Por Folha de São Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem manifestado a aliados preocupação com a perspectiva de desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano.
Auxiliares apresentaram a ele um exame minucioso de todas as medidas tomadas até agora com potencial de melhorar o resultado da economia brasileira em 2024, mas já começam a discutir se mais iniciativas serão necessárias.
Entre aliados, é considerada a possibilidade de as ações em curso não serem suficientes e, por isso, novas medidas precisarem ser colocadas em prática —inclusive com o uso de instrumentos parafiscais. Ou seja, aqueles que, embora sejam adotados pelo governo, não integram o Orçamento da União.A se confirmar um cenário de atividade econômica mais fraca, as pressões sobre a política fiscal também podem se intensificar. Desde o ano passado, há alas do governo e do PT que pressionam por mudança na meta de déficit zero para as contas públicas.
O Brasil cresceu, no ano passado, em torno de 3%, mas o PIB está desacelerando. De acordo com as projeções dos economistas consultados na pesquisa Focus divulgada no dia 15 de janeiro pelo Banco Central, o crescimento do PIB deve recuar para 1,59%.
As discussões são feitas enquanto Lula se prepara neste ano para as primeiras eleições municipais após reassumir a presidência prevendo um debate ainda polarizado pelas discussões com o bolsonarismo.
A disputa também medirá a força eleitoral do PT dois anos antes da corrida pelo Palácio do Planalto, em 2026.
Apesar da preocupação, uma ala do governo defende que o desempenho do PIB pode ser maior do que preveem os economistas —repetindo o que vem ocorrendo desde 2021, com o crescimento efetivo ficando bem acima das projeções do mercado financeiro.
De acordo com pessoas do governo ouvidas pela Folha, a prioridade deve ser concentrar esforços para dar efetividade nas medidas já lançadas e acelerar a execução delas para garantir um resultado melhor dos investimentos, que estão em queda.
Integrantes do governo afirmam que não basta só aprovar, mas “botar de pé” todas essas medidas para que elas gerem efeito mais rápido.
O crescimento maior da economia tem sido uma cobrança constante de Lula à equipe e está no centro do debate sobre o tamanho do contingenciamento das despesas do Orçamento, para evitar que os investimentos do novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) sejam afetados por um bloqueio brutal no início deste ano.
Um acordo para o impasse em torno da MP (medida provisória) da reoneração da folha de pagamentos, que garanta a aprovação das medidas compensatórias pela renúncia fiscal, é considerado crucial para mitigar o risco de uma piora nas contas públicas.
Líderes do Congresso, no entanto, já avisaram que só aceitam a reoneração a partir de 2027 e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, segue na tentativa de buscar uma saída para não ter de incorporar o custo da desoneração no Orçamento.
Na lista de medidas mapeadas que podem ajudar o PIB a surpreender, de acordo com pessoas do governo envolvidas nessas discussões, está o efeito do pagamento, no final do ano passado, de R$ 93 bilhões de precatórios (dívidas do governo reconhecidas pela Justiça).
Boa parte desse dinheiro (R$ 49 bilhões) deve ser direcionada para o que os economistas costumam chamar de consumo “na veia” com efeito na atividade econômica também neste ano.
Os investimentos previstos da Petrobras e o programa de empréstimos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para novos investimentos em projetos estruturantes também estão no mapa do governo para elevar os investimentos neste ano.
A petroleira anunciou o seu plano estratégico de 2024 a 2038, com US$ 102 bilhões em investimentos, 31% acima ao que estava em andamento no governo Bolsonaro.