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Países reforçam seus arsenais nucleares em meio ao aumento de conflitos no mundo

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Foto: reprodução

Por Caroline Marins / Estadão

Nunca estivemos tão perto da destruição da humanidade, segundo o relógio do Juízo final, que desde o ano passado diz que faltam 90 segundos para a meia-noite. Ao mesmo tempo que o mundo bate recordes em quantidade de conflitos ativos, os países que possuem armas nucleares disparam uma nova corrida armamentista ao atualizar seus arsenais e deixá-los pronto para uso imediato.

Estados UnidosRússiaChinaPaquistãoÍndiaReino UnidoIsraelFrança Coreia do Norte vêm aumentando o número de ogivas nucleares implantadas, segundo monitoramento da Federação de Cientistas Americanos (FAS).

Por “implantadas” se entende como as ogivas já instaladas em mísseis ou prontamente disponíveis em instalações militares para serem utilizadas rapidamente. Diferente das ogivas armazenadas, que requerem tempo para serem preparadas e colocadas para uso.

Ao contrário das implantadas, as ogivas armazenadas têm caído devido ao desmantelamento dos arsenais de EUA e Rússia da época da Guerra Fria. “Se você olhar os números totais de ogivas, eles estão caindo, o que dá a impressão de que as coisas estão indo bem, e não estão”, alerta Matt Korda, diretor associado do Projeto de Informação Nuclear na FAS.

 

Kim Jong-un dando orientações de campo nas principais fábricas de armas da Coreia do Norte
Kim Jong-un dando orientações de campo nas principais fábricas de armas da Coreia do Norte Foto: KCNA

“O número de armas nucleares em estoques militares, que são aquelas armas que podem ser usadas em um conflito, estão aumentando e não estamos vendo isso acontecer apenas com os suspeitos de sempre, como China e Coreia do Norte, mas também, com o Reino Unido, Índia e Paquistão. Estamos vendo isso acontecer em toda parte com a maioria dos países detentores de armas nucleares.”

Ao todo, os nove países possuem 12.121 ogivas, das quais 9.585 estão em estoques militares e dessas, 3.904 estão implantadas em mísseis e bombardeiros. Cerca de 2.100 ogivas dos EUA, Rússia, Reino Unido e França estão em alerta máximo e podem ser utilizadas em um curto espaço de tempo.

“Conforme os anos passam, provavelmente vamos ver esses estoques continuar a crescer e estamos vendo que os países estão reagindo às coisas que outros países estão fazendo e é quase como se todos estivessem presos em um tipo de corrida armamentista multipolar”, observa Korda, que já atuou no Centro de Controle de Armas, Desarmamento e Não Proliferação na sede da Otan.

Esses números são estimativas feitas pela FAS com base em levantamento de notícias, documentos oficiais e imagens de satélite, já que a maioria desses países não divulga informações sobre seus arsenais nucleares alegando segurança nacional. Apesar do acordo New Start entre as duas maiores potências nucleares, EUA e Rússia deixaram de compartilhar dados sobre suas ogivas implantadas.

Os números de hoje ainda são bastante distantes das mais de 70 mil ogivas que haviam no mundo durante o ápice da Guerra Fria em 1986, uma redução drástica que pode ser atribuída aos acordos de controle de armas do pós-guerra.

Hoje o mundo retornou à quantidade de ogivas que existiam em 1950, na esteira da corrida entre EUA e Rússia para desenvolver suas primeiras bombas. Porém, a comparação entre os dois períodos seria “o mesmo que comparar maçãs com laranjas”, argumentam os pesquisadores da FAS em seu último relatório sobre o status nuclear mundial, já que “as forças de hoje são muito mais capazes.”

As forças russas durante exercícios ordenados pelo presidente Vladimir Putin para simular a preparação para o lançamento de armas nucleares táticas na Ucrânia
As forças russas durante exercícios ordenados pelo presidente Vladimir Putin para simular a preparação para o lançamento de armas nucleares táticas na Ucrânia Foto: Ministério da Defesa da Rússia

Um mundo em conflito

Essa corrida armamentista nuclear acontece em um momento em que a diplomacia perdeu espaço para novos conflitos e guerras cada vez mais destrutivas. Em 2023, o número de conflitos envolvendo forças de Estado atingiu o recorde de 59 contra 55 do ano anterior, segundo o Programa de Coleta de Dados de Conflitos da Universidade de Uppsala, na Suécia.

Por outro lado, o número de mortes em combates no mundo caiu no ano passado, com 154 mil registros contra os mais de 310 mil de 2022, ano mais letal desde o genocídio de Ruanda. Essa queda é atribuída ao fim do conflito na Etiópia, até então considerada a “pior guerra do mundo” em termos de letalidade.

Nestes dois anos, duas novas guerras surgiram envolvendo dois países nucleares: a guerra na Ucrânia, em que Moscou possui as armas, e o conflito em Gaza, com Israel sendo a nação nuclearizada embora esconda essas informações.

Justamente na guerra da Ucrânia que a perspectiva de um conflito com armas nucleares ressurgiu, já que Vladimir Putin constantemente ameaça utilizar seus armamentos táticos. No momento mais tenso da guerra até agora, Moscou realizou exercícios com armas nucleares táticas na fronteira da Ucrânia.

“Não vemos armas nucleares desempenharem um papel tão proeminente nas relações internacionais desde a Guerra Fria’, afirmou Wilfred Wan, Diretor do Programa de Armas de Destruição em Massa em relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri) publicado em junho.

“É difícil acreditar que apenas dois anos se passaram desde que os líderes dos cinco maiores Estados armados nuclearmente reafirmaram conjuntamente que ‘uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada’”, completa.

Para agravar, este ano escalou as tensões entre Israel e o Irã, país que está cada vez mais perto de desenvolver sua primeira bomba, segundo análises da Agência Internacional de Energia Atômica.

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