O presidente Lula lançou a primeira versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em janeiro de 2007, quando iniciou seu segundo governo. Pouco mais de um ano depois, estava em Suape ao lado do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciando uma parceria da Petrobras com a Petróleos de Venezuela S/A (PDVSA).
Os dois países construíram uma refinaria que levou o nome do General Abreu e Lima, ícone do presidente Chávez e que está sepultado em solo pernambucano, no bairro de Santo Amaro.
Os dois posaram para as fotos ao lado de operários num campo de obras de terraplenagem, no local em que deveria ser construída a primeira refinaria brasileira como modelo conceitual desenvolvido no Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes) – para processar o óleo do pré-sal cuja configuração era idêntica ao óleo que a PDVSA na bacia de Carabobo.
A MAIS MODERNA REFINARIA
Se tudo corresse como os pesquisadores da Petrobras imaginavam, o Brasil não só teria a mais moderna refinaria na América do Sul, como também a mais eficiente em termos de produção nos seus trens – que deveriam processar o óleo extraído no mar do Brasil, como no da Venezuela.
Mas o sonho dos pesquisadores foi para o espaço quando a empresa decidiu fazer a construção com empreiteiras brasileiras que nunca tinham feito nenhuma obra daquele porte, e que resultaria no embrião do que mais tarde se chamou o escândalo do Petrolão.
E nele, a RNEST tem um capítulo importante pelo nível de desvio do dinheiro de uma estatal e que resultou na denúncia e condenação de dezenas de pessoas, embora hoje não exista nenhum dos acusados presos cumprindo penas por corrupção.
DESVIO E SUPERFATURAMENTO
A refinaria Abreu e Lima foi, de fato, um caso de desvio e superfaturamento que levou a então presidente Graça Foster numa reunião com gerentes da empresa a desabafar sua tristeza com o encaminhamento do empreendimento, afirmando que ele deveria ser “um exemplo para nunca mais ser seguido”.
Funcionária de carreira com histórico de dedicação à empresa, o comentário de Foster ainda hoje é lembrado nos corredores da empresa quando se fala do projeto incrustado no porto de Suape, que atualmente produz 110 mil barris de petróleo/dia extraído do pré-sal, e que o presidente Lula revisita exatamente 5.441 dias depois.
A RNEST, como se sabe, virou um projeto nacional depois que Chávez desistiu da sociedade que o presidente brasileiro pretende entregar ao final de seu terceiro mandato e para o qual faz uma visita a Pernambuco, marcando o início das obras do segundo trem no meio de um complexo industrial.
Ela é vizinha da antiga PetroquimicaSuape (hoje chama-se Alpek) , privatizada em 2016 dentro da estratégia do Governo Temer em concentrar as atividades da empresa apenas em petróleo. O projeto que custaria cerca de 2,5 bilhões de dólares, em valores da época (2008), custou à estatal 18,5 bilhões.
No processo que apurou os desvios na Rnest, em 2014, o juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná, aceitou denúncia do Ministério Público Federal contra o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, acusados de serem os “comandantes da organização criminosa” que desviou dinheiro público na construção da refinaria de Abreu e Lima.
Moro virou senador; Paulo Roberto faleceu em 2022; e Alberto Youssef ainda responde a vários processos. Paulo Roberto Costa foi condenado pelo STF a sete anos e meio de prisão por organização criminosa e lavagem de dinheiro desviado das obras da refinaria Abreu e Lima.
LULA NO CANTEIRO DE OBRAS
Mas a visita do presidente ao canteiro de obras é importante demais para não se lembrar o que aconteceu ali e com a Petrobras nesses 14 anos, embora a paisagem esteja bem diferente.
O projeto da RNEST foi desmembrado num pacote de serviços de várias empreiteiras, onde o grupo Odebrecht liderou com as melhores faturas – cujo superfaturamento começou, segundo os autos dos processos do Petrolão, já na terraplanagem do terreno da futura refinaria.
Apesar de todos os problemas, a Abreu e Lima (RNEST) iniciou suas operações em 2014 com o primeiro conjunto de unidades (Trem E), 34 anos depois de construirmos a última refinaria. Está localizado no Complexo Industrial Portuário de Suape, distante 45 km do Recife, e é a mais moderna refinaria da Petrobras.
Ela foi projetada, com se disse, para ter dois conjuntos de unidades de refino independentes para a flexibilidade na utilização de vários tipos de petróleo com maior confiabilidade operacional. Sua capacidade de processamento será de 230 mil barris de petróleo por dia quando forem concluídas as obras que o presidente Lula está determinando.
Ela deverá produzir um acréscimo de cerca de 13 milhões de litros de Diesel S10 (de baixo teor de enxofre) por dia à capacidade de produção nacional. Se os prazos forem cumpridos, a construção do Trem 2 da refinaria pernambucana tem data para finalização em 2028, quando ela passará a ter capacidade para processar 260 mil barris de petróleo por dia.
O investimento no Projeto RNEST está previsto no Plano Estratégico 2024-28+ da Petrobras e faz parte do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.
Em 2008, o presidente, em Suape, posou ao lado de Cavez, Eduardo Campos e José Sérgio Gabrielli. Hoje, estará ao lado de Raquel Lyra e Jean Paul Prates. Seu desejo é voltar para inaugurar o projeto completo.