O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma manifestação pública em defesa do ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmando que as críticas contra ele seriam “fake news” plantadas por adversários “que não se conformam com a perda de dinheiro e dos espaços para suas atuações criminosas”. Mas ele não apontou quem seriam esses adversários nem qual seria a alegada ligação com ações criminosas.
Lula defendeu seu ministro em uma postagem no X (antigo Twitter) após uma série de reportagens do jornal Estado de S.Paulo revelar nesta semana que duas mulheres suspeitas de integrarem a facção criminosa Comando Vermelho se reuniram diversas vezes com autoridades do ministério comandando por Dino.
“Minha solidariedade ao ministro Flávio Dino, que vem sendo alvo de absurdos ataques artificialmente plantados. Ele já disse e reiterou que jamais encontrou com esposa de líder de facção criminosa. Não há uma foto sequer, mas há vários dias insistem na disparatada mentira”, escreveu Lula.
Mas, diferente do que o presidente afirmou, Dino não vem sendo acusado de ter se reunido diretamente com uma integrante do Comando Vermelho. Ele vem sendo cobrado pela oposição e pela opinião pública por ser o responsável hierárquico pelas autoridades que receberam Luciane Barbosa Farias, conhecida como “dama do tráfico amazonense” e esposa de um líder do Comando Vermelho, e a ex-deputada do PSOL-RJ, Janira Rocha.
As duas se reuniram com Rafael Velasco, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), com Sandro Abel Sousa Barradas, Diretor de Inteligência Penitenciária da Senappen, com Paula Cristina da Silva Godoy, da Ouvidoria Nacional de Políticas Penais (Onasp) e com o secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Elias Vaz, que tentou assumir a culpa pelo episódio alegando desconhecimento do envolvimento de suas interlocutoras com o crime organizado. Há fotografias dos encontros ocorridos dentro do Ministério da Justiça.
Novas reportagens do Estado de São Paulo desta quarta-feira mostraram documentações que apontam que as demandas da dama do tráfico amazonense ao Ministério da Justiça tiveram andamento dentro da pasta. Uma delas, segundo o ministério, estaria relacionada à reclamação contra o uso de scanners corporais em mulheres grávidas durante visitas a detentos no sistema prisional.
Elias Vaz disse que não sabia das conexões de Luciane com o Comando Vermelho e prometeu que os procedimentos de ingresso no ministério serão revistas. O Ministério da Justiça não tem se referido à suspeita da ex-deputada do PSOL alegadamente também ser financiada pela facção criminosa.
As evidências da presença das supostas integrantes do Comando Vermelho no Ministério da Justiça surgem no momento em que Dino concorre a uma indicação de Lula para uma vaga de ministro no Supremo Tribunal Federal.
O Estado de S.Paulo trouxe ainda evidências de ligações de Luciene com outro ministério de Lula, o de Direitos Humanos, comandando por Silvio Almeida. A pasta teria pago passagens e diárias para a dama do tráfico participar de um evento em Brasília. Luciene transitava livremente pelos ministérios do governo de Lula como representante de uma ONG que defende os direitos dos presos mas é financiada pelo Comando Vermelho, segundo investigações da polícia.
As notícias sobre a atuação de Luciene e da ex-deputada do PSOL, Janira Rocha, junto ao governo Lula e a ligação delas com o crime organizado foram publicadas com base em documentos públicos pelo jornal Estado de S.Paulo. Elas depois foram repercutidas por parlamentares de oposição ao governo, como o senador Sergio Moro (União-PR) e o presidente da Comissão de Segurança da Câmara, Ubiratan Sanderson (PL-RS).
Em sua publicação no antigo Twitter, Lula disse que as críticas a Dino teriam sido “plantadas”, mas não especificou por quem. Ele afirmou:
“Essas ações despertam muitos adversários, que não se conformam com a perda de dinheiro e dos espaços para suas atuações criminosas. Daí nascem as fake news difundidas numa clara ação coordenada”.
O presidente aproveitou para exaltar as ações de Dino e atribuir novamente a culpa pela violência no Brasil ao “armamentismo selvagem”. Ele usou o termo para se referir à política do ex-presidente Jair Bolsonaro de aumentar as liberdades individuais dos cidadãos desburocratizando o processo de compra e licenciamento de armas.
“O Ministério da Justiça tem coordenado ações de enorme importância para o país: a defesa da democracia; o combate ao armamentismo selvagem; o enfrentamento ao crime organizado, ao tráfico e às milícias; e a proteção da Amazônia”, escreveu.