O tamanho hoje do rebanho pernambucano, após cinco anos de estiagem, é de 1,9 milhão de cabeças de gado. Bem distante dos 2,5 milhões de animais que existiam em 2011.
JC Online / Foto: reprodução
A morte assombra a bacia leiteira de Pernambuco. Em 2012, primeiro ano de seca prolongada no Estado, o gado foi dizimado. A praga da cochonilha de carmim destruiu a palma e deixou o rebanho com fome. Duzentas e cinquenta mil cabeças de gado morreram, espalhadas em cemitérios a céu aberto. Em 2016, a morte tem outra face. O gado, que antes padeceu de fome, agora sofre de sede. E perde produtividade. A produção do leite despencou, obrigando pecuaristas a se desfazer do gado. A luta é para manter o bicho vivo. Sem água, tem sido difícil.
A vaca caída, coberta de carrapato. Doente, sem forças, dali só aguenta mais dois dias, no máximo. A cena, num sítio do município de Cachoeirinha, é um golpe na esperança do criador de gado. Para fugir da fome e da sede, muitos produtores resolveram levar o rebanho para a Mata Sul de Pernambuco, onde a oferta de água é mais abundante. Era para ser solução. Virou armadilha. A diferença extrema de clima (seco no Agreste e úmido na Mata) deixou o gado exposto a doenças, como a verminose, e ao ataque de carrapatos. A saída foi trazer os bichos de volta. No retorno, a morte continuava à espreita.
A pior seca dos últimos 60 anos tem imposto ao rebanho pernambucano tantas provações que só ter fé não dá conta. “É uma danação. A gente tem passado por um aperreio tão grande que perde o prumo. Fica traumatizado. É só morte, morte. O cheiro de desgraça tá enganchado na gente”, desabafa o produtor José Amaro Braulindo, dono da vaca comida pelos carrapatos. Ele já perdeu três animais na volta do rebanho da Zona da Mata. O bicho fotografado pela reportagem era o quarto a cair, em duas semanas. “E tem mais dois no mesmo caminho”, diz, numa mistura de lamento e desesperança.
Como manter o gado de pé e produtivo sem água e insumos para alimentá-lo? A situação é dramática. Em cinco anos de seca consecutiva, a produtividade chegou a cair em torno de 45%. Em 2011, o rebanho do Estado produzia 2,5 milhões de litros de leite por dia. Hoje essa produção é de 1,4 milhão de litros de leite/dia. A perda está relacionada a dois fatores diretos. Primeiro, à redução do próprio rebanho. Depois, a dificuldade de alimentar o gado com uma ração de qualidade.
Como manter o gado de pé e produtivo sem água e insumos para alimentá-lo? A situação é dramática. Em cinco anos de seca consecutiva, a produtividade chegou a cair em torno de 45%. Em 2011, o rebanho do Estado produzia 2,5 milhões de litros de leite por dia. Hoje essa produção é de 1,4 milhão de litros de leite/dia.
2012 foi um divisor de águas para a bacia leiteira do Estado. O mais grave dos anos de estiagem, levando em conta perdas, morte de animais e queda da produção. Em 2011, último ano sem seca em Pernambuco, o cenário era promissor. Tempos de fartura. O Estado vinha de oito invernos regulares, pasto cheio, verdão no horizonte. Não havia com o que se preocupar. Foi quando a história mudou e mudou radicalmente. O ano de 2012 chegou e trouxe com ele a estiagem. Fez pior. Trouxe a praga da cochonilha de carmim, importada do Sertão. Foi a morte. Da palma e do próprio gado, que, sem ter o que comer, sucumbiu.
“A quebra de paradigma nos assustou. Sempre enfrentamos secas, grandes secas, mas nunca estivemos tão despreparados. Havia um ambiente confortável, garantido pela regularidade das chuvas e não nos preparamos. Quando a cochonilha entrou no Agreste, pegou todos os criadores de gado de surpresa. Uma tragédia”, diz Erivânia Camelo, gerente-geral da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro). O saldo foi devastador: o rebanho pernambucano perdeu, entre os anos de 2012 e 2013, 500 mil animais, considerando, mortes, abate e venda, principalmente para os Estados do Maranhão e do Pará.
“Nunca conseguimos recuperar esses bichos. É tecnologia que se perdeu e que não volta mais ao nosso Estado”, afirma Erivânia. O tamanho hoje do rebanho pernambucano, após cinco anos de estiagem, é de 1,9 milhão de cabeças de gado. Bem distante dos 2,5 milhões de animais que existiam em 2011. Recuperar esses números parece ser uma realidade ainda improvável. Com a permanência da estiagem, a perspectiva é de mais perdas.