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Tuíte de presidente é notícia?

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 O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro — Foto: Ludovic Marin e Sergio Lima/AFP

Por que a imprensa cai feito otária na estratégia diversionista de Trump e Bolsonaro

Por Helio Gurovitz — Foto: Ludovic Marin e Sergio Lima/AFP

O estilo de comunicação direta pelas redes sociais, inaugurado por Donald Trump e copiado por Jair Bolsonaro, deixa a imprensa diante de um dilema: até que ponto tuítes presidenciais são notícia?

Numa imagem já batida, diz-se que Trump e Bolsonaro “hackearam a mídia”, ao usar as limitações da própria imprensa para atacá-la. Não se trata apenas de ataques demagógicos ou populistas, de dizer que jornalistas são “inimigos do povo” ou coisas do tipo, mas de uma espécie de infecção, que aproveita a fraqueza de procedimentos consagrados na imprensa para manipulá-la e controlar a cobertura política.

Nada disso é muito novo. Todo presidente tenta plantar notícias favoráveis para esconder as negativas. As redes sociais conferiram, contudo, uma nova dinâmica a tal mecanismo, ao lhes oferecer um canal direto de comunicação por meio de posts, vídeos ou tuítes.

As práticas e manuais de redação do jornalismo pré-redes sociais recomendam tratá-los como qualquer declaração, implicam transformar em escândalo tudo aquilo que agride a sensibilidade de um leitor mediano. Pois foi com base nesse procedimento que a imprensa americana se tornou, no início do governo Trump, refém da agenda ditada pelo tuiteiro-em-chefe.

O mesmo método começa a ser reproduzido no Brasil por Bolsonaro. O candidato que, nas eleições, usou com sucesso as redes sociais para desafiar o jornalismo profissional e outras instituições passa a lançar mão do Twitter para desviar o tema da cobertura na imprensa.

Seria simples se todos os veículos jornalísticos pudessem apenas ignorar manifestações escatológicas, pornográficas ou preconceituosas, dirigidas aos acólitos fieis que compartilham as crenças ideológicas do presidente. Simples e arriscado. Veículos concorrem na cobertura. Tuítes escandalosos geram barulho e manchetes fáceis. Ignorá-los poderá transparecer alheamento da realidade.

Mas cobri-los como prioridade, em especial quando (e porque) o assunto ganha repercussão na imprensa estrangeira, é um erro ainda maior. A imprensa internacional é um péssimo exemplo. Tornou-se refém dos tuítes de Trump. Seus instintos jornalísticos se alinham por gravidade com as causas da esquerda. Está ciosa de identificar em Bolsonaro escândalos que correspondam ao estereótipo criado em torno dele.

O dilema é real, pois tanto Bolsonaro quanto Trump usam as deficiências da imprensa em benefício próprio. Sabem que tuítes escandalosos despertarão reação. Sabem que a concorrência entre os veículos para atrair audiência tornará sua cobertura inevitável. Conseguem, dessa forma, pôr temas irrelevantes no centro do debate nacional.

É uma estratégia descrita pelo linguista americano George Lakoff no livro Don’t think of an elephant, de 2004. Quando alguém afirma “não pense num elefante”, a primeira coisa que vem à mente de quem ouve é um elefante. O efeito é exatamente o oposto ao desejado. De modo similar, quando a imprensa noticia um tuíte, ainda que para criticá-lo, amplia sua repercussão e faz com que todos pensem no elefante no meio da sala.

Quanto mais criticável e escandaloso for o tuíte, quanto mais repulsa ou revolta despertar nos pretensos bons sentimentos dos jornalistas, maior a chance de que seus autores consigam seu objetivo. Quanto mais editoriais, artigos ou chamadas dedicadas ao assunto em primeiras páginas, melhor para eles.

Qualquer atenção à mensagem, mesmo para checá-la ou criticá-la, só contribui para amplificá-la. “Jornalistas poderiam, se quisessem, ignorar os tuítes presidenciais”, afirmou Lakoff em entrevista ao Vox.

Não é uma opção tão simples, pois não há como evitar o comportamento de manada, instintivo diante de uma declaração ou tuíte sob medida para chocar. Numa versão menos radical, a sugestão de Lakoff é relegar a tais assuntos espaço menor nos jornais ou até deixá-los de lado na cobertura televisiva. “Documente-os, mas não dê a eles o poder de eclipsar notícias importantes”, escreveu no Medium.

Ele compara o uso do Twitter à tática de trombadinhas, ilusionistas que tentam desviar a atenção da vítima enquanto lhe surrupiam a carteira. A imprensa americana se revelou uma perfeita otária diante dos tuítes de Trump. A brasileira demonstrou, nesta semana, não ser muito diferente.

O brasileiro precisa conhecer mais detalhes do escândalos dos laranjas do PSL, da relação entre o agora condenado Paulo Preto e o peessedebista Aloysio Nunes com o ministro Gilmar Mendes e, sobretudo, das chances de aprovação da reforma da Previdência. Era a isso que os jornalistas deveriam dar prioridade, tanto em seus veículos quanto nas redes sociais. Do contrário, apenas contribuem para aumentar o volume do diversionismo de Bolsonaro.

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