Javier Milei assumiu o país com uma inflação mensal que em dezembro marcava 25,5%. Desde então, o índice foi caindo para 20,6% (janeiro), 13,2% (fevereiro) e 11% (março)
Por Folha de São Paulo
O presidente da Argentina, Javier Milei, anunciou na noite desta segunda-feira (22) que o país alcançou um superávit primário (receitas maiores que despesas, incluindo juros) no primeiro trimestre do ano pela primeira vez desde 2008, de 0,2% do PIB.
“[É um feito] que deve nos deixar orgulhoso como país, em particular dada a herança que tivemos que assumir”, disse Milei em pronunciamento, referindo-se ao antecessor Alberto Fernández.
“O superávit fiscal é a pedra angular a partir da qual construiremos a nova era de prosperidade da Argentina. Ter alcançado esse superávit na Argentina, que teve déficit em 113 dos últimos 123 anos […] é simplesmente uma proeza de proporções históricas a nível mundial”.
Na transmissão gravada, Milei estava acompanhado do ministro da Economia, Luis Caputo, e do presidente do banco central argentino, Santiago Bausili.
O presidente assumiu em dezembro determinado a reduzir a zero o déficit fiscal, uma meta mais ambiciosa do que a imposta pelo próprio FMI (Fundo Monetário Internacional), com o qual a Argentina tem um acordo de crédito de US$ 44 bilhões.
Para isso, Milei empreendeu um ajuste que inclui a paralisação de obras públicas, demissões de servidores, fechamento de dependências do governo, corte de subsídios, aumento de tarifas e congelamento de orçamentos em momentos em que a inflação chega a 290% ao ano e a pobreza afeta metade da população.
“Se o Estado não gastar mais do que arrecada e não recorrer à emissão, não há inflação. Não é magia”, disse Milei, que já se definiu como “anarcocapitalista”.
O economista Carlos Melconian, crítico do governo, disse nesta segunda a jornalistas que é necessário analisar “como continuar a história, porque o mecanismo pelo qual foram encontrados números positivos é difícil de sustentar ao longo do tempo”.
A atividade econômica da Argentina caiu 4,5% em dezembro e 4,3% em janeiro, de acordo com o órgão estatal de estatísticas. Nesta terça-feira (23) será divulgado o número de fevereiro, que se espera que seja igualmente alto.
Milei não mencionou as negociações em curso com o FMI nem uma eventual saída do complexo controle cambial argentino, que, segundo o presidente, poderia ser liberado este ano se um empréstimo adicional de US$ 15 bilhões fosse obtido.
Em março, a inflação no país desacelerou pelo terceiro mês consecutivo e ficou em 11%. O índice era muito esperado por atuar como um dos termômetros dos efeitos práticos das medidas de austeridade da atual administração na Casa Rosada.
Ainda assim, a inflação acumulada dos últimos 12 meses atingiu o pico de 287,9%, ante 276,2% no mês anterior. Tratam-se dos maiores indicadores interanuais em mais de três décadas no país.
Javier Milei assumiu o país com uma inflação mensal que em dezembro marcava 25,5%. Desde então, o índice foi caindo para 20,6% (janeiro), 13,2% (fevereiro) e 11% (março).