Por Nelson Freire*
O mês se iniciou com 90 casos residentes confirmados, terminando com 6.860 casos, um aumento de 7.623%. Até o último dia de abril, havia casos confirmados em 128 dos 185 municípios pernambucanos, ou seja, quase 70% dos municípios. Nesse ritmo, nos próximos dias atingirá rapidamente 100% do estado.
A pandemia se consolidou na região metropolitana, tendo seu principal eixo de dispersão (elipse do desvio padrão) inicialmente orientada no sentido Fernando de Noronha – Palmares, terminando o mês reorientada no sentido Recife – Agreste, mostrando o aumento da contaminação em direção ao interior do estado.
Ao longo de abril, a densidade de casos se intensificou para além da região metropolitana, conquistando cidades tanto da Mata Norte, como na Mata Sul e, a partir de meados do mês, avançou sistematicamente em direção ao agreste próximo e daí vai se alastrando para o sertão mais distante do litoral. Nesse cenário, a pandemia vai encontrar áreas com alta vulnerabilidade social, em municípios pobres e com grandes parcelas da população com baixa renda e precariedade de acesso ao abastecimento de água e esgotamento sanitário – indicadores que são decisivos no combate a esta e outras doenças.
Levada pelas BR-323 e BR-101, pandemia se espalhou por pequenas cidades do sertão, criando pólos de disseminação em centros regionais importantes, como Caruaru e Petrolina. Também avançou por pequenas e médias cidades do agreste e do litoral norte alagoano pelos eixos rodoviários, o que motivou o Estado de Alagoas a montar barreias sanitárias em suas fronteiras (ver Nota Técnica sobre pesquisa Covid-19 em Alagoas).
Esse padrão espacial do vírus mostra sua característica nitidamente urbana e temporal. Inicialmente é necessário entender que o vírus utiliza as características próprias da rede de cidades (especialmente a alta densidade populacional e a proximidade geográfica), sua hierarquia urbana (das metrópoles para as pequenas e médias cidades), da mobilidade e circulação de pessoas (difusão hierárquica). Nesse sentido, isto auxilia a compreender sua alta velocidade de contágio, compatível com as modernas atividades urbanas e o baixo isolamento social observado em várias cidades. A figura 3 mostra que o coeficiente de contágio por 100 mil hab terminou o mês com 64,7, muito superior ao da China (5,87) e do Brasil (14,31), o que mostra que a pandemia vem infectando um número muito maior de pessoas em Pernambuco que no país onde se originou e mesmo no nosso País.
*Pesquisador titular da Fundaj e coordenador do Centro Integrado de Estudos Georreferenciados para a Pesquisa Social (CIEG)