No Estado, as empresas do Polo Gesseiro sentem os efeitos negativos da indefinição do cronograma final da ferrovia. Polo do Sertão do Araripe é responsável por 97% do gesso produzido no Brasil e movimenta R$ 50 bilhões por ano.
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No Sertão do Araripe, o Polo Gesseiro sente os efeitos negativos da recessão econômica e dos entraves logísticos provocados pelo retardamento da Ferrovia Transnordestina, vista como solução logística para o escoamento da produção ao Sul e Sudeste do Brasil, além do Paraguai e de países da África. Esses impasses afetam o apetite dos empresários, provocam demissões e reduzem a capacidade produtiva da Região, responsável por 97% do gesso produzido no Brasil. Entre 2014 e 2015, o setor retraiu 35,6%, resultado bem maior que em 2013, quando se registrou queda de 9%. Para este ano, a perspectiva é que a produção, que movimenta R$ 50 bilhões, despenque 50%.
“Na época de crise, uma saída seria ampliar o mercado, já que há uma paralisia na construção civil interna. Então, o interessante seria buscar o mercado internacional e aproveitar a conjuntura favorável do câmbio. No entanto, o fator logístico é fundamental e somente a ferrovia poderia encurtar a distância até Suape, de onde a produção é escoada, e baratear o frete”, afirma o empresário e ex-presidente do Sindicato da Indústria do Gesso de Pernambuco (Sindusgesso), Josias Inojosa Filho. Diferente do que seria necessário, o modal rodoviário é o único responsável por escoar pouco mais de três milhões de toneladas de gipsita (matéria-prima do gesso) por ano.
“Levamos entre três e quatro dias para o produto sair do Araripe e chegar ao Sudeste, que abocanha 45% da nossa produção. Se tivéssemos o traçado ferroviário, poderíamos levar um volume maior, fazer estoque e ainda reduzir em 50% o custo logístico”, contabiliza.
O problema é que a Transnordestina começou a ser construída há dez anos e seu cronograma final ainda segue sem definição. Segundo a Transnordestina Logística S.A, responsável pela obra, a conclusão depende da liberação de recursos dos entes financiadores. Os 1.753 quilômetros de trilhos vão ligar o município de Eliseu Martins, no Piauí, aos Portos de Suape e Pecém, em São Gonçalo do Amarante, no Ceará.
Proprietário da Indústria de Gesso do Nordeste LTDA (Ingenor), Ariston Pereira conhece bem o peso desses imbróglios na planilha de sua empresa. “Com a crise e o encarecimento dos custos com transporte, tivemos que reduzir nossa produção de 8 mil peças de gesso para 3,5 mil por mês. Nos últimos dois anos, os gastos com combustível, pessoal e manutenção de peças, por exemplo, aumentaram 30% e o jeito foi demitir”. Nos tempos áureos do negócio, Pereira chegou a ter 100 funcionários. Hoje, não passam de 20.
Com foco nos mercados do Sudeste e parte do Nordeste, Ariston revelou que, além da demora em entregar as mercadorias, o Polo Gesseiro ainda tem que dividir a logística rodoviária com as safras de soja, frutas e sal de outros polos produtivos do Nordeste. “A ferrovia evitaria a sazonalidade de frete”.
Dono da MP Gesso Agrícola LTDA, Adriano Sampaio também precisou cortar os custos para enfrentar a fase difícil. “Tinha 55 pessoas trabalhando na central de moagem e britagem, hoje, temos 30 pessoas e uma produção que caiu pela metade”. Há dois anos, o gesso agrícola de Sampaio chegava a 300 mil toneladas por ano.
E essa falta de perspectiva vem afetando não só os empregos da Ingenor e da MP Gesso. Segundo o Sindusgesso, em 2014, eram 69 mil empregos diretos e 13,8 mil indiretos. Em 2015, o saldo de postos de trabalho caiu para 51,7 mil e 9.660 mil, respectivamente. Os números são distribuídos entre as 39 mineradoras, 124 calcinadoras e mais de 450 empresas de pré-moldados de gesso que atuam na região.