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Veto de Lula no Orçamento vira jogada para combinar pagamento de emendas antes das eleições municipais

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Foto: reprodução

O veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Orçamento de 2024 é uma jogada do governo que pode, no final das contas, beneficiar os parlamentares. O corte de R$ 5,4 bilhões em emendas de comissão facilita o caminho para negociar o pagamento de recursos antes das eleições municipais, o principal foco dos deputados, senadores e prefeitos neste ano.

Apesar dos vetos, o valor das emendas sancionado por Lula continua sendo recorde: R$ 48 bilhões, somando todos os tipos de indicações parlamentares. Nem na época do orçamento secreto houve um volume maior. Parte dos repasses se traduz em uso sem transparência e que, no fim das contas, não reduz as desigualdades do País, como determina a Constituição.

O governo Lula argumenta que não tem dinheiro para pagar emendas antes de outubro como os parlamentares querem. Com o valor sancionado, porém, fica mais fácil – melhor dizendo, menos difícil – fazer repasses no primeiro semestre sem comprometer o caixa da União. É mais barato gastar tudo que se tem com 10 reais no bolso do que com 15. Ainda melhor quando o 10 reais é tudo que se precisa.

É preciso dizer que o Congresso vai tentar derrubar os vetos de Lula e recuperar o valor integral das emendas. Uma intensa e conturbada negociação vai começar. Mas, e se não derrubar? O valor sancionado para as comissões, de R$ 11 bilhões, era a quantia inicialmente combinada entre parlamentares e aprovada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), em dezembro. Na conta, R$ 5,3 bilhões foi a gordura que apareceu na aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA). Mesmo com o veto, o Congresso já sai no lucro.

Qual é a diferença entre emenda de comissão e orçamento secreto?

A emenda de comissão é uma das herdeiras do orçamento secreto, esquema revelado pelo Estadão. No orçamento secreto, que bancou tratores superfaturados e outras obras durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, o recurso era indicado formalmente pelo relator-geral do Orçamento no Congresso, um deputado ou senador a cada ano, e era pago pelo governo em troca de apoio político. Mas os nomes dos verdadeiros padrinhos do recurso ficava oculto. Um parlamentar patrocinava uma emenda de forma secreta para o Executivo pagar.

Na teoria, a emenda de comissão é diferente e ostenta uma qualidade maior: só deve ser usada para bancar ações nacionais, planejadas e são aprovadas por um colegiado, não dependendo da vontade única de um parlamentar. A experiência de 2023, no entanto, foi negativa e os repasses descumpriram esses propósitos, repetindo as práticas do orçamento secreto.

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