As eleições de 2022 para o Governo de Pernambuco trouxeram o ineditismo de ter duas mulheres na disputa. No próximo domingo (30), os pernambucanos vão eleger democraticamente se quem governará o estado, pelos próximos quatro anos, será a chapa de Marília Arraes (SD), que tem como candidato a vice, o deputado federal Sebastião Oliveira (Avante); ou a chapa liderada por Raquel Lyra (PSDB), que tem como vice a deputada estadual Priscila Krause (Cidadania).
Luto, reorganização das forças políticas nos palanques em questão, embates jurídicos sob acusações de fake news, comparação de currículos, nacionalização da disputa e posicionamento de neutralidade, marcaram o tom de acirramento neste segundo turno. O confronto propositivo nos debates, só teve espaço mesmo na última semana de campanha.
As candidatas a governadora tiraram da disputa oito candidatos, entre eles Anderson Ferreira (PL), Danilo Cabral (PSB) e Miguel Coelho (União Brasil). Marília Arraes recebeu 23,97% dos votos válidos, enquanto Raquel Lyra recebeu 20,58% dos votos.
Raquel Lyra
Na liderança das pesquisas de intenção de voto, a ex-prefeita de Caruaru, Raquel Lyra, precisou lidar com um drama familiar inesperado, a morte do seu marido, o empresário Fernando Lucena, de 44 anos. O casal tinha uma relação de quase 30 anos juntos e dois filhos. Vítima de um mal súbito, Fernando faleceu na manhã do dia 2 de outubro, dia da eleição do primeiro turno.
A candidata a vice na chapa da coligação “Pernambuco Quer Mudar”, Priscila Krause assumiu interinamente a coordenação da campanha, sendo responsável pelas articulações internas das novas adesões na disputa. Após uma semana, Raquel retomou os compromissos e as agendas de rua.
Ao receber apoios como o do ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (UB), que ficou em quinto lugar no primeiro turno, e declarou apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL), e de partidos como o PP, que tem em seu quadro os deputados eleitos Clarissa e Júnior Tércio, principais representantes do bolsonarismo em Pernambuco, Raquel começou a ser cobrada sobre seu posicionamento na corrida presidencial.
Por outro lado, o palanque da candidata do PSDB também recebeu apoio de parlamentares, lideranças e prefeitos que declaram voto ao ex-presidente Lula do PT. O deputado federal Gonzaga Patriota (PSB), o deputado federal Túlio Gadêlha (Rede), e a prefeita de Serra Talhada, Márcia Conrado (PT), são alguns dos quadros que declararam votar em Raquel.
“Raquel Lyra acabou conquistando essa vaga no segundo turno muito por sua capacidade de liderança e gestão nos debates. Ela se destacou muito desde o início dessa trajetória como uma pessoa capacitada, experimentada, com uma vivência no serviço público, e não foi o alvo principal dos adversários no primeiro turno”, afirmou a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas (Facho), Priscila Lapa.
“Ela não tinha um palanque inicialmente muito competitivo, tanto que um dos seus principais cabos eleitorais, o deputado federal Daniel Coelho, não renovou seu mandato na Câmara, mas ela conseguiu angariar apoios significativos no segundo turno, inclusive transitando com muita facilidade entre o eleitor lulista e bolsonarista”, destacou a docente.
Marília Arraes
Ao sair do PT para disputar o Governo do Estado, Marília Arraes sempre deixou claro que não pretendia abrir mão de usar a imagem do ex-presidente Lula, mesmo que a candidatura oficial apoiada pelo petista fosse a da chapa da Frente Popular.
No segundo turno, Marília conseguiu algo que o PSB e Danilo Cabral tentaram articular ainda no primeiro turno, mas não conseguiram, ter Lula pelas ruas do Recife ao seu lado. Isso também mostrou que sua estratégia seria a de nacionalização da disputa, em que a única candidatura que representa as forças ligadas ao ex-presidente seria a sua.
Com o apoio oficial do líder petista e de seu partido em Pernambuco, outras legendas também oficializaram a adesão ao palanque da neta do ex-governador Miguel Arraes, como o PCdoB, PDT, PV, Republicanos, PSOL e o PSB.
No entanto, os socialistas se dividiram e não houve esforço das lideranças do partido para conter aqueles que preferiram não apoiar o projeto liderado por Marília Arraes. Mas, ter o seu primo, o prefeito do Recife, João Campos, em seu palanque, trouxe o peso da continuidade, bastante explorada pelos adversários.
O governador Paulo Câmara (PSB), inclusive, virou alvo nos debates e continuou sendo duramente criticado nos debates. Marília Arraes afirmou que nunca trocou “nem cinco minutos de conversa” com o chefe do Executivo e, que ao contrário de sua adversária, não o ajudou a elegê-lo em 2014.
Porém, a cientista política Priscila Lapa destacou que ao liderar as pesquisas de intenção de votos no primeiro turno, ela mostrou que consegue agregar ao seu palanque várias lideranças políticas importantes e formar composições políticas para dar uma boa base ao seu palanque.
Grávida de seis meses, Marília Arraes mudou a estratégia adotada no primeiro turno, e no primeiro momento declarou que iria sim participar de todos os debates com sua adversária tucana. Em sua justificativa para não participar dos confrontos anteriores, Marília disse que seria o foco principal de seus adversários.
“Ela chega ao final [do segundo turno] tendo que vencer a desconfiança com relação a sua capacidade de ser uma boa Executiva. Ela não tem uma experiência prévia e houve aquela ausência no primeiro turno dos debates”, avaliou Priscila Lapa.
“O que depois ela tentou reverter com um plano de governo mais robusto e participando de forma mais expressiva dos debates com uma postura mais aguerrida, de combate, chegando a essa reta final com essa imagem “, complementa a docente. (JC Online)