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Lula depende de Boulos para escapar de vexame eleitoral completo

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Foto: Zanone Fraissat/ Folhapress

Por Folha de São Paulo

A lavada tomada pela esquerda no primeiro turno da eleição municipal neste domingo (6), diz a máxima dos políticos, não deve ser tomada como uma predição do que vai acontecer em 2026 em nível federal. Mas o presidente Lula (PT) tem motivos de sobra para se preocupar.

Se o seu partido já entrava na disputa como coadjuvante, o fracasso nas capitais cristaliza um cenário que começou a se desenhar no pleito de 2016, ano do impeachment da petista Dilma Rousseff.

Após ser humilhado em 2020 em São Paulo, cidade em que o PT disputou com a centro-direita o comando ao longo de duas décadas, Lula deu a Guilherme Boulos (PSOL) a missão de confrontar o bolsonarismo e antecipar o clima de 2026.

Não deu certo, pelos motivos conhecidos: a divisão dos conservadores, um terço com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e outro terço, com o radical livre Pablo Marçal (PRTB), o Bolsonaro da vez, em versão aditivada.

O segundo turno pode até acender a chama da polarização, o tempo de TV é igual para todos, mas o fato é que Boulos tem um Kilimanjaro à sua frente. É virtualmente impossível que os 28% de votos válidos que quase levaram o fraudulento influenciador ao segundo turno migrem para o deputado do PSOL.

Ainda assim, nesse cenário difícil, sobrou a ele a missão de livrar a cara da esquerda lulista nesse pleito. O PT só foi ao segundo turno em quatro capitais, incluindo São Paulo, com chances duvidosas.

Alguém poderá sacar as vitórias acachapantes de João Campos (PSB), em Fortaleza, e do “rei do Rio” Eduardo Paes (PSD), mas eles são aliados de Lula com agendas próprias.

O fato de Gilberto Kassab (PSD) ser o grande vitorioso do domingo diz muito: o secretário de Governo do bolsonarista que governa São Paulo pode ser também dono de um minifúndio no governo Lula, mas ninguém poderá o chamar de um nome da esquerda.

Se Boulos conseguir de alguma forma ganhar, o presidente cantará vitória, mas suas agruras seguirão as mesmas. A falta de um discurso que penetre o reduto bolsonarista dos evangélicos e a paixão fulminante da Faria Lima por um tipo como Marçal são exemplos da desconexão de Lula com o eleitorado.

Ela se vê de formas mais anedóticas, como os clichês anos 1970 que adota para sua base, mas vai além. Seu governo até aqui apresentou um cardápio de ideias recicladas das gestões dos anos 2000.

A avaliação razoável de Lula decorre de sua figura, a mais popular do Brasil, ainda que Bolsonaro rivalize, e do fato de que a economia se mantém sem sobressaltos.

Mas isso parece insuficiente para repetir 2022, quando o grau de ameaça institucional que Bolsonaro representava de fato levou um eleitorado que não apoiaria Lula normalmente a escolher o petista. Essas pessoas apertaram o 13, mas não fizeram o L.

Em dois anos, Lula precisará fazer algo para conectar-se às classes médias urbanas, que em cidades como São Paulo pesam tanto quanto os periféricos tão festejados pelos candidatos, e aos evangélicos. Nada em seu arsenal parece lhe garantir isso, e a falta de mediadores na figura de prefeitos aliados e populares não lhe facilitará o jogo.

O clichê das eleições nacionais/municipais vem sendo desafiado desde 2018, como a ausência de debate sobre temas da cidade no “telecatch” apresentado ao paulistano neste ano prova.

Assim, sem um sucessor ungido e viável, Lula caminha por ora sozinho para descobrir qual campo de direita irá enfrentar em 2026.

Se Nunes levar em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ganhará ainda mais musculatura, e isso deverá atrair o distante Bolsonaro do primeiro tuno, cioso em manter seu papel de líder do bloco, ainda que inelegível.

Mesmo Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), que há 35 anos marcou meros 0,72% dos votos no primeiro turno da estreia das eleições presidenciais pós-ditadura, surge como ator de peso relativo como nome do agro. Isso para não falar no bolsonarismo explícito ou nas mutações do gênero, como Marçal.

Por óbvio, 2026 é no século 22 na distorção temporal da política. Ao mesmo tempo, respeitando a relatividade, ele já começou.

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