Editorial / Grupo Folha
A nova escalada da cotação do dólar, que atingiu R$ 5,69 na sexta-feira (30) e recuou depois para R$ 5,61 devido à intervenção do Banco Central no mercado, é sintoma de mais um rodada de perda de credibilidade da política econômica.
O BC vendeu US$ 1,5 bilhão à vista, montante anunciado na noite anterior para fazer frente a uma saída pontual de recursos —uma prática que, em momentos assim, nada tem de anormal.
Entretanto, com a insistência da cotação em subir durante a manhã, acabou vendendo mais, o equivalente a US$ 765 milhões em contratos de swap cambial, um tipo de contrato que dá aos compradores proteção ante uma alta da moeda americana.
Não foi apenas o dólar que voltou a assustar. Juros de mercado também dispararam, já incorporando aumento de ao menos 1,5 ponto percentual, para 12% ao ano, da taxa Selic nos próximos meses. Juros de prazos mais longos também continuaram a subir.
A razão de fundo da desconfiança, como sempre, são as contas públicas em descontrole. A economia em ritmo relativamente forte até impulsiona a arrecadação de impostos, mas os gastos públicos crescem ainda mais. Nos últimos 12 meses, a despesa aumentou cerca de 15% acima da inflação, recorde na série histórica.
Como resultado da conduta irresponsável que emana do Planalto e de seu núcleo político, as finanças públicas tiveram em junho novo déficit histórico. Em 12 meses, o rombo ficou em R$ 257,7 bilhões, sem os juros, e R$ 1,128 trilhão (exorbitantes 10,1% do Produto Interno Bruto), incluindo os encargos da dívida.
Apesar da retórica para incautos, nota-se que quem mais beneficiou rentistas nos últimos anos foram administrações petistas.
O resultado é a rápida elevação da dívida, de 4,1 pontos percentuais neste ano, para 78,5% do PIB. Neste ritmo, já não se pode descartar que o endividamento venha a superar os piores momentos da pandemia de Covid-19 até o final do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O governo insiste em buscar mais receitas, mas tem sido rechaçado pelo Congresso. Passa da hora de enfrentar seriamente os gastos. Promessas de controles pontuais, como o pente-fino em programas sociais, não bastarão. Será preciso avançar em medidas estruturais, mas até aqui o Planalto não mostra intento de seguir nessa direção.
O expansionismo fiscal é parte da explicação para o crescimento mais acelerado da economia e da demanda, além do potencial, o que tem elevado a inflação para mais de 4%, em trajetória de distanciamento das metas.
É daí que vem a justificativa, a esta altura correta, para o aumento da Selic, em desalinho ao que se espera no exterior.
O ambiente se torna mais incerto com a perspectiva de troca de comando em um BC que precisa ajustar sua comunicação. A confusão permeia todo o governo, que parece à deriva em meio às tempestades que ajuda a criar.