Segundo dados do IBGE, o Maranhão amarga a última posição no ranking nacional de PIB per capita. Esse indicador leva em consideração a renda média do maranhense. É calculada de modo a somar o Produto Interno Bruto – que é a arrecadação total do país, estado ou região – e dividi-lo pelo número de habitantes.
Vale ressaltar que o PIB possui apenas uma consideração. É possível que o PIB aumente enquanto os cidadãos ficam mais pobres, e isso ocorre porque o PIB não considera o nível de desigualdade de renda das sociedades. Desigualdade. Essa é a tônica que permeia todas as instâncias dentro do Maranhão. Perceber a situação desfavorável por que passa o estado maranhense não é tão difícil. Ela se mostra clara em diversos âmbitos, tanto sociais e políticos, quanto culturais e econômicos. No entanto, compreender de onde provém tanto atraso requer um exercício mais apurado. É preciso uma viagem de volta no tempo.
Maranhão no Império
Em meados de 1600, em pleno século XVII, o Maranhão era uma das províncias mais bem-sucedidas do Brasil imperial. A fertilidade de suas terras atraía portugueses, franceses e holandeses, que travaram duras batalhas para conquistar o poderio do quinhão maranhense. “O Maranhão possuía terras de bom plantio para cultivar cana-de-açúcar, algodão, arroz. Tinham também muitos mananciais e fontes de água. À época, a Companhia Grão-Pará e Maranhão eram os principais polos de plantação e cultivo de cana-de-açúcar, o que fez dessa terra uma terra promissora”, revela o historiador Jossiel Ferreira. A viagem, então, segue até o final do século XIX, quando, em 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca proclama a República Federativa do Brasil. A partir daí, a federalização instaurada trouxe efeitos desvantajosos para o Maranhão.
Jossiel relata que “a nova configuração de federalização fez com que o estado, pouco a pouco, se tornasse distante de toda a fartura dos dois séculos anteriores. Com a chegada do algodão americano e a introdução dos chineses no mercado brasileiro, o Maranhão, sem investimento adequado, passa a perder para concorrentes que possuíam produtos mais em conta e mais fáceis de serem exportados. Os poderosos, então, deixam de investir no estado, que passa a sofrer um gradual processo de miséria, de queda financeira”, relata.
Maranhão hoje
Álvaro Pires tece que, na atualidade, as várias instituições sociais e setores da sociedade civil têm despertado para essa situação de estagnação e trabalham para criar mecanismos de avanços sociais. “Embora nós tenhamos pessoas e instituições que pensem de forma diferente, que queiram melhorar, que estejam trabalhando para superarmos esse lapso de séculos, é muito difícil recuperar décadas e décadas de atraso”. No setor da economia, quem também se pronuncia é Felipe de Holanda, presidente do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (Imesc). Segundo o economista, embora o Maranhão tenha passado por fortes crises econômicas, seguindo o cenário nacional, no último biênio, o estado tem trabalhado para superar os números inglórios.
“Os indicadores relacionados à renda per capita e à concentração de extremamente pobres deverão mostrar, nos anos de 2015 a 2017, uma forte deterioração, em todo o território nacional. No estado do Maranhão, a resiliência fiscal, as políticas focadas na inserção socioprodutiva, a atração de investimentos externos e a manutenção de um conjunto de investimentos públicos e privados deverão contribuir para melhorar o posicionamento do estado do Maranhão”. Mas Ananda Marques observa que o desenvolvimento econômico não é condição necessária para que se alcance bons níveis de desenvolvimento social. Em sua avaliação, a cientista analisa que questões como combate à pobreza e promoção dos direitos humanos só alcançam plenitude quando andam de mãos dadas com uma atuação de governo eficaz. “O crescimento econômico, apesar de ser potencializado ou reduzido a partir da atuação do Estado, ocorre por muitos outros fatores que desenham uma conjuntura econômica complexa. Porém, o desenvolvimento social, o combate à pobreza, a promoção dos direitos humanos e da justiça social dependem diretamente da atuação estatal, através do estabelecimento de uma agenda social de políticas públicas estaduais”, finaliza.
Coronéis e o voto de cabresto
Após a proclamação da República, com o Maranhão pouco próspero, surge no cenário político brasileiro a figura do “coronel”, uma espécie de governante que simbolizou a complexa estrutura de poder denominada Coronelismo. A característica dessa forma de governar abrange aspectos como mandonismo e apadrinhamento, que trazem como consequência as fraudes eleitorais e a desorganização dos serviços públicos.
Segundo o sociólogo e antropólogo Álvaro Pires, a presença dos coronéis na chamada República Velha – período entre 1889 e 1930, aproximadamente – foi responsável por “elitizar” a política vigente.
“No exato momento em que as elites começam a se consolidar no Maranhão é quando elas começam a impor as suas vontades, os seus desejos e, assim, transformam o Maranhão em seus quintais, onde o dinheiro, o poder do voto e a condição cultural elevada passaram a valer mais”, pontua.
Do outro lado da corda, o lado mais frágil do cabo de guerra, estava o povo maranhense. Com pouco acesso à informação e educação, os cidadãos não desfrutavam dos ganhos que as elites estavam desenvolvendo, conforme relata o historiador Jossiel.
“Os coronéis passam a legislar em causa própria, pensando apenas em ganhar mais do que já possuíam. A partir desse momento, nascem as mazelas do estado. Pontos importantes para a sociedade não eram tão importantes para os coronéis, então, o estado passa a sofrer com pobreza, sem acesso à saúde e saneamento básico de qualidade”, expõe.
Após a proclamação da República, com o Maranhão pouco próspero, surge no cenário político brasileiro a figura do “coronel”, uma espécie de governante que simbolizou a complexa estrutura de poder denominada Coronelismo. A característica dessa forma de governar abrange aspectos como mandonismo e apadrinhamento, que trazem como consequência as fraudes eleitorais e a desorganização dos serviços públicos.
Segundo o sociólogo e antropólogo Álvaro Pires, a presença dos coronéis na chamada República Velha – período entre 1889 e 1930, aproximadamente – foi responsável por “elitizar” a política vigente.
“No exato momento em que as elites começam a se consolidar no Maranhão é quando elas começam a impor as suas vontades, os seus desejos e, assim, transformam o Maranhão em seus quintais, onde o dinheiro, o poder do voto e a condição cultural elevada passaram a valer mais”, pontua.
Do outro lado da corda, o lado mais frágil do cabo de guerra, estava o povo maranhense. Com pouco acesso à informação e educação, os cidadãos não desfrutavam dos ganhos que as elites estavam desenvolvendo, conforme relata o historiador Jossiel.
“Os coronéis passam a legislar em causa própria, pensando apenas em ganhar mais do que já possuíam. A partir desse momento, nascem as mazelas do estado. Pontos importantes para a sociedade não eram tão importantes para os coronéis, então, o estado passa a sofrer com pobreza, sem acesso à saúde e saneamento básico de qualidade”, expõe.