Reduzir a fila de espera para consultas e cirurgias, aumentar a cobertura vacinal, garantir assistência digna e qualificada na área materno-infantil, cuidar dos idosos, expandir o atendimento à saúde no interior e ampliar os cuidados em saúde bucal são consideradas prioridades máximas dentro da Secretaria de Saúde de Pernambuco, agora chefiada pela médica paliativista e geriatra Zilda Cavalcanti, 55 anos.
“A gente trabalha nos 100 primeiros dias (do governo de Raquel Lyra) visualizando os caminhos dos quatro anos de gestão. Vamos trabalhar para reduzir as filas, interiorizar os serviços de saúde e fazer grandes conversas com prefeitos do interior, pois devemos articular a Saúde em três esferas: municipal, estadual e federal. Só vamos conseguir um resultado bom se estivermos juntos nessas três. É uma conversa que vai precisar ser feita nos próximos dias”, disse Zilda Cavalcanti, em entrevista exclusiva à titular desta coluna Saúde e Bem-Estar, do JC.
JC – Qual o balanço que a senhora faz da sua primeira semana no comando da Saúde de Pernambuco no governo de Raquel Lyra?
ZILDA CAVALCANTI – Foram dias de trabalho em equipe. Raquel já disse, e eu concordo com ela: a gente não trabalha sozinho. Temos que valorizar as pessoas que já fazem parte da equipe e trazer as pessoas que vão engrossar o cordão. Sabemos da complexidade do trabalho, que é enorme, e só com muita gente comprometida e competente vamos conseguir dar conta dos desafios. Nestes primeiros dias, andei a Secretaria Estadual de Saúde, conheci cada cantinho. Trabalhamos nessa equipe, tentando compor quadro da secretaria.
JC – E o que há, em curto prazo, para melhorar a Saúde em Pernambuco?
ZILDA CAVALCANTI – Estamos trabalhando inicialmente com tranquilidade. Os diretores e gestores dos hospitais foram excetuados do decreto (número 54.393/2023), que exonerou todos os cargos de confiança. Mas foram mantidos os diretores e gestores de hospitais, que continuam funcionando dentro da normalidade. O trabalho agora é começar a trabalhar no plano de 100 primeiros dias de governo. A equipe de transição fez uma proposta de plano de trabalho para esses 100 primeiros dias de governo, e hoje (segunda-feira, dia 9/1) já começamos a trabalhar para atingir objetivos. O principal deles é tornar melhor a vida dos pernambucanos e pernambucanas.
JC – Para a Saúde, o que está previsto nestes 100 primeiros dias do governo de Raquel Lyra?
ZILDA CAVALCANTI – A gente trabalha nos 100 primeiros dias visualizando os caminhos dos quatro anos de governo de Raquel Lyra. Vamos trabalhar para reduzir as filas, interiorizar os serviços de saúde e fazer grandes conversas com prefeitos do interior, pois devemos articular a Saúde em três esferas: municipal, estadual e federal. Só vamos conseguir um resultado bom se estivermos juntos nessas três. É uma conversa que vai precisar ser feita nos próximos dias. Tem também a questão da vacinação, do que vamos conseguir para melhor o resultado final (taxa de cobertura) da vacinação, que estratégia vamos usar para isso. Vale acrescentar que vamos focar na saúde bucal. Estamos ainda com o Carnaval chegando aí. Vamos se estruturar para o Carnaval transcorrer com tranquilidade.
JC – A circulação da nova subvariante da ômicron, a XBB.1.5, pode prejudicar o planejamento da Saúde para o Carnaval?
ZILDA CAVALCANTI – Sim, tem a variante nova. Mas acredito que vamos encarar a covid-19, a partir de agora, de forma endêmica, digamos assim. Vamos conviver com a covid e as várias variantes. Precisamos ficar atentos, e a vigilância epidemiológica está. Mas acho que, neste momento, não existe indicativo epidemiológico de que a gente não vai ter Carnaval. Obviamente que essas coisas são dinâmicas, e a gente não tem como dar garantias antecipadamente. De qualquer forma, precisamos estar preparados e ter toda a estrutura para que o Carnaval transcorra com tranquilidade. Se for preciso, à medida que as coisas forem acontecendo, tomaremos as medidas epidemiológicas que forem as mais indicadas e apropriadas para as situações que se estabelecem.
JC – E será o primeiro Carnaval após dois anos de festa suspensa em virtude da covid-19…
ZILDA CAVALCANTI – Isso! E neste momento, não há indicativo algum de que não haverá Carnaval. Então, precisamos fazer um planejamento, pensando nas coisas que devemos fazer para que tudo transcorra em paz. Torcemos que o carnaval possa vir e acontecer em paz. Vamos pensar em medidas epidemiológicas e sanitárias necessárias para ter um Carnaval tranquilo, com as pessoas brincando. Tenho fé e acredito que, neste ano, temos Carnaval.
JC – O plano de governo de Raquel Lyra inclui, entre as principais propostas na área da Saúde, a construção de cinco grandes maternidades. Como essa promessa será viabilizada? E por que não reestruturar as maternidades já existentes?
ZILDA CAVALCANTI – As duas coisas caminham juntas: precisamos reestruturar o que já existe, mas também precisamos, quando falamos de novas maternidades, montar uma rede de referência em algumas regiões onde isso não existe, inclusive em relação a parto de risco habitual (conhecido popularmente como parto normal) e a parto alto risco. É preciso montar toda a rede de referência no Estado para as pacientes de alto risco serem encaminhadas, e fazer isso de forma organizada no interior também.
JC – Além das maternidades, qual o olhar do novo governo para as gestantes e as crianças?
ZILDA CAVALCANTI – Raquel Lyra se preocupa com a saúde materno-infantil, uma área que passa por muitos problemas. Os problemas são complexos, precisamos encará-los e resolvê-los, mas não podemos fazer isso de um dia para o outro. Precisamos ter estratégia de planejamento para fazer a construção ao longo do caminho. Então, essas maternidades estão dentro desse planejamento de melhora na assistência materno-infantil do Estado, assim como um pré-natal de qualidade, capaz de reduzir a mortalidade infantil. Então, tudo isso precisa ser construído para oferecer mais tranquilidade e segurança para as mães.
JC – A senhora tem uma trajetória muito pautada na assistência aos idosos, na gestão, no ensino e na pesquisa. Como vai usar experiência para aprimorar as missões na Secretaria de Saúde de Pernambuco?
ZILDA CAVALCANTI – Sem dúvidas, precisamos trabalhar o envelhecimento ativo (processo para otimizar a expectativa de uma vida saudável e a qualidade de vida para todas as pessoas que estão envelhecendo), de forma preventiva. Vamos ver a importância da atividade física, da alimentação saudável e do acesso a serviços básicos. Vale ressaltar que boa parte da população em lista de espera por consulta especializada é de pessoas idosas. Precisamos aumentar a quantidade de médicos geriatras atendendo, pois temos poucos no quadro. Quando falamos de idosos e de cuidados paliativos, precisamos de toda a equipe de saúde: fisioterapeutas, profissionais de educação física, nutricionistas, terapeutas ocupacionais e outros. Sabemos do papel dessa equipe não apenas para cuidar da doença, mas também para promover saúde. Ainda no que se refere aos cuidados, precisamos organizar leitos para pacientes que estão em processo de reabilitação e fortalecer um programa domiciliar com apoio do governo federal. É necessário fornecer atendimento domiciliar adequado para a pessoa não precisar ficar internada em hospital cuidando de uma ferida. São muitos desafios, e precisamos fazer o trabalho diário de construção. É um dia de cada vez. Vamos precisar da equipe fortalecida e cuidaremos de todos para a nossa missão. (JC)