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O milho avança no Semiárido

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Foto: reprodução

Por Geraldo Eugênio – Jornal do Sertão

Até cerca de duas décadas a área mecanizada de milho e de soja se limitava ao Sudeste, aos Cerrados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Triângulo Mineiro e Oeste da Bahia. Após a consolidação das áreas mais produtivas, aos poucos os grãos e o algodão alcançaram os estados de Tocantins, Piauí e Maranhão. Crescimento que se deve primordialmente ao desenvolvimento de cultivares mais precoces que, com certo conforto, se adaptaram ao plantio direto e ao sequenciamento de safra de soja e milho safrinha.

O que não se esperava é que, simultaneamente, em um estado de área relativamente pequena na franja oriental do Nordeste  o cultivo do milho estava sendo intensificado, a área de cultivo crescendo como também a produtividade tornando seu cultivo a principal atividade agrícola de Sergipe. Os resultados são tão surpreendentes que utilizando-se dos números do IBGE na safra de 2023, enquanto a produtividade de Pernambuco esteve em 560 quilogramas por hectare, a de Alagoas chegou a 2.200 e, em Sergipe um valor de 5.400 quilogramas por hectare ,superior à média nacional.

Vale comentar o fato de que os números apresentados por Sergipe são lugares comuns em todo o mundo. Da Ásia, passando pela África à América Latina, o produtor de milho tem sido literalmente inundado por novos híbridos, novas práticas culturais, controle biológico, uso intensivo de drones, máquinas e implementos mais eficientes e assim, o milho é considerado como um dos cereais que mais avanços incorporou nas últimas décadas.

Alagoas segue os mesmos passos

Aparentemente, considerando que o que separa Sergipe de Alagoas é o Rio São Francisco e que esse estado  na região Agreste conta com solos tão férteis quanto Sergipe a aderência aos novos sistemas de cultivo não foi automática e por algum tempo a produtividade era inferior a uma tonelada por hectare até que há alguns anos um engenheiro agrônomo, o colega Hibernon, conseguiu demonstrar em áreas demonstrativas de Alagoas que o milho era uma opção comercial viável.

Mais recentemente, através  do Senhor Josimário Florêncio, empresário da empresa Ovo Novo, sediada em Caruaru, conheci o jovem produtor sergipano Gleiton Cristiano plantando uma área de milho de aproximadamente 500 hectares no município de Belo Monte, sertão de Alagoas.

Em contato com Gleiton a quem sempre consulto, ele que no momento sua atividade agrícola se concentra em Japaratuba, Sergipe, mas com certeza o trabalho  desses dois visionários abriu as portas para o que se vê, neste ano de 2024, em Alagoas.

Passei minha infância e adolescência em Arapiraca, quando o cultivo do fumo crescia a cada ano e transformava aquele município na mais dinâmica economia de Alagoas. Em todo o Brasil, falar em Arapiraca era tratar da Terra do Fumo. Para nós, do interior, algo mais realista do que se falar da Terra dos Marechais. A evolução dos hábitos, a redução do consumo de cigarro e o preço da produção alterou definitivamente a paisagem rural do agreste alagoano. Para se ter uma ideia não se consegue imaginar como alguém pode manter-se na atividade quando preço do fumo de corda raramente ultrapassa vinte e cinco reais uma vez que o custo de produção não é inferior a quarenta e cinco reais. Algo absurdo.

A redução do plantio do fumo não freou Arapiraca que conseguiu se redesenhar e passou a ser um centro de excelência em mercado varejo e atacadista, fazendo com que em um raio de cem quilômetros, inclusive municípios próximos à capital, ao se falar de material de construção, alimentos, peças automotivas, roupas e moda o destino do comprador é Arapiraca.

Quanto ao campo, parte das áreas de fumo foi convertida em hortas ou destinadas ao cultivo da mandioca e da palma forrageira. Neste último final de semana, retornando de Alagoas, de Arapiraca à Serra Talhada, pela trilha do Sertão, testemunhei a completa vitória do milho sobre as demais opções. Entre Arapiraca e Batalha, oitenta por cento da área cultivada é coberta com milho, normalmente híbrido, plantado mecanicamente, utilizando-se de herbicida e em boa parte dos casos de drones para o controle de pragas, doenças e ervas, quando necessário. Mesmo após o município de Batalha, no Sertão profundo, o Sertão de Lampião, em direção à Delmiro Gouveia, o que há de cultura agrícola  visível é o milho.

O cenário pernambucano

Coincidentemente a semana passada recebi uma mensagem do Magnífico Reitor da UFAPE – Universidade Federal do Agreste de Pernambuco, Professor Airon Melo, convidando-me para visitar o Agreste Meridional e ver o que tem sido obtido através do programa Grãos de Pernambuco. Uma iniciativa liderada pela iniciativa privada, notadamente os empresários que fazem a AVIPE, o governo do estado de Pernambuco através da ADEPE, então AD Diper, da academia, tomando a liberdade de citar nominalmente a UFAPE e a UFRPE, o IPA, empresas privadas como a Corteva, a Helix e os bancos de fomento, destacando-se o BNB – Banco do Nordeste e o BB – Banco do Brasil.

Estarei em breve, acompanhado com estudantes e colegas da UFRPE-UAST visitando Garanhuns e municípios adjacentes, testemunhando o impulso no cultivo do milho em Pernambuco A Chapada do Araripe do Araripe, no confronto entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí se expande a cada ano. Neste caso, que se reconheça o pioneirismo de Josimar Florêncio, citado, e outros colegas avicultores.

Em pesquisa não há mistério. Somente se colhe o que plantou

Por muito tempo, sempre que se falava em milho para o semiárido vinha a dúvida, uma vez que entre cada dez anos somente em dois ou três se conseguia uma colheita razoável. Isto é, os riscos eram tantos que não havia justificativa para se jogar as fichas nesta roleta. Tudo isto me faz lembrar  de uma conversa, há aproximadamente vinte anos, com ex-deputado federal e naquele momento, diretor da Codevasf, o amigo Clementino Coelho, quando ele deixava claro que em sua visão o futuro do milho no semiárido passaria pelo uso intensivo de tecnologia, em especial novos materiais genéticos. Duvidei das previsões de Clementino Coelho até  acompanhar de forma detalhada o que estava em curso em Sergipe, Alagoas e em Pernambuco, confesso que me rendi às suas previsões e parabenizo-o pelo acerto.

Este é o mundo que nos circunda. Atenção para o que ocorre à nossa volta.

Geraldo Eugênio é Professor Titular da UFRPE-UAST

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