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Raquel Lyra fala sobre vitória um mês após a morte do marido: ‘Só vi o resultado’

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 Foto: Thais de Menezes

Raquel Lyra mal consegue descrever o 30 de outubro de 2022, data em que se tornou a primeira governadora da história de Pernambuco. Fazia apenas um mês da morte do marido, Fernando Lucena, companheiro de vida e trabalho por 30 anos, que sofreu de um mal súbito na votação do primeiro turno das eleições. “Eu não consigo nem…[pausa] É simplesmente como se tivesse acontecido um blecaute. Eu só vi o resultado. Estranho, não é?”, relata com a voz embargada, ainda sem processar o que se passou nos últimos dois meses de sua vida.

Raquel se emociona ao falar sobre o marido, com quem começou a namorar aos 14 anos e que coordenou todas as suas campanhas, e pede para interromper a videochamada com Marie Claire por alguns minutos até se recuperar. Três dias após a morte de Fernando, o filho mais velho de Raquel, João, de 12 anos, ainda teve uma crise de apendicite e precisou ser operado. Em seguida, o caçula de 10 anos, Fernando, foi acometido por uma forte virose. Isso tudo em plena campanha eleitoral.

A corrida ao governo de Pernambuco foi palco de um cenário inédito na história do país, com duas mulheres, Raquel, pelo PSDB, e Marília Arraes, pelo Solidariedade – três se contarmos a vice de Raquel, Priscila Krause, do Cidadania – na disputa. Ainda neste ano foi eleita a primeira senadora do estado, a petista Teresa Leitão.

Além de Raquel e Marília, estavam em disputa também os Lyras contra os Arraes, ambas dinastias políticas de Pernambuco cujas histórias se interligam entre si e com a do próprio país. Vestida de Leonel Brizola da cabeça aos pés, Raquel, então com 9 anos, já participava da campanha à Presidência de seu tio, Fernando Lyra, candidato a vice do político gaúcho em 1989, e ministro da Justiça na redemocratização do país. Outra figura de peso ao fim da ditadura militar foi seu pai, João Lyra Neto, ex-governador de Pernambuco e ex-prefeito de Caruaru, cidade antes governada por seu avô, João Lyra Filho.

“Na nossa família a gente conta os ciclos da vida pelas eleições, desde sempre. Então, em qual eleição nasci, em que eleição minhas irmãs nasceram, isso faz parte naturalmente de como a gente viveu e vive a nossa história”, conta a tucana.

Mas Raquel, única mulher da família a entrar para a política, não gosta de ser comparada aos Arraes. Formada em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, no Recife, começou a vida pública quando passou em um concurso para ser advogada do Banco do Nordeste. Em 2002 tornou-se delegada da Polícia Federal e mudou-se para o Rio de Janeiro. Em 2005 foi aprovada para a Procuradoria Geral do Estado e, dois anos depois, virou chefe da Procuradoria de Apoio Jurídico e Legislativo do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, na gestão em que seu pai foi vice. Também comandou a Secretaria da Criança e Juventude.

Aos 30 anos, em 2010, disputou um mandato eleitoral pela primeira vez, como deputada estadual, sendo a mulher mais votada de Pernambuco. Depois exerceu um segundo mandato na Assembleia Legislativa. Decidiu lançar-se à prefeitura de Caruaru em 2016, apesar do PSB, seu então partido, apoiar outro nome a três dias de encerrar a janela partidária. “Jamais fariam isso se fosse um candidato homem”, acredita. Migrou para o PSDB para continuar na disputa e virou a primeira mulher a ser eleita prefeita da cidade. Ainda foi reeleita em 2020, no primeiro turno.

Deixou a prefeitura para se candidatar ao governo neste ano e, numa virada do primeiro para o segundo turno, tornou-se a primeira mulher a ocupar o Palácio do Campo das Princesas. A seguir, Raquel conta do ambiente familiar em que cresceu, fala sobre os dias da campanha mais difícil de sua vida e anuncia que a prioridade de seu governo será chegar em quem é o rosto da fome no Brasil: as mulheres pobres.

MARIE CLAIRE A senhora passou por uma tragédia pessoal no primeiro turno das eleições, que foi a morte súbita de seu marido no dia da votação. Pode contar como foi esse dia?

RAQUEL LYRA Não falo disso no passado, mas no gerúndio, no presente. Fernando esteve comigo em cada passo da minha vida: vestibular, mudança para Brasília, concursos, ida para o Rio. Sempre fomos eu e o Nego. Ele estava na coordenação da minha campanha no agreste, comandava isso junto com minha mãe. Nesse dia ele veio para Recife ficar comigo. Era véspera da eleição, e a gente fez uma carreata até Caruaru. Ele estava dirigindo e as crianças, em outro carro atrás.

Quando terminou, ficou um tumulto danado, com um monte de gente em cima de mim. De repente senti uma mão me puxando e era ele. Me colocou dentro do carro, disse “já te encontro” e me deu um beijo, como sempre fazia. Fui comer num restaurante e como ele não estava se sentindo bem, foi para casa. Quando cheguei, estava sentado na cadeira assistindo à televisão, no lugar que sempre ficava. Fui tomar um banho e, quando voltei ao quarto, ele já estava dormindo. Pedi para se afastar um pouco porque nosso filho mais novo estava dormindo na cama com a gente. E aí, quando acordei, ele não acordou.

MC A senhora pensou em desistir da candidatura?

RL Naquele mesmo dia tive que votar. Minhas crianças insistiram, diziam que a gente tinha que votar. Cheguei à seção com as eleições quase terminando. (Neste momento, Raquel começa a chorar e se levanta. Sai da conversa e volta dali a cinco minutos.) Nesse dia da carreata de Caruaru, a equipe disse que ele abraçou todo mundo e falou a frase que sempre dizia: “Vai dar certo”. Então para me colocar de pé e estar aqui é porque sei que, em outras circunstâncias, ele estaria aqui do meu lado. E sei que, de todas as formas, está.

MC E a senhora ainda teve de lidar com um filho que passou por uma cirurgia de emergência e outro com uma forte virose em seguida. Como aguentou tudo isso?

RL Três dias depois [de o marido morrer], meu filho mais velho, João [12 anos], teve apendicite. Nando [10] quis vir junto para o Recife e pegou uma virose muito forte. Enquanto João estava operando, Nando estava sendo medicado ali no hospital. Mas, depois de ter passado o que passei, a gente tirou a cirurgia de João de letra. A impressão que tenho é que meus filhos amadureceram cinco anos nessa campanha. Priscila [Krause, sua vice] também foi fundamental. Disse a ela [depois do primeiro turno]: “Você está pronta, lidere os próximos passos. Confio em você”. E ela foi gigante.

MC No meio desse turbilhão todo, a senhora conseguiu viver o luto? E conseguiu ficar feliz no dia em que foi eleita?

RL Eu não consigo nem…[pausa] Eu não me lembro direito. É simplesmente como se tivesse acontecido um blecaute. Só vi o resultado. Estranho, não é, mas foi assim.

1. Raquel na academia da polícia federal, em 2002 2. Na campanha à presidência de Leonel Brizola e de Fernando Lyra como vice, em 1989 3. Com sua mãe, Mércia Lyra 4. Com o marido, Fernando Lucena, e os filhos, João e Fernando 5. Casamento de Raquel e Fernando, em 2003 6. Com o tio, o ex-ministro Fernando Lyra, e o filho João no colo 7. Raquel quando criança — Foto: Divulgação

MC Existe uma foto sua, com 9 anos, inteira vestida de Brizola, na campanha do seu tio, Fernando Lyra. Como foi crescer nesse ambiente? A política sempre a interessou?

RL Na verdade não tive opção. Na nossa família, a gente conta os ciclos da vida pelas eleições. Em qual nasci, em qual minhas irmãs nasceram… Isso faz parte da nossa história. Tio Fernando, por exemplo, conseguiu que o primeiro comício das Diretas Já fosse em Caruaru. Então, todas as pessoas que faziam parte da aliança que pretendia restabelecer a democracia no Brasil na época estavam na minha casa: Fernando CollorBete MendesGilberto Gil.

MC É a única mulher da família na política?

RL Sim, a única. Lá em casa, nos almoços de domingo, meus pais diziam para cada uma [das três filhas] buscar sua independência e autonomia. Tanto que saiu uma médica, uma cientista de computação e uma advogada. Da minha geração, só eu entrei para a vida pública. Mas embora nunca tenha exercido um mandato, minha mãe sempre coordenou minhas campanhas e as do meu pai. Foi referência para mim e para nossa cidade.

MC E como foi a decisão de entrar para a política? Teve o apoio da família?

RL Não acordei um dia e decidi que disputaria mandato de deputada estadual. Sempre me envolvi, as coisas foram acontecendo. Assim que saí da Polícia Federal, entrei na campanha de Eduardo [Campos], na coordenação jurídica de Caruaru. Depois fui trabalhar no mandato dele, como chefe da Procuradoria de Apoio Jurídico e Legislativo. Então me filiei ao PSB e uma hora tive a ideia de me candidatar. Mas não foi algo dito dentro de casa, pelo contrário. A primeira coisa que ouvi do meu pai foi: “Se viabilize porque não tenho voto na prateleira”. Eu rio dessa frase hoje, mas me trouxe uma reflexão. Você não herda voto. E isso representava muito o desejo de garantir uma renovação verdadeira na forma de fazer política. Pés no chão, diálogo reto com a população. Fui a mulher mais bem votada do estado nessa primeira eleição.

MC Os políticos da família palpitaram na sua escolha?

RL Meu avô faleceu quando eu tinha 18 anos e vim estudar no Recife com 14. Então, não participei muito da vida política dele. Meu tio Fernando disputou mandato pela última vez em 94 ou 98. Tive a sorte de conviver muito com ele, mas já aposentado. Em casa sempre tive todo respaldo e um respeito imenso.

MC Quais serão as prioridades de seu governo?

RL A gente precisa mudar as comunidades a partir das mulheres. Vou construir maternidades, dobrar o número de creches de Pernambuco, como fiz em Caruaru, e promover qualificação profissional para as mães lá dentro. Governar é eleger prioridades, e fiz uma escolha: ter um diálogo reto com as mulheres. Se um lugar vai crescer, é porque estamos cuidando delas e de suas crianças. O rosto da fome é o da mulher de periferia, com filho pequeno. E é com elas que vamos conversar primeiro.

MC Quais serão as propostas para essa mulher?

RL Primeiro, vamos abrir o programa Mães de Pernambuco, de auxílio de R$ 300 para mulheres com filhos de 0 a 6 anos e que preenchem os requisitos do Auxílio Brasil. Todos os estudos apontam que a gente garante a formação de uma criança do 0 aos 6, do ponto de vista nutricional, pedagógico, sociológico, de estímulos. Essa criança precisa ter comida. Vamos também fazer um programa de empreendedorismo com foco especial para mulheres, com qualificação profissional e acesso a crédito desburocratizado. Para isso, temos que abrir espaço para cuidar das crianças e vamos abrir 60 mil vagas em creches. Nada mais libertador para uma mulher do que garantir que a sua criança esteja em tempo integral na escola, com cinco refeições garantidas, com vacinação, oculista, dentista. Precisamos agir em várias frentes, e a primeira delas é garantir comida na mesa.

MC Em 2021, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada sete horas no Brasil, em média. O que a senhora fará para enfrentar esse problema?

RL Repressão qualificada e prevenção social. Uma mulher não é vítima de feminicídio de uma hora para outra. Existe uma trajetória. Precisamos de uma rede de proteção. Fortalecer o enfrentamento à violência, o acolhimento das vítimas, a patrulha Maria da Penha, a aproximação dessas mulheres sob medida protetiva. Precisamos garantir rede de qualificação de todos os servidores e conseguir identificar precocemente essas histórias. Uma criança que falta à escola muitas vezes pode ser porque a mãe está sendo vítima de violência. Quando coloca alertas sobre isso e manda alguém visitar a casa, identificamos a violência precocemente. Vamos descentralizar o atendimento, com delegacias que funcionem 24 horas, sete dias por semana, e oferecer acolhimento multiprofissional. É muito mais fácil asfaltar 50 quilômetros do que tirar uma mulher do ciclo de violência. Vou asfaltar também, mas minha prioridade é cuidar delas.

MC A senhora se considera feminista?

RL Por vocação e dever de gênero.

MC Em que lugar do espectro político se coloca: direita, centro ou esquerda?

RL Não me coloco em rótulo nenhum. Sou alguém que sempre trabalhou e vai trabalhar para garantir que o governo chegue a quem mais precisa. Quem mora nas palafitas, nas encostas e morros com medo quando chove, no sertão esperando terra para plantar.

MC Em uma foto sua tirada no Congresso, já eleita, havia apenas homens na reunião. Como se sente em situações como essa?

RL Muitas mesas em que sento só há homens. Essa é a realidade de mulheres que fazem política. Eu, que sempre vivi com referências masculinas, agora vejo muitas mulheres e meninas me dizendo que as represento. Precisamos também de uma nova forma de fazer política. Os partidos são machistas, o ambiente é machista, quem manda no partido, no dinheiro, são todos homens. Falta muita democratização ainda. E essa é uma mudança cultural também. Não adianta sentar na cadeira e agir como um deles. A gente precisa abrir espaço. A sociedade exige mudança, e quem não perceber não vai dialogar com o povo.

MC A senhora já passou por algum episódio de violência de gênero?

RL Nunca sofri violência física, mas todas as outras pode marcar de cima para baixo que gabaritei. Disseram que meu pai ia mandar na eleição, depois que seria meu marido, me negaram legenda para disputar eleição a três dias de fechar a janela partidária – que foi o que o PSB fez comigo. Duvido que fizessem isso com um homem. Eu pontuava mais de 20% quando me candidatei a prefeita pela primeira vez. Na eleição deste ano, até começar de fato, diziam que eu não seria candidata. Que eu não teria coragem de sair da prefeitura, botaram meu nome em pesquisa para o Senado. Eu ligava para jornalista para perguntar por que eles insistiam em dizer que eu não era candidata. E depois diziam: mas podem ser duas mulheres candidatas? Não é muita mulher, não?

MC Sua chapa é composta por duas mulheres. Foi ideia sua?

RL A ideia não foi por ela [a vice, Priscila Krause] ser mulher, mas também por ser mulher. Eu podia ter feito uma aliança, aos olhos da política tradicional, mais fácil. Diziam que a gente tinha o mesmo perfil, duas mulheres brancas, que seria melhor agregar com alguém que trouxesse componente x, y ou z, que fosse arrebatador. Falei que não, que ia fazer do jeito que acredito. Não vale tudo para ganhar eleição.

MC Por que escolher o caminho mais difícil?

RL Porque o caminho para transformar é sempre o mais difícil. O mais fácil nunca deixa legado.

MC A equipe de transição da senhora tem nove pessoas, cinco mulheres. Mulheres serão maioria nas secretarias de seu governo?

RL Mais do que minhas palavras, falam as minhas atitudes. Em Caruaru tinha mais mulher do que homem na minha equipe. E faremos isso aqui também.

MC Tanto a senhora quanto Marília Arraes são mulheres que vêm de famílias historicamente importantes na política pernambucana e nacional. A vida de vocês deve ter se cruzado inúmeras vezes. Em entrevista para Marie Claire, ela até citou seu tio, Fernando, que teria conversado com ela sobre as renúncias necessárias na vida política. Como é a relação entre vocês duas? Mudou com a última eleição?

RL Enfrentei uma relação muito dura aqui. Muito dura. E eu lamento que uma pessoa que disputou as eleições em 2020 contra o primo aqui [o prefeito do Recife, João Campos], que sofreu tanto com fake news, tenha usado a mesma estratégia contra mim. Não imaginava que em uma eleição entre duas mulheres a gente ia ter um jogo como esse. Não foi um jogo limpo, sobre como íamos governar Pernambuco. Colocou em xeque a minha honra, a de minha família. Se colocaram várias questões que vão além do aceitável numa disputa de mandato. Eu lamento. O jogo deveria ser feito com mais sororidade e empatia.

MC Sua vice, Priscila Krause, também vem de uma família ligada à política. Como atrair mulheres sem esse histórico para a vida pública?

RL Temos que garantir mais democracia interna dentro dos partidos, na partilha de recursos. Tem muito chão a ser caminhado ainda. Agora, quem ocupa espaço de poder tem obrigação de abrir espaço. No meu primeiro mandato em Caruaru, tinha uma mulher na Câmara de Vereadores. No segundo, tinham quatro. No meu núcleo de gestão fomos formando lideranças. Então de cima, por meio de leis e destinação de recursos, e de baixo, garantindo mais oportunidades. Não é fácil, não. Mas é possível.

MC A senhora optou pela neutralidade no período eleitoral, mas quem a conhece garante que você não votou em Jair Bolsonaro.

RL Votei em Simone Tebet no primeiro turno. Eu que abri palanque para ela aqui no estado. Pernambuco passa pelo pior momento de sua história, somos o estado mais violento do país, com a região metropolitana mais pobre do Brasil, o estado que mais empobreceu no ano passado. Durante a campanha, disse que a gente precisava fazer um debate estadual e não aceitaria a armadilha da nacionalização da disputa. Quando tentavam me rotular de apoiar Bolsonaro, eu dizia que estava em posição de independência. Já procurei o vice-presidente [eleito, GeraldoAlckmin, estamos preparando nossos documentos, teremos uma reunião muito em breve. Precisamos do apoio do presidente Lula, que precisará unir o país para fazê-lo governável e garantir que o governo chegue na vida dos mais vulneráveis.

MC E qual a sua avaliação do último governo?

RL O povo brasileiro decidiu que ele não continuasse mais no poder. Há coisas que questiono, sim, valores inegociáveis. Rejeito de forma imediata qualquer discussão que ameace a democracia e o fortalecimento das instituições. Agora que o governo Bolsonaro passou precisamos unir o país. As eleições foram feitas de maneira legítima, está mais que comprovado. Precisamos respeitar e fortalecer as instituições. A gente retrocedeu. Nossa geração terá que reconstruir a democracia. Ela não pode ser meramente formal, tem que chegar na vida do povo.

MC Recentemente bolsonaristas invadiram o Centro de Formação Paulo Freire, dentro de um assentamento do MST (Movimento Sem Terra) em Caruaru. Picharam “mito” e suásticas nazistas nas paredes e incendiaram a casa de moradia da coordenadora do centro. Soube desse episódio? Não vi nenhuma declaração sua a respeito.

RL Acho lamentável. Aquele assentamento é referência para o Nordeste. Tem um centro de formação que foi estabelecido quando meu pai foi prefeito. A gente tem um programa em Caruaru de apoio à agricultura familiar que tem parceria forte com eles, com as redes de agricultura familiar, muitas delas lideradas pelo MST. Então lamento, repudio. Precisamos viver com democracia, cada um ocupando o seu espaço. Garantir o direito à terra, o fomento à agricultura familiar, garantir a compra dos insumos da agricultura familiar para a alimentação escolar. Eu cuidava disso pessoalmente, da merenda escolar. Se as crianças não têm alimentação boa em casa, que tenham na merenda. E isso vem da agricultura familiar.

MC Pernambuco tem um cenário de conflito agrário particular, que envolve as antigas usinas. De que forma a senhora vai lidar com os despejos, que já podem voltar a acontecer neste pós-pandemia? E a senhora pretende cobrar as dívidas dessas usinas ao Estado?

RL Vamos ter diálogo com um e com outro, não vamos resolver por imposição. Vamos ter a coragem de trazer essa discussão para dentro do governo, não vou fingir que esse não é um problema meu. Preciso me apropriar disso, olhar as ações judiciais, sentar com o Poder Judiciário, com o Ministério Público, com os proprietários, os que ocupam e os que têm desejo de ocupar.

MC O deputado Joel da Harpa (PL) esteve em seu palanque. Na pandemia fez parte do grupo que cercou uma maternidade pública onde a equipe médica realizava o procedimento de aborto legal em uma criança de 10 anos vítima de estupro. O que pensa sobre esse episódio?

RL Rejeito e repudio. Aquela criança tinha direito ao aborto legal. Ela foi violentada, o que ela precisa é de proteção e cuidado. Quem agiu contra isso agiu contra a lei e contra a criança.

MC Ainda sobre esse tema, a cada dois dias uma mulher morre por causa de um aborto inseguro no Brasil. A senhora já declarou ser contra a flexibilização da lei vigente, que permite o procedimento apenas em caso de estupro, risco de vida à mãe ou feto anencéfalo. Por quê?

RL Sou a favor de trabalhar o planejamento familiar. Em Caruaru descentralizamos a implantação de DIU nas unidades básicas de saúde, trabalhamos na informação de adolescentes sobre empoderamento e o direito a se planejar. Agora, essa é uma discussão que vai além de mim, é do Congresso Nacional. (Marie Claire)

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