Sobre o episódio da polêmica divulgação dos áudios de conversa entre Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, o magistrado disse que não esperava tanta repercussão
Por Estadão Conteúdo / Foto: EFE/David Fernandez
Sobre o episódio da polêmica divulgação dos áudios de conversa entre a presidente cassada da República Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o magistrado disse que não esperava tanta repercussão
O juiz responsável pelas ações da Operação Lava Jato na primeira instância da Justiça Federal, Sérgio Moro, disse nesta segunda-feira, 27, que não lhe ocorre nada de muito significativo na condução do processo de julgamento de um dos maiores escândalos de corrupção do País que o faria agir diferentemente da forma com a qual se procedeu até agora.
Moro fez a afirmação ao ser indagado durante o evento “Páginas Amarelas ao Vivo” da Revista Veja se existia alguma coisa da qual se arrepende ao longo da sua atuação na Lava Jato. “Estou especialmente tranquilo com tudo o que fiz”, disse o juiz.
Sobre o episódio da polêmica divulgação dos áudios de conversa entre a presidente cassada da República Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o magistrado disse que não esperava tanta repercussão. “A divulgação dos áudios foi controversa. Não esperava tanta celeuma, mas fiz o que a lei exigia e era necessário”, disse Moro.
Para ele, o diálogo entre os dois ex-presidentes não era conversa republicana e que entendeu naquele momento que a sociedade precisava ter conhecimento do teor daquelas gravações.
“O problema não foi a divulgação, foi o conteúdo do diálogo”, disse acrescentando que não divulgá-lo seria como se a suprema corte americana tivesse deixado o ex-presidente norte-americano Richard Nixon ficar com as fitas no Watergate, o escândalo político ocorrido na década de 1970 nos Estados Unidos que, ao vir à tona, acabou por culminar com a renúncia do presidente eleito pelo Partido Republicano.
“Havia interesse público na divulgação daquele diálogo”, disse Moro. Ele ponderou, no entanto, que o Judiciário é uma instituição humana conduzida por humanos e, portanto, sujeito a erros. Mas emendou que o importante é que os juízes procurem sempre agir em conformidade com a lei. “Juiz pode cometer erros, o importante é agir conforme a lei”.
Perguntado sobre o fato de ter voltado atrás na recusa de andar com segurança após ter determinado a condução coercitiva do ex-presidente Lula, Moro disse que fez depois de ter ataques inclusive contra sua família. “Não esperava alguns ataques sujos por conta desses processos que envolvem políticos. Existe tentativa de diversionismo. Ao invés de discutirem minhas responsabilidades, atacam os responsáveis pelo processo”, disse
“Não vou ficar me incomodando com mentiras”, afirmou.
Ao ser provocado novamente a falar sobre o ex-presidente, Moro disse que o único processo a que Lula responde é o caso que ele julgou e que se encontra em fase de apelação em segunda instância. “Podem absolver como manter a condenação. Minha sentença já prolatei. O caso está em outras mãos, certamente melhores que as minhas.”
Sobre as críticas de alguns setores da sociedade a um excesso de cuidado do juiz no caso Lula, Moro disse que todo caso criminal de grande dimensão envolve cuidado.
“Não só o dele como também do ex-presidente da câmara Eduardo Cunha. Não me sinto confortável em falar do caso dele que tem discussão política. Tudo que tinha para dizer sobre esse caso está em minha sentença”, disse.