um palpite científico desse tipo.
E se estatísticas misturam óbitos de covid com óbitos de pneumonia e outras enfermidades, inaugurando a figura bizarra do atestado de óbito “presumido” — sem contraditório ou nenhum tipo de crivo institucional no meio médico —, a literatura ficcional em torno da eficácia e da segurança das vacinas também vai passando como ciência debaixo do nariz da classe.
Mas isso é só uma suposição, uma sensação, enfim, um aroma de esquisitice talvez só relevante para olfatos suscetíveis. Respire fundo. Se achar que o ar está limpo, vá em frente.
*Colunista da Revista Oeste