Por JC Online
De repente, os bares e restaurantes fecharam as portas e Valéria Alcântara ficou sem ter a quem vender seus peixes e mariscos. Depois de enfrentar o derramamento de óleo nas praias em 2019, dessa vez foi a pandemia do novo coronavírus que levou sua freguesia e sua renda. Sem conseguir receber o auxílio emergencial pago pelo governo federal, ela precisou se virar com o que tem à mão. Está vendendo salgados e sucos (feitos com as frutas tiradas do sítio onde mora), na frente de uma fábrica no Cabo de Santo Agostinho. A história de Valéria é um retrato do impacto da covid-19 na vida dos trabalhadores. No início deste mês, o Instituto Locomotiva realizou uma pesquisa com 935 pessoas em 72 cidades de todo o País para avaliar a percepção da população sobre a epidemia e constatou que metade dos brasileiros (51%) já teve queda na renda com a escalada da doença.
O levantamento também mostra que os nordestinos estão mais preocupados do que as demais regiões em relação a economia do País, renda pessoal e trabalho. Não é difícil de entender que o Nordeste se sinta mais ameaçado, sabendo que a região tem renda menor, taxa de desemprego maior e mais pessoas em situação de pobreza e extrema pobreza comparado à média nacional. Enquanto 58% dos brasileiros estão muito preocupados em perder o emprego, entre os nordestinos a taxa é de 72%. Na questão sobre quanto a covid-19 vai prejudicar a economia, 65% respondem muito (na média geral), contra 72% da região. Quando o assunto é a renda, 66% dos nordestinos dizem estar muito preocupados com a diminuição dos ganhos, ante 53% do Brasil.
O presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, observa que a proporção de brasileiros afetada, que já é alta, deve crescer nas próximas semanas. “Dois em cada três profissionais acreditam que seus empregos serão muito prejudicados no Brasil, apesar de 73% das pessoas defenderem o isolamento social como forma de interromper o avanço da doença”, sublinha. Em Pernambuco, na última sexta-feira, o governador Paulo Câmara prorrogou o fechamento do comércio e de atividades não essenciais até 30 de abril.