Início Notícias Lula participa de cúpula do G7 em meio a clima de tensão...

Lula participa de cúpula do G7 em meio a clima de tensão gerado por apoio à Rússia e à China

788
Foto: reprodução

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao Japão nesta quinta-feira para participar como convidado da cúpula do G7, o grupo que reúne as principais potências do Ocidente. É o primeiro convite desse tipo em 14 anos. Ele acontece no momento em que os Estados Unidos e seus aliados tentam estreitar os laços com o “Sul Global” (países em desenvolvimento) em meio ao crescente antagonismo com a Rússia e com a China por causa da guerra na Ucrânia.

Cerca de dois terços das nações do mundo se posicionaram como neutras no conflito ou manifestaram algum tipo de apoio à Rússia. O Brasil se destacou entre os países que estão “em cima do muro” após polêmicas declarações dadas por Lula, na qual o presidente brasileiro relativizou a culpa da Rússia no conflito.

Lula disse que a Ucrânia (país invadido) é tão culpada pela guerra quanto a Rússia (país invasor). Em outra declaração equivocada, ele também culpou americanos e europeus por supostamente prolongarem a guerra pelo ato de fornecer armas para a Ucrânia. Os armamentos têm sido usados para a defesa dos ucranianos, não para ataque a território russo.

O convite para participar da cúpula do G7 partiu do primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida. O país sedia o encontro deste ano, na cidade de Hiroshima. Os países-membros são Estados Unidos, Japão, Grã-Bretanha, Alemanha, França, Canadá e Itália. Na pauta estão a proliferação de armas nucleares e a guerra da Ucrânia, entre outros temas.

Lula pode ser cobrado por suas declarações pró-Rússia e de contestação à hegemonia do dólar como moeda do comércio global. Mas ainda não está claro se a política do G7 vai ser criticar o petista ou oferecer incentivos para que ele se afaste do bloco de países ditatoriais do qual vem se aproximando (Rússia, China, Coreia do Norte, Irã e Arábia Saudita).

Documentos secretos vazados da União Europeia já mostraram que ao menos os europeus cogitam oferecer incentivos para que países do Sul Global (especialmente Brasil, Chile, Nigéria e Cazaquistão) se afastem da Rússia e da China. Um dos incentivos seria viabilizar o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.

“Esta [presença no encontro do G7 deste ano] é uma oportunidade do Brasil se alinhar com os países do Ocidente e com as grandes economias do mundo”, disse o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dawisson Belém Lopes.

Para o diplomata e ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, é interessante para o G7 que o Brasil esteja presente na discussão deste ano devido à compatibilidade do país com as pautas que entram em debate na cúpula de Hiroshima. “Não é uma coincidência a escolha desses países convidados. Além disso, simbolicamente, eles representam suas regiões também. O Brasil, por exemplo, vai representar a América Latina pois foi o único país convidado do subcontinente”, diz.

Nem mesmo a escolha da cidade sede, na avaliação do ex-ministro, foi feita por coincidência. De acordo com ele, além do primeiro-ministro japonês ser natural de Hiroshima, os organizadores do evento podem ter o intuito de mostrar os rastros causados pela bomba atômica que destruiu a cidade em 1945, durante a Segunda Guerra. “É uma escolha simbólica e, com isso, provavelmente eles querem mostrar a todos os participantes o perigo que essas ameaças nucleares e representam”, observa.

Uma nova era nuclear começou em meados de 2021, quando imagens de satélites ocidentais descobriram que a China estava construindo 120 silos de mísseis balísticos intercontinentais (ICBM, em inglês) no deserto de Gobi. Pequim começou a deixar de ser uma pequena força nuclear e se prepara para chegar ao ano de 2030 com cerca de 1.000 ogivas ativas, segundo a inteligência americana. Isso tem potencial para desestabilizar o atual sistema binário de dissuasão nuclear, constituído pelos Estados Unidos e pela Rússia.

Além disso, o debate sobre armas nucleares se intensificou com a ameaça da Rússia usar bombas nucleares táticas (de menor poder ofensivo, mas ainda assim armas de destruição em massa) na guerra da Ucrânia.

O Brasil é signatário do Acordo de Não Proliferação de Armas Nucleares e pode ganhar espaço no campo diplomático por causa disso. As lideranças do G7 estão cogitando modernizar seus arsenais nucleares e aumentar suas capacidades para responder aos avanços da Rússia e da China. Mas ao mesmo tempo não querem que os países do Sul Global desenvolvam bombas nucleares no contexto geopolítico atual, que já vem sendo chamado por analistas de “Guerra Fria 2.0”. Por isso, o Brasil pode ser apontado como um exemplo a ser seguido.

Para reforçar a mensagem, o premiê japonês deve tomar a iniciativa de levar os chefes de Estado e de governo para colocar flores no memorial às 333.907 vítimas da bomba de Hiroshima. Isso deve ocorrer no sábado.

Índia, Austrália, Indonésia e Vietnã também participam como países convidados
Além do Brasil, outros sete países também foram convidados para participar da cúpula deste ano. São eles, Austrália, Coreia do Sul, Vietnã, Índia (na condição de presidente do G20, o grupo das maiores economias do mundo), Indonésia (como presidente da Asean, a associação dos países do sudeste asiático), Comoros (que está na presidência da União Africana) e Ilhas Cook (na condição de nação presidente do Fórum das Ilhas do Pacífico).

Além dos chefes de Estado ou governo dessas nações, estarão presentes os líderes da Organização Mundial da Saúde, da Organização Mundial do Comércio MC, do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional e da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Segundo Ricupero, a escolha de países convidados não é feita por coincidência e todos representam algum assunto de interesse aos sete países membros do grupo. “O encontro não reúne apenas países que compartilham de um mesmo alinhamento político econômico”, explica. (Gazeta do Povo)

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here