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São Francisco e Parnaíba: a expansão da irrigação em pequenas áreas

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Foto: reprodução

Por Geraldo Eugênio / Jornal O Sertão

O Nordeste brasileiro conta com duas das mais importantes bacias hidrográficas do país. A do Rio São Francisco, que nascendo na Serra Canastra, município de Medeiros, em Minas Gerais que segue rumo ao norte até quando se dá a inflexão para sudeste nos municípios de Cabrobó, Pernambuco e Ibó, na Bahia, chegando à foz ladeada pelos municípios de Piaçabuçu, em Alagoas e  Brejo Grande, em Sergipe. Sua longa e bela caminhada se dá por 2.863 quilômetros, abrangendo uma área de 639 mil quilômetros quadrados, ou mais de seis vezes a superfície de Pernambuco.

Nesta bacia, nos últimos cinquenta anos, foram investidos recursos públicos e privados no desenvolvimento de áreas irrigadas de modo geral contando com a abundância de águas superficiais. Destaca-se a região do submédio São Francisco, normalmente delimitada entre os municípios de Remanso a Paulo Afonso, Bahia. Aí estão instalados os mais importantes perímetros irrigados, destacando-se o impacto da agricultura irrigada em Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). A segunda região de maior destaque é o Oeste da Bahia, mais recente e com características próprias, uma vez que as águas usadas para irrigação provêm do maciço de Urucuia, um grande supridor de recarga do Rio São Francisco.

O Rio Parnaíba, pela importância que tem para a região Nordeste e o país, é pouco conhecido. Nasce na Chapada das Mangabeiras, em uma área limítrofe entre os estados da Bahia Tocantins, Piauí e Maranhão deslocando-se rumo ao norte como limite entre os estados do Maranhão e do Piauí, deslocando-se por 1.400 quilômetros, em 333 mil quilômetros quadrados, desembocando entre os municípios de Parnaíba, no estado do Piauí e Araioses, no Maranhão. Trata-se de um curso de água determinante para o estado do Piauí, por exemplo, cuja superfície se insere totalmente em sua bacia mas, do ponto de vista agrícola há de se considerar que apesar de alguns esforços as áreas irrigadas não cresceram nas mesmas dimensões do São Francisco, por exemplo

O momento dos grandes perímetros

Entre os anos 70 e 90 foram instalados os maiores perímetros irrigados no submédio São Francisco, finalizando com o Salitre, no estado da Bahia. Investimentos significativos também foram realizados na área do médio São Francisco, no norte do estado de Minas Gerais, mas sem o mesmo impacto da fruticultura irrigada de Petrolina-Juazeiro ou algo que se assemelhe ao Oeste da Bahia. O fato é que quanto aos perímetros em sua concepção clássica, à margem do São Francisco, provavelmente já não existem áreas ou demanda de implementação do mesmo modelo. Hoje, a ampliação da área irrigada no São Francisco tem se dado fundamentalmente com recursos privados. Nos últimos anos se testemunha uma procura acelerada por terras nas duas bacias por empresários de outras regiões. Sendo do Oeste da Bahia, do Cerrado Goiano ou até do Pará, visando aproveitar a infraestrutura disponível, o que não existia anteriormente da logística privilegiada, uma vez que as rodovias e a distância dos portos de Maceió e Salvador, no caso do São Francisco e de Luiz Correia, no Piauí, no que se refere ao Parnaíba e encontram avançadas.

Pequenos aquíferos, açudes e poços

Em se considerando que não haverá recursos públicos disponíveis para investimentos em infraestrutura básica e que a iniciativa privada tomou às mãos esta iniciativa, há de se perguntar como se poderá ampliar as áreas irrigadas da região semiárida do Nordeste. Debruçando-se sobre a geografia local, alguém se assusta com a proliferação de pequenos perímetros ou áreas irrigadas isolada e distantes das margens do São Francisco e do Parnaíba. Inúmeros aquíferos têm sido explorados. Alguns com maior cuidado, outros nem tanto, lembrando porém que uma água armazenada há dezenas de milhares de anos deve ser utilizada com pertinência e precaução. Nem sempre a capacidade de recarga é igual ou superior ao uso, o que implica na redução do volume de águas profundas ano a ano.

Certamente longe de se sugerir uma moratória suspendendo o uso de águas dos aquíferos regionais, entretanto é importante lembrar que se o aquífero de Ogallala, no meio oeste americano tem dado sinais de redução de suas reservas ou o que poucos aqui se tocam mas com a catástrofe ocorrida no Mar de Aral, no Uzbequistão, dele restando apenas um pouco mais de 10% área original, dando origem ao Deserto de Aral, em substituição à superfície de água, não há como deixar de se manter o alerta aceso em particular quando além do uso correto, ainda se deve confrontar com as mudanças climáticas em curso.

E além dos aquíferos, há água disponível? Certamente que sim. São centenas de açudes de todos os portes e dezenas de milhares de poços abertos no semiárido não utilizados na plenitude requerida. No estado de Pernambuco, dois exemplos de uso perdulário de águas se dão no açude de Serrinha, em Serra Talhada e no açude Engenheiro Sabóia, em Ibimirim. Uma mistura de descaso, falta de iniciativa e de planejamento governamental que permite que milhões de metros cúbicos de água sejam usados de modo muito pouco efetivos. Há outros pequenos e médios açudes à espera de gestão e um programa em que se contemple pequenas áreas em substituição aos grandes perímetros que talvez não sejam factíveis.

Chamando a atenção para que dezenas de milhares de imóveis contam com capacidade e água disponível para irrigar plena ou parcialmente micro e pequenas áreas que, somadas, se constituem em uma capacidade de se elevar consideravelmente o uso da irrigação na região semiárida.

Carnaubeira da Penha entra no Atlas da irrigação no semiárido

Uma prova deste viés lógico é a implantação de uma área irrigada com manga no município de Carnaubeira da Penha, situado na microrregião de Itaparica, entre os municípios de Mirandiba e Floresta, rodeada por serras e tendo como marca principal ser a terra povos originais como os Pankararus. Uma região, diga-se de passagem, muito bonita. Ressalta-se que um pouco antes de alcançar o perímetro municipal se deslocando de Mirandiba à Carnaubeira da Penha alguém se depara com um lindo pomar, obedecendo os padrões técnicos de irrigação, população de plantas e manejo de copa. Não há como não comparar ao que se tem em Belém do São Francisco, Petrolina ou Juazeiro. A novidade é que, há pouco mais de dez anos, seriam poucos aqueles que vislumbravam Carnaubeira da Penha como um polo de fruticultura irrigada. Este movimento se deu inicialmente no município de São José do Belmonte, seguindo-se para Mirandiba e, agora, em pleno sopé das serras sagradas de nossos ancestrais. O vale começa a se transformar em uma região produtiva com frutas e outras espécies que visam além do consumo local, o mercado consumidor dos grandes centros e do exterior.

Este é o semiárido a cada momento mais surpreendente e demonstrando que muito que foi dito sobre ele pode ser posto de lado. A realidade é outra e cabe a todos auxiliar na aceleração desse processo de mudança.

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