Texto: professor Juliano Varela
A II Semana de Humanidades do Campus Ouricuri nasce das reverberações de sua primeira edição, realizada entre 5 e 7 de dezembro de 2017, e no bojo de inúmeras inquietações observadas, por meio do exercício da docência, em alunas e alunos da escola.
A I Semana trouxe uma oportunidade de construção e de ocupação de espaço político e simbólico, dentro de uma instituição de ensino técnico e tecnológico, voltada para o debate de questões sócio-históricas e filosóficas de extrema relevância à compreensão da realidade brasileira. Com o tema “As humanidades nas artes: seus diálogos e intercâmbios”, o evento proporcionou o acesso da comunidade a um debate sobre como a arte-educação é capaz de oportunizar leituras de mundo e conhecimentos a respeito de nossa própria existência, de nossas trajetórias sociais.
A partir do entusiasmo gerado em torno da I Semana, erigiu em servidoras, servidores, alunas e alunos um forte desejo de continuar construindo esse espaço. Tal entusiasmo se consolidou quando, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, celebrado no Campus Ouricuri no dia 25 de abril de 2018, foi apresentado o espetáculo feminista “Processo Medusa” (Cia Biruta de Teatro/Petrolina-PE) e, em seguida, realizada a mesa redonda “Os desafios da luta feminista na contemporaneidade”. O debate foi instigante!
Ambos os eventos descortinaram uma demanda que há muito estava reprimida na instituição: debater, de maneira mais ampla e sistemática, questões relacionadas às violências e opressões que determinados grupos sociais enfrentam cotidianamente no Brasil. Quando se atrela isso ao atual cenário de ultraconservadorismos e fundamentalismos que o país vivencia na contemporaneidade, e a escola não escapa dos ataques dessas manifestações, percebe-se a urgência em trazer à tona tais questões.
Nesse contexto, nasce a II Semana de Humanidades. Com foco nas juventudes sertanejas, o evento traz como mote as suas metamorfoses/transformações vivenciadas nesses tempos turbulentos. A escolha em se abordar as questões das/os jovens não se deve somente ao fato destas/es serem o principal público atendido pela Instituição, mas, sobretudo, por ser uma das parcelas da população brasileira mais impactadas pelos efeitos da desigualdade social, do medo, da violência e da onda ultraconservadora que invadiu o país.
E não somente isso, a sala de aula, a pesquisa e a observância aos movimentos sociais existentes na região têm mostrado a professoras/es temas urgentes que dizem diretamente respeito à vida das/os jovens, como: a luta pela formação profissional, a relação friccional entre juventude rural e juventude urbana, a convivência com o semiárido, a ausência de políticas públicas específicas, a incompreensão do que seja uma educação para o campo, a precariedade dos espaços públicos urbanos de convivência, a luta pela vida nas periferias das cidades sertanejas, o preconceito à juventude LGBTI+, o feminicídio e a cultura do estupro, o racismo que a juventude negra vivencia, a luta que a juventude indígena trava todos os dias ao longo de séculos para garantir seu território, dentre tantos outros.
Assim, o tema desta II Semana de Humanidades do Campus Ouricuri é “Juventudes sertanejas e suas metamorfoses contemporâneas”. Com o objetivo de “promover um debate aberto e plural sobre a diversidade e as transformações que envolvem esse segmento, com foco em questões contemporâneas urgentes no que tange à história, à cultura, à política e aos direitos humanos no Brasil”, o evento será realizado, de 27 a 30 de novembro de 2018, em conjunto com o Centro Nordestino de Medicina Popular (CNMP/Recife-PE), parceria estabelecida também a partir dos resultados da nossa primeira edição.
Desse modo, espera-se consolidar este momento do calendário escolar do IF Sertão PE – Campus Ouricuri como um espaço destinado ao debate consistente, pois alicerçado nos fundamentos das ciências humanas e das artes, a respeito dessas e de outras questões postas neste cenário caótico e conturbado da história brasileira, visando o delineamento de uma dinâmica onde a liberdade, a democracia e os direitos humanos possam ser radicalmente respeitados.
