A negociação vai passar por uma reorganização do poder. Principalmente as filiadas da estatal continuam sendo importantes cabides políticos
Folha de S.Paulo – Thais Hirata e Nicola Pamplona
A privatização da Eletrobras dificilmente passará no Congresso até 2018. Caso passe, será porque o governo aceitou pagar uma conta alta para as bancadas estaduais e caciques políticos que ainda controlam as indicações da estatal.
A avaliação é de analistas, empresários e representantes de entidades do setor elétrico, que veem um cenário adverso para a privatização da empresa com a proximidade das eleições e resistência forte dentro da Câmara e do Senado, tanto na oposição quanto na base.
“A negociação vai passar por uma reorganização do poder. Principalmente as filiadas da estatal continuam sendo importantes cabides políticos”, diz o diretor de estratégia da consultoria política Arko Advice, Thiago Aragão.
A moeda de troca poderá vir em forma de cargos em estatais de outros setores e projetos menores de infraestrutura, inclusive as do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), segundo analistas.
Ainda assim, parte dos representantes do setor duvida que a privatização da companhia saia antes da disputa eleitoral do ano que vem.
No Congresso, foram criadas duas frentes parlamentares contra a privatização. A primeira, direcionada à Chesf, é liderada pelo deputado Danilo Cabral (PSB-PE) e reúne parlamentares do Nordeste; a segunda tem foco em Furnas e é comandada por Leonardo Quintão (PMDB-MG).
Juntas, as duas frentes somam 353 deputados e dois senadores —alguns deles participam de ambas. Para ter uma ideia do poder de fogo desse grupo, a reforma da Previdência precisa ter o aval de pelo menos 308 deputados para passar na Câmara.
A resistência é suprapartidária. A maior parte dos integrantes vem de partidos da base do governo na Câmara: 41 são do PMDB; 14, do DEM; 19, do PSDB; 27, do PP; 23, do PSD; 26, do PR; e 16, do PRB. A esse grupo se unem filia-dos de partidos da oposição: o PT tem 48 integrantes, e o PSB, 26.
“Não acredito que [a privatização] prospere. E se prosperar, ainda tem a alternativa de recurso no Judiciário”, afirmou Cabral, deputado que lidera a frente da Chesf.
“A empresa precisa de ajustes, não estamos defendendo a má governança, mas estamos entregando a caixa-d’água do Nordeste a uma empresa privada.”
Nove governadores do Nordeste enviaram carta ao presidente Michel Temer questionando a proposta, segundo Cabral, que reforça a “forte presença da base governista” na frente parlamentar.
“Então é claro que esse plano não pode ir adiante. O governo já recuou, propondo um projeto de lei em vez de uma medida provisória.”
Segundo Quintão, a bancada mineira vai “lutar até o fim” para evitar a privatização de Furnas. “Não se pode entregar esse patrimônio por um preço irrisório.”
Ele, no entanto, admite negociação: “Somos favoráveis ao debate sobre o modelo de gestão. [A União] pode manter o controle da Eletrobras e atrair sócios minoritários. Isso não seria uma barreira”.
A forte participação de peemedebistas na resistência tem raízes históricas, já que grandes nomes do partido —como José Sarney, Jader Barbalho e Romero Jucá— são apontados como os maiores influenciadores da Eletrobras e suas subsidiárias.
Segundo analistas do setor, embora influência política siga forte, a interferência na empresa diminuiu no último ano, principalmente pela atuação do atual presidente, Wilson Ferreira Jr.