Quando as palavras não são tão dignas quanto o silêncio, é melhor calar e esperar. Mas Lula não calou nem esperou a hora certa de expressar o sentimento de dor que corrói seu coração.
Por Magno Martins / Foto: reprodução
No enterro de Marisa Letícia, a sua galega que Deus levou aos 66 anos, o ex-presidente Lula deveria ter seguido o sábio conselho de Leonardo da Vinci, que disse que as mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio. O silêncio é a mais perfeita expressão de reverência a alguém que morre. Tem um provérbio árabe que dá exata tradução do culto ao silêncio num funeral de alguém amado que embalou a última viagem: “A palavra é prata, o silêncio é ouro”.
Quando as palavras não são tão dignas quanto o silêncio, é melhor calar e esperar. Mas Lula não calou nem esperou a hora certa de expressar o sentimento de dor que corrói seu coração. Ali mesmo, prostrado ao caixão da amada, disse em público, como se tivesse num comício, que ela morreu triste com a maldade que fizeram com ela, referindo-se à operação Lava Jato. Em respeito ao sofrimento da família, os aliados também deveriam silenciar.
Mas preferiram jogar mais lenha na fogueira. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que também meteu a mão na grana da Petrobrás, instigou: “Não é exagero dizer que mataram dona Marisa”. Ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho foi na mesma linha: “Essa morte prematura está muito ligada a esse clima de ódio que existe no País”. Chorando, Lula completou: “Que os fascistas que fizeram isso com ela tenham coragem de pedir desculpas”.
Respeito à dor de Lula, mas não tem nenhum fascista por trás disso. Lula não está sendo investigado e nem foi denunciado por um só fascista, como diz. O que pesa contra ele é uma operação conjunta do Ministério Público, da Polícia Federal e da Justiça brasileira. Quanto à Marisa, esta, como Lula, é acusada de ocultar um tríplex no Guarujá, que teria sido reformado pela construtora OAS, e também de ter sido beneficiada pela compra de um apartamento em São Bernardo do Campo, pela Odebrecht, mas que não estão, oficialmente, em nome deles.
Ela ainda é citada em investigações relacionadas a um sítio em Atibaia, para o qual teria comprado dois pedalinhos, de R$ 5,6 mil reais no total. Ao acusar seus oponentes, diante do caixão de quem tanto amou, Lula transformou os funerais da sua galega num palanque, o que é lamentável. Disse bobagens, quando deveria ter silenciado. Entre os deslizes, afirmou que não era ele que teria que provar ser inocente. “Eles é que vão ter que parar com as mentiras”, afirmou.
Mas onde está a mentira? Nos cinco processos que virou réu, não tem uma só acusação de adversário político a Lula, mas um claridão aberto aos olhos do MP que levaram a Polícia Federal a desvendar o maior escândalo da história do País, o mais retumbante assalto aos cofres públicos que a República assistiu. E com ingredientes tão fortes que podem levar Lula à cadeia, destino de medalhões empresariais que ninguém imaginava.
Confúcio dizia que o silêncio é um amigo que nunca trai. Se Lula soubesse quantas e quantas vezes as palavras são mal interpretadas, teria se despedido de sua amada no silêncio. Como a abelha trabalha na escuridão, o pensamento trabalha no silêncio e a virtude no segredo. Deixo, por fim, a lição de Khalil Gibran, filósofo, ensaísta e espiritualista libanês: “Aprendi o silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos; e, por estranho que pareça, sou grato a esses professores”.