Por Geraldo Eugênio*
No dia cinco de dezembro de 2024 o Jornal do Sertão publicou a coluna de Agronegócios anunciando as primeiras chuvas de trovoadas ocorridas no Pajeú em quatro de dezembro. Com um pouco de atraso em relação à temporada passada, mas ainda em bom tempo. Comentava-se ainda que no Sertão de Itaparica, Sertão do São Francisco e Sertão do Araripe as precipitações haviam sido mais volumosas. Passou-se o mês de dezembro, iniciamos janeiro e já estamos na segunda semana. Ao que parece ocorreu uma distração e as nuvens demoraram em algum outro local, nos deixando apenas a aguardar e torcer pelo dia que retorne à sua trilha e chegue logo ao nosso Sertão.
Esse desvio de planos nos tem custado caro. As temperaturas, aproveitaram-se da ausência das chuvas e estão deitando e rolando. Passando esta semana em Pão de Açúcar, município ribeirinho alagoano do Rio São Francisco, conhecido como um dos mais quentes da região, o dono da pousada, o senhor Manoel melhor conhecido como Preto comentou que em algum momento as temperaturas chegaram aos 52 graus centígrados. Um pouco mais e daria para se fritar os ovos no terreiro sem a necessidade de aquecedor, mas ao falar com a vizinha, dona Germana, aqui em Serra, ontem, ela nos informou que ao entrar em seu carro o calor atingia 46 graus. Isto é, com um pouco de esforço chegaremos ao nosso Pão de Açúcar. Para completar a saga da semana, recebemos um casal capixaba que pela primeira vez conhecia o Sertão. Não falaram claramente o que pensaram mas suspeito de que consideraram nosso Sertão um ambiente nem tão amigável.
Não deixa de ser verdade, mas entre o calor seco e o calor úmido do litoral, prefiro o nosso. Em Recife, durante o verão quando nem todos os carros contavam com refrigeração costuma andar encharcado de suor. Um desconforto de tal grandeza que ao fazer a visita em uma empresa, minha condição era tão lastimável que um amigo providenciou uma camisa para que substituísse a que usava.
A expectativa
Durante a coluna de dezembro foi comentado a espera de La Niña, o fenômeno que se traduz no esfriamento das águas do oceano Pacífico e que, normalmente, se reflete em períodos mais secos na região Sul Sudeste e mais chuvosos no Nordeste. La Niña, tal qual as nuvens não seguiram o caminho traçado e estão nos deixando a sempre prever, toda manhã, de que a chuva está próxima. Hoje, nove de janeiro de 2025, às 00:30 minutos, a temperatura se encontrava em 27 graus centígrados, forçando as pessoas a permanecerem em suas calçadas até mais tarde. Os ventiladores não davam conta de arrefecer a casa e continuavam soprando aquele bafo quente e sufocante.
Quero crer que as previsões meteorológicas possam estar corretas que La Ninã dê a cara e que logo mais tenhamos a chuva aguardada. Um dos sites de previsão de tempo e clima informa que amanhã à noite, dez de janeiro de 2025, há uma probabilidade de 60% para que a chuva volte a cair. Uma grande notícia.
Nossa irmã, seca, está se preparando para uma nova temporada
Como é importante considerar a seca como uma irmã, de difícil convivência mas que sempre estará conosco, que peça a ela para ter calma e que não se apresse em sua visita. Podendo demorar um pouco em outros afazeres, o sertão agradece. Por outro lado é sempre bom lembrar que sendo sangue de nosso sangue, o respeito e o tratamento devem ser irreparáveis. Ela apesar de não ser conhecida pelos bons modos sempre nos dá lições valiosas em todas suas visitas. A verdade é que nem sempre aproveitamos ou entendemos esses ensinamentos, mas o correto é fazê-lo uma vez que ela sempre lembrará de sua existência.
Enquanto isso, preparemos o solo para plantio
Enquanto aposta-se na chuva que vem hoje ou amanhã, providências devem ser tomadas para o novo ciclo de cultivo. Aqui na UFRPE-UAST e na Estação do IPA de Serra Talhada testam-se cereais como o sorgo, o milheto e o milho em condições de sequeiro com preparo tradicional do solo, principalmente a gradagem e, o mais recomendado, o plantio direto. Foram iniciadas a passagem da grade em uma área com alta infestação de mussambê visando mais do que revolver a terra e expô-la à erosão, o controle das ervas invasoras. Dissecando as plantas antes do florescimento evita se contar com uma população elevada quando do semeio dos cereais. Fábio, nosso tratorista também está arando a área que é destinada ao plantio direto. Por falta de um subsolador, o que permitiria quebrar uma camada de solo compactada que existe entre 30 e 50 centímetros de profundidade se adota o arado a espera de que seus discos possam penetrar ao redor de 40 centímetros, destorroando esta área endurecida e que evita a penetração de água e das raízes.
Em nosso último passeio nos sertões do São Francisco, Itaparica e Pajeú são poucas as áreas que são vistas sendo preparadas, destacando-se algumas brocas, que é a limpeza do que resta de caatinga a base de fogo. Não se assustem. Esta é uma prática que nem sempre é criminosa. Milenarmente o homem fez uso dela para auxiliar a agricultura. Ainda hoje faz em países ricos e até é ensinado o manejo do fogo em algumas universidades. Diferente do incêndio em áreas florestais para burlar a legislação e desmatar grandes extensões. Em algum momento esta tecnologia será comentada com mais detalhes.
Que as sementes estejam à postos para serem lançadas ao solo. Toda água de chuva não utilizada adequadamente é uma perda que não se recupera. O agricultor nordestino sabe muito bem do que falo.
*Professor Titular da UFRPE-UAST