RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – Pré-candidato a vice-prefeito do Recife na chapa de João Campos (PSB), Victor Marques se tornou amigo do prefeito na universidade, quando ambos exerciam o curso de engenharia. O escolhido é homem de confiança pessoal do atual gestor municipal, que poderá ser candidato a governador em 2026.
Com isso, Marques pode vir a ser o primeiro na linha sucessória de Campos caso o favoritismo do prefeito, indicado pelas pesquisas de intenção de voto, seja confirmado nas urnas. Levantamento do Datafolha divulgado em 5 de julho mostra o pré-candidato à reeleição com 75% das intenções de voto.
Poucos dias após ser oficializado, Marques entrou na artilharia da oposição bolsonarista, que tem criticado a possibilidade de um nome do PC do B assumir a Prefeitura do Recife.
Filho mais novo de três irmãos, Marques tem 29 anos e chegou ao Recife em 2009 para estudar, deixando São José do Belmonte, cidade no sertão pernambucano (a 473 km da capital). Estudou os anos finais do ensino médio em dois colégios particulares da capital e depois foi aprovado no vestibular da Universidade Federal de Pernambuco.
Ele é filho do ex-vereador de São José do Belmonte Zezinho Marques -que exerceu quatro vezes a função na Câmara Municipal-, morto em 2017. O irmão Vinicius Marques será o candidato do PSB a prefeito de do município.
Na UFPE, em 2011, conheceu o colega de turma João Campos, filho do à época governador Eduardo Campos (PSB). Meses após começar o curso, Marques trocou a instituição federal pela UPE (Universidade de Pernambuco), que era, na visão dele, mais flexível para o aluno obter estágios, uma das suas vontades.
A troca de faculdade não fez com que a amizade com Campos se rompesse. Em 2014, Marques assistiu junto com ele, no Recife, à entrevista de Eduardo Campos no Jornal Nacional, da TV Globo, na noite anterior à queda fatal da aeronave que matou o ex-governador e outras seis pessoas em agosto de 2014, em Santos (SP), em plena campanha presidencial.
A interlocutores Marques se define como de esquerda e adepto das ideias do campo progressista, mas não se mostra contrário a temas que podem gerar polêmicas com alas deste segmento, como a concessão de parques públicos -que o próprio Campos articula no Recife.
Em encontro com pessoas próximas recentemente, Marques disse acreditar que um dos principais desafios do Recife para os próximos anos será solucionar os problemas de drenagem e alagamentos em meio ao avanço do nível do mar e aos problemas ambientais.
O aspirante a vice no Recife ocupou uma função pública ao lado do hoje prefeito pela primeira vez em 2016, quando assumiu uma assessoria de Campos, que era chefe de gabinete do então governador Paulo Câmara (que era do PSB no período).
Em 2018, Campos foi eleito deputado federal e levou consigo Marques para ser seu chefe de gabinete, função que se repetiu na prefeitura do Recife de 2021 a junho de 2024.
Na prefeitura, Campos delegava a Marques o monitoramento de ações dos secretários, além de fazer a filtragem de projetos e ideias deles antes de serem apresentados ao prefeito. Também fazia a interlocução com vereadores e deputados federais aliados.
No dia a dia, o pré-candidato a vice-prefeito é admirador dos esportes e joga partidas virtuais nas horas vagas.
Marques se filiou ao PC do B em abril, em articulação direta de Campos. Nos bastidores, a entrada no partido foi vista como uma forma de amarrar o PT ao projeto de reeleição do prefeito. Isso porque a legenda petista forma uma federação partidária com PC do B e PV, ou seja, os três precisam estar juntos nas coligações. Assim, o Partido dos Trabalhadores não teria como alçar voo solo.
O PSB argumenta, nos bastidores, que pesquisas internas mostravam que um vice de perfil jovem, similar a Campos, seria o ideal para a composição.
Desde o início, o entorno do prefeito sinalizou que não concordava com o processo colocado pelo PT para pleitear a vice na chapa. O partido acabou preterido após lançar inclusive inscrições internas de nomes para o cargo de vice-prefeito. Segundo aliados de Campos, sem combinar com ele.
O processo de validação de Marques teve o aval definitivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em conversa com Campos no Palácio do Planalto, em 18 de julho. Dias depois, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, foi ao Recife para participar do anúncio de Marques, endossando o nome diante dos integrantes do PT local, que, embora não falem publicamente, ficaram chateados porque o partido foi preterido, apesar do aval de Lula.
Uma das estratégias da oposição será tachar Marques como comunista para afastar eleitores bolsonaristas que cogitam votar em Campos -tal cenário é indicado pela larga vantagem do prefeito nas pesquisas de intenção de voto e pelos 69% de aprovação da gestão dele, segundo o Datafolha.
A campanha eleitoral de Gilson Machado Neto (PL) pretende expor o vínculo de Marques com o PC do B durante a propaganda eleitoral de rádio e televisão. A estratégia é resgatar votos do eleitorado que deu a Jair Bolsonaro (PL) 43,68% dos votos no segundo turno em 2022 -ante 56,32% de Lula, apoiado pelo PSB.
“Muita gente que se dizia conservador e é conservador estava apoiando o atual prefeito. E ontem ele definiu um vice do Partido Comunista do Brasil. Pergunto a você: vai votar num candidato indicado por Gleisi Hoffmann e Lula? Vai apoiar um candidato comunista?”, disse Machado em um vídeo nas redes sociais.
A campanha de Daniel Coelho (PSD) pretende pôr em xeque a capacidade de Marques e quer colocá-lo como similar ao ex-prefeito Geraldo Julio e ao ex-governador Paulo Câmara, que não tinham exercido cargos eletivos antes de serem lançados pelo PSB como candidatos.
Campos só vai definir se será candidato a governador no início de 2026 e vai levar em consideração, segundo avisou a aliados, as condições políticas e a avaliação popular do governo de Raquel Lyra (PSDB), que deverá tentar a reeleição.