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A eleição em Pernambuco é de mudança

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Foto: reprodução

Por Maurício Rands*

O pernambucano anda cabisbaixo. O estado tem perdido posições relativas. Acaba de sair estudo da FGV Social. PE teve a pior evolução dos índices de pobreza entre os 27 estados. 50,3% da nossa população vive com menos de R$ 497 per capita por mês. Isso nos coloca entre os 4 estados com maiores índices de pobreza. O quadro é desolador. Para constatá-lo, basta andar nas ruas. Nunca vimos tantos pedintes. As palafitas estão de volta. No ranking do Doing Business Subnacional Brasil 2021, do Banco Mundial, PE ostenta a última posição no ambiente institucional para fazer negócios. Muitas empresas preferem investir nos vizinhos para fugir da excessiva burocracia e dos tributos mais altos aqui cobrados. Eduardo Campos, certa vez me perguntou, sobre o mal governo que Dilma vinha fazendo: “você não notou que o governo Dilma parou de fazer bem ao povo?”. A mesma pergunta agora aplica-se ao governo do seu sucessor, de cuja escolha certamente estaria arrependido.

A alternância no poder é uma das melhores invenções da democracia. A longa permanência de um partido no poder dificulta a renovação dos representantes e das práticas de governo. O controle dos cargos muitas vezes passa a ser usado para acumular riqueza pessoal. E, quanto mais o tempo passa, mais se aproximam dos governos as pessoas que não o fazem por identidade programática ou objetivos republicanos. Um pouco de cada um desses fenômenos degenerativos está ocorrendo em Pernambuco. Dessa vez, o PSB representa mais do mesmo. Fadiga de material. Como ficou visto no recente episódio das 130 mortes pelos deslizamentos dos morros. Um sintomático descuido com as populações de baixa renda. Quando se sabe que poderia ser diferente. Como já provara o prefeito João Paulo, que reduzira de 10 mil para 3 mil os pontos de risco, com apenas 2 mortos nos dois mandatos. Nos governos do PSB, esses pontos voltaram à casa dos 10 mil.

Por tudo isso, é de mudança o sentimento dominante dos pernambucanos. Nenhuma força política é eterna. A fadiga e a esperança do eleitor, em algum momento, conduzem-no a experimentar outras opções. Tome-se o exemplo do Ceará. Lá Ciro Gomes sempre ganhou as presidenciais que disputou. Agora, as pesquisas dão-lhe apenas 11%, atrás de Lula e Bolsonaro. Pode também perder o governo do Ceará.

O que também parece em vias de ocorrer em PE. Já em 2018, metade do eleitorado votou pela mudança. E ainda assim porque o PSB valeu-se da tática de se aliar ao PT à última hora, escorando-se na popularidade de Lula. Para, na eleição seguinte, a de prefeito do Recife, voltar a demonizar Lula, o PT e a sua então candidata Marília Arraes. Nessa eleição de 2022, em dificuldade diante da elevada rejeição ao governador e dos baixos índices de seu candidato, novamente o PSB recorre à velha muleta do prestígio de Lula. Sem fazer autocrítica pela campanha difamatória de 2020. Nem muito menos pelo apoio ao impeachment da presidente do PT em 2016.

O cardápio da oposição dessa vez é eleitoralmente denso. No campo bolsonarista, as candidaturas de Anderson Ferreira e Miguel Coelho disputam o voto da direita. Ao centro, Raquel Lyra tenta recolher os votos que não se identificam com as duas candidaturas que lideram a presidencial. E, apoiando Lula, as candidaturas de Danilo Cabral, Marília Arraes e João Arnaldo. Pelo menos quatro das candidaturas têm chances fortes de irem ao 2º turno. Todas as pesquisas indicam que a soma das intenções de voto nas candidaturas da oposição é largamente majoritária. Há indícios de que, dessa vez, a máquina do governo do estado pode não prevalecer.

Tenho amigos e parentes no PSB por quem nutro estima e afeto. Mas as escolhas políticas não devem ser feitas por essas relações afetivas. Nem podem ser comandadas pelas cúpulas partidárias. Mormente em Pernambuco, cujo povo sempre teve espírito irredento e altivo. Por isso, decidi votar em Marília Arraes, que está alinhada com o voto em Lula que darei na eleição presidencial. Creio que ela representa uma alternância de poder no estado, uma saída no campo das forças progressistas do qual ela sempre fez parte. Seu apoio a Lula representa a segurança de um canal especial com o governo federal, caso ele ganhe. Apoio que, aliás, ela sempre manifestou. Mesmo nos momentos difíceis.

Nessa disputa, ela tem apoio de movimentos sociais, de parte da base do PT, de empresários e da sociedade civil. Seu programa traz ênfase no social, a exemplo do Novo Chapéu de Palha, que incentivará pessoas pobres, com treinamento e crédito, a se constituírem em microempresas integradas a uma empresa de porte médio. Ao mesmo tempo, apresenta soluções criativas para superar a burocracia e a sanha arrecadadora do atual governo. Sempre dialogando com as inovações institucionais e tecnológicas de que PE se ressente para voltar a ter desenvolvimento com verdadeira inclusão social e respeito ambiental.

*Advogado formado pela FDR da UFPE, PhD pela Universidade Oxford

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