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Recife, Caruaru e Petrolina começam ano esquentando para eleições 2020

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Eleitores voltam às urnas em outubro para escolha de prefeitos e vereadores

JC Online / Foto: Agência Brasil

Um novo ciclo político foi iniciado, e ainda existem muitas indefinições sobre o que irá guiar as eleições municipais, sobretudo no Recife. O que antes era marcado apenas pelo discurso do “novo”, 2020 já mostra que também será necessário ter bandeiras e posturas ideológicas bem definidas para chamar a atenção do eleitor. Para a cientista política Priscila Lapa, o perfil deste eleitor mudou, e não se pode desprezar a combinação com o cenário nacional.

“Existe uma busca por perfis diferenciados. No caso do PSB, por exemplo, se questiona até que ponto esse projeto político tem fôlego, ao mesmo tempo que eles trazem a figura de um jovem dentro de um partido tradicional, e que vai ter o que mostrar”, avalia.

Ela se refere ao deputado federal João Campos (PSB), posto como candidato à sucessão do prefeito Geraldo Julio (PSB). O parlamentar, de 26 anos, afirma que o trabalho da Frente Popular “lhe torna fortalecida para as eleições de 2020, assim como ocorreu com as últimas eleições, onde o povo foi generoso e reconheceu os resultados desse grupo progressista”.

O cientista político Elton Gomes vê dois desafios para o PSB, que tem certa hegemonia regional: lançar um jovem candidato, “continuando a tradição de chefes políticos locais”, e conservar a aliança como PT, o que resultaria na impossibilidade de a deputada federal Marília Arraes ser candidata.

“Tudo vai depender do ex-presidente Lula, que comanda seu partido de maneira muito centralizada”, projeta Elton. Em sua passagem pelo Recife, Lula teria afirmado a aliados que “a prioridade são as candidaturas do PT”.

Em paralelo, explica Elton, surgem candidaturas conservadoras de dois tipos. “Uma direita liberal representada por Mendonça Filho (DEM) e a segunda é a possibilidade de ter uma direita neoconservadora de matriz bolsonarista e religiosa, que poderia ser um elemento disruptivo”, conta.

O presidente da Embratur, Gilson Machado, tem declarado publicamente que seria o candidato do presidente Jair Bolsonaro, se assim ele pedisse. Em se tratando de oposição, o cientista político e professor da Faculdade Damas Antônio Henrique Lucena acredita que, apesar da “fadiga do material” do PSB, ainda não está claro como os candidatos vão conseguir capitalizar isso.

Ainda não há um consenso se a oposição vai convergir em torno de um único nome ou se irá lançar múltiplas candidaturas. Nesse rol, encontramos o deputado federal Daniel Coelho (Cidadania), que poderá formar chapa com a ex-delegada da Draco Patrícia Domingos (sem partido); André de Paula (PSD), Raul Henry (MDB), Silvio Costa Filho (Republicanos), Túlio Gadelha (PDT), além de nomes que já confirmaram a pré-candidatura à prefeitura do Recife, como Paulo Rubem (PSOL) e Charbel Maroun (Novo).
“Muito provavelmente, a eleição do Recife deve ser uma eleição para dois turnos em virtude de que a multiplicidade de candidatos vai fazer uma diluição dos votos, então isso reduz a candidatura de liderança, e no segundo turno a gente vai ter um aglutinamento maior”, comenta Lucena.

CARUARU

Localizado no Agreste, Caruaru é um município em que a conjuntura política para as eleições deste ano ainda não está clara. Especialistas apontam uma postura mais cautelosa tanto da prefeita Raquel Lyra (PSDB), que pleiteia reeleição, quanto de pré-candidatos como os deputados estaduais José Queiroz (PDT), Tony Gel (MDB), Delegado Erick Lessa (PP); Raffiê Dellon (PSD), Manoel Santos (PSL) e o deputado federal Fernando Rodolfo (PL).

De acordo com o cientista político Elton Gomes, essa cautela se dá principalmente em relação à nacionalização do debate. Ele acredita que o tom será mais localizado, principalmente por Raquel, que não se furta em fazer críticas ao governador de Paulo Câmara (PSB). “Ela não vai tentar embarcar em uma polêmica muito grande. Ela é do PSDB, que não é propriamente um aliado de primeira hora do governo Bolsonaro, é circunstancial”, diz o cientista.

Os seus adversários, porém, podem querer ligá-la ao presidente. “Mas eu acho difícil colar isso nela, porque ela foi muito cuidadosa. Nesses anos você não teve aproximação, salvo naquilo que realmente é natural, como receber político federal”, disse.

A gestora afirma que seu foco, neste momento, é a conclusão do seu primeiro mandato, e que não irá comentar sobre a eleição.
Já os adversários… “Acredito que vamos ter recorde de candidaturas. De certeza, nós sabemos que há muitos sonhos, muitos objetivos alimentados, e a gente vai ter que examinar com muita cautela tudo que esta acontecendo”, disse José Queiroz.

O cientista político Vanuccio Pimentel pontua que, assim como os Lyra, há outros nichos familiares que continuam tendo um peso importante. “Tanto José Queiroz como Tony Gel possuem um nicho importante. Caruaru, no âmbito político estadual, tem um papel importante em termos de palanque para as disputas estaduais, porque é uma cidade que gira em torno de uma aliança maior para o governador”, afirma o especialista.

PETROLINA

Há quem considere que nacionalizar o debate nas eleições municipais deste ano seja um erro. Mas algumas cidades já mostram que esse caminho pode ser inevitável. Quarta maior cidade do interior do Nordeste, Petrolina é um reduto político cobiçado – são 206.691 eleitores. O resultado das urnas poderá dizer muito, inclusive, sobre 2022.

Na disputa pela reeleição, o prefeito Miguel Coelho (MDB) tem na manga a vinda de alguns ministros do governo federal, como Gustavo Canuto (Desenvolvimento Regional); a ministra Tereza Cristina (Agricultura); e o ministro Abraham Weintraub (Educação); além do próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido). “Petrolina é uma cidade muito politizada. Os petrolinenses sempre sabem que qualquer prefeito ou governador, para ter sucesso, precisa ter alinhamento com o governo federal, independentemente da ideologia política ou partidária. O dinheiro está em Brasília”, afirma Miguel ao JC.

Para o cientista político Elton Gomes, sobretudo nas cidades com mais de 200 mil habitantes, o debate nacionalizado deve estar presente, trazendo Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula (PT) à baila. “Isso dá uma tônica do ponto de vista da tendência de não mais uma polarização, mas uma hiperpolarização, onde o debate público se enfraquece”, afirma.

Acrescenta-se a esse caldeirão das eleições locais o ingrediente das elites familiares. “Temas muito locais tendem a se sobressair no Brasil profundo, uma das principais questões é a continuidade ou não da administração daquele grupo político”, explica o cientista.
O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB) – pai de Miguel e líder do governo Bolsonaro no Senado – traduz o peso familiar como figura estratégica dos discursos.

No palanque de oposição, o presidente do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Odacy Amorim (PT), afirma que sua candidatura é um pedido pessoal de Lula.

Há uma tendência na oposição de lançar múltiplas candidaturas para favorecer um segundo turno. O deputado estadual Lucas Ramos (PSB) tem seu nome colocado à disposição. “O PSB decidiu pela candidatura em Petrolina, isso faz parte de um projeto estratégico na cidade em que o governador Paulo Câmara foi eleito majoritariamente em 2014 e 2018, onde nós elegemos o prefeito em 2016”. Na época, Miguel foi o candidato de Paulo, antes de mudar de lado.

O ex-prefeito da cidade Julio Lossio (PSD), apesar de não cravar que será candidato, compactua com a ideia de ter várias candidaturas. “Acredito que esse seja o cenário. Vamos no momento certo, e baseado no diálogo, discutir a melhor opção para trazer a gestão de volta aos cuidados com as pessoas”, dispara Lossio.

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