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A beleza da feiura

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Foto: reprodução facebook

Por Adalberto Pereira*

O jornalista acordou ao som do despertador de toque tão extravagante que era capaz de acordar quase toda a vizinhança. Ele precisava chegar cedo à redação para fazer o editorial do dia. O toque do despertador lançou-o fora da quentura do lençol e colocou um fim a um sono bastante agradável.

Levantou-se, esfregou os olhos, abriu a boca e permaneceu sentado na cama por alguns minutos. Parecia que o sono ainda não o largara. Aproveitou para pensar no tema para o seu editorial. Mas cadê a inspiração? Precisava de um tema que causasse impacto. Isso para ele não era problema, pois era o que sabia fazer e muito bem. Por alguns instantes tentou colocar o cérebro para funcionar, mas nada dava certo. O que fazer, então?

Ainda meio cambaleante e quase vencido pela desilusão dirigiu-se ao banheiro. Diante do espelho, achou-se horrível. Era o que faltava! Como se não bastasse a falta de inspiração, agora se achava um verdadeiro “farrapo humano”. Como estou terrível! Assusta-me este rosto de múmia mal tratada! – Murmurou ele, como se estivesse diante de um estranho indesejável.

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Bem! Não adianta procurar inspiração onde só existe figuras fantasmagóricas: ele e sua feiura. Resolveu esquecer pelo menos por um momento, enquanto se preparava para o novo dia. Tomou um banho, se deliciou com um gostoso café da manhã e saiu para o emprego, sempre acompanhado pela sensação de “múmia ambulante”.

A caminho do jornal, ainda levado pelos pensamentos lúgubres, ouviu uma voz: “Ôi, lindo! Bom dia!”. Era uma voz feminina. Meio desconfiado, olhou para os lados e notou que só havia ali dois personagens: ele e a dona da voz misteriosa, que confirmou a sua presença: “É você mesmo, lindão!”. Ele fez um sorriso meio tímido, acenou para a jovem desconhecida e seguiu o seu destino.

E agora? Estaria ele sonhando? Justamente no momento em que se achava um “espantalho”, aparece uma garota, vinda não sabia de onde, para chamá-lo de lindo? Mais preocupado do que antes, nem notou que já chegara na redação do jornal.

Na entrada, a saudação da recepcionista: “Bom dia, Juvenal! Pelo jeito, sua noite foi bastante abençoada! Você nunca esteve tão bem!”. Mais um motivo de preocupação.

Teve vontade de voltar e perguntar o que se aproveitava naquele corpo estraçalhado pelos sentimentos negativos.

Entrou na sala e, ao passar pelo chefe de redação, outra inesperada surpresa: “Bom dia, Juvenal, pelo jeito, o editorial de hoje vai ser um ‘estouro’“! Com essa cara de felicidade, só pode estar bastante inspirado! Já tem o tema do editorial?

Ele olhou para o chefe com um olhar de indiferença, deu um longo suspiro e respondeu:

Sim! Acabo de receber uma mensagem divina! O tema da edição de hoje será “A BELEZA DA FEIURA”, chefe! Juvenal nunca recebeu tantos elogios pelo editorial!

Até hoje, ele não entendeu como uma feiura pode se revestir de tanta beleza.

*Jornalista, professor e ex-gerente da Rádio Grande Serra AM de Araripina

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