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Moro – Ascenção e queda

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Por Gustavo Krause

Não cultivo ídolos nem heróis. A razão é simples: a essência imperfeita da natureza humana. Ambos são abstrações. Atribuem a Voltaire a frase: “ninguém é herói para seu criado de quarto”. A intimidade fulmina ídolos. A esse respeito, a crueza genial de Nelson Rodrigues, dizia que, dependendo das “intimidades”, “as pessoas, com vergonha, sequer se cumprimentariam”.

Entretanto, no campo político, tenho especial admiração por três grandes líderes: Gandhi, Nelson Mandela e Winston Churchill.

Exatatamente no campo político, o culto à personalidade leva à adoração de verdadeiros monstros, construídos pela arma manipuladora da propaganda, ou pela síntese insuperável que explica êxito de o “Príncipe” de Maquiavel: “virtú et fortuna”.

Os povos precisam de heróis, ídolos e símbolos a quem reverenciar com a força unificadora das narrativas religiosas, míticas e políticas.

Nós brasileiros, não fugimos à regra e não faltam exemplos de ídolos consistentes ou com os pés-de-barro, heróis verdadeiros ou fabricados, em todos os campos da vida social.

Na política brasileira, não faltam heróis e vilões. Mas foi no campo minado da antipolítica que surgiu um herói nacional: o Juiz Sérgio Moro que atendeu ao clamor estrondoso da sociedade e ao natural desejo de punição a um esquema de corrupção em proporções tais que afetou a economia na escala medida pelo bilhão de dólares. Mais importante: feriu mortalmente a cultura da impunidade ao colocar na cadeia os mais poderosos representantes do poder econômico e do poder político.

Não, por acaso, a operação denominada Lava-Jato, lavou a alma dos brasileiros a despeito do pecado do orgulho de alguns jovens promotores e do estranho amor ao Estado de Direito dos hackers da Intercept.

O novo herói nacional, Sergio Moro, não se afastou do estilo sóbrio, da consistência jurídica das sentenças, demonstrando sempre uma inabalável convicção interior e apego à lei.

A escolha de Moro estava legitimada pela confiança delegada por 58 milhões de eleitores ao Presidente e pelos méritos do magistrado no combate à corrupção. Mal sabia Moro que trabalhar com o Presidente seria um martírio.

Na parte final do meu artigo, “a síndrome de Caim” escrevi: “Ministros o recado está dado. Cuidado com avaliação das pesquisas de opinião: o teto é a mediocridade turbinada por uma personalidade a merecer devida atenção dos especialistas em patologias comportamentais”.

O ministro ascendeu por mérito e a queda, com dignidade, engrandece Sérgio Moro. Fica a questão: por que rolou a cabeça de Valeixo?

*Gustavo Krause é político e advogado brasileiro. Foi ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, ministro do Desenvolvimento Urbano e do Meio Ambiente do governo FHC, governador de Pernambuco e prefeito do Recife.

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