*Por Renato Riella
A quarentena está sendo aplicada sem o mínimo planejamento, nem estudo do alcance negativo das medidas. No DF, o Governador Ibaneis Rocha será criticado por reabrir as lotéricas. Vão dizer que seguiu a orientação do Presidente Bolsonaro (muita gente só pensa em Bolsonaro, verdadeiro fanatismo invertido).
Ora, loteria hoje não tem sorteios (suspensos), mas é o “banco do pobre”. Algum de vocês que está me lendo entende de pobre? Sabe como o pobre paga contas, recebe benefícios e tem atendimento presencial (das mocinhas das lotéricas)?
Sem lotéricas, não adianta soltar benefícios sociais. Eu, que lido com muitas pessoas pobres (amigos e trabalhadores), tenho relatos horríveis de velhinhas que estão sem conseguir acessar a aposentadoria por falta de lotéricas abertas.
DENTISTA
Há muitos outros setores onde a quarentena é monstruosamente errada. Ontem, me ligou uma prestadora de serviços antiga, da pobre cidade de Itapoan (DF). A filha dela está há dois dias com dor de dente. E os dois dentistas da cidade vizinha, Paranoá, estão sem trabalhar.
Não consegui orientar esta minha amiga antiga. Fiquei muito triste. Dentista sabe se cuidar. Esta classe soube se prevenir da Aids, que era muito mais perigosa para eles. Os dentistas deveriam estar trabalhando, com os cuidados sanitários que conhecem: máscara, luva, etc.
A quarentena, feita por gente que não conhece pobre, é um crime (conheço muito, por tudo o que vivo e vivi, e até já fui secretário de Serviços Sociais, por dois anos). Pena eu que só tenha poder aqui nas redes sociais.
VEÍCULOS
Fechar as concessionárias de veículos é um crime. Elimina uma cadeia de produção industrial, que poderia estar mantendo empregos, com condições cuidadosas de funcionamento. Quando voltarem, as fábricas de veículos estarão quebradas – e muitas concessionárias também.
FEIRAS
O mais importante, hoje, é reabrir a venda de hortifrutigranjeiros. O varejão da Ceasa, que só funcionava aos sábados, precisa funcionar seis dias na semana, para diluir o público. E as feiras livres abertas, das quadras, devem ser autorizadas a funcionar, com distanciamento entre as barracas.
Estamos jogando fora a produção de frutas e verduras de hoje (toneladas de alface e outros itens indo para o lixo). E vamos eliminar a produção futura, pois os produtores não vão plantar. Além disso, agora, estamos sem acesso a alimento saudável. Quanta incompetência e histeria!
Vi um produtor de goiaba, no meio das árvores, jogando fora os frutos, que estavam apodrecendo por falta de distribuição. Disse que quebrou. E quebrou mesmo… não teremos goiabas no segundo semestre.
É só um exemplo, pois não teremos nada. Ninguém vai produzir.
*Jornalista