Na edição 117 de Oeste, a reportagem de capa mostrou como o ódio obsessivo a Jair Bolsonaro transformou as redações em comitês político-eleitorais. Pior: em comitês empenhados em recolocar no poder um ex-presidente condenado por nove juízes. Três semanas depois, J.R. Guzzo retorna ao tema ao afirmar que “entre os maiores inimigos da expressão livre neste país estão os jornalistas e os donos dos veículos de comunicação”. A lógica informa que não é possível ser a favor da imprensa livre e apoiar um candidato que defende abertamente o controle social da mídia — é o codinome da vez da velha censura.
“Como um cidadão que exerce o ofício de comunicador, no qual a liberdade de expressão é essencial para as coisas terem um mínimo de cabimento, pode ficar contra os seus próprios direitos?”, pergunta Guzzo. Ele mesmo responde: “Hoje o que está em jogo, mais que qualquer princípio, é algo muito simples, e vital para veículos e jornalistas: o dinheiro”. Guzzo apresenta números perturbadores sobre a gastança com publicidade oficial nos últimos governos. Jair Bolsonaro desembolsou, em três anos de mandato, 30 vezes menos que Lula em oito anos — e 35 vezes menos do que Dilma Rousseff torrou em seis. Seria este o real motivo da guerra travada contra o governo e o direito de livre expressão?
O PT também teve de lidar nesta semana com a exumação de outra assombração recorrente. Em delação premiada, o lobista Marcos Valério, operador do Mensalão, revelou detalhes do assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André, e da relação do partido com o Primeiro Comando da Capital, o PCC. Nesta edição de Oeste, Silvio Navarro esmiúça esse e outros episódios que escancaram os vínculos criminosos entre as duas organizações.
Num diálogo interceptado pela Polícia Federal, por exemplo, Alexsandro Pereira, conhecido como “Elias” ou “Véio”, indignou-se com a remoção de militantes do PCC que estavam alojados em Presidente Venceslau: “Esse Moro aí, esse cara é um fdp*, mano. Ele veio pra atrasar. Ele começou a atrasar quando foi pra cima do PT. Pra você ver, o PT com nois tinha diálogo. O PT tinha diálogo com nois cabuloso, mano, porque… Situação que nem dá pra nois ficar conversado a caminhada aqui pelo telefone, mano”.
Até hoje, Sergio Moro foi provavelmente o único ministro que ousou mexer no vespeiro. Os demais, da mesma forma que governadores, prefeitos ou autoridades policiais, optaram pela omissão descarada. Fora de um acordo com a criminalidade não há como explicar a paz artificial que reina nas favelas dominadas pelo tráfico, dentro dos presídios ou mesmo nas ruas das grandes cidades brasileiras. Em 2006, quando decidiu mostrar quem controlava o Estado de São Paulo, o PCC assumiu a hegemonia sem muitas dificuldades. Dezesseis anos depois, o Partido do Crime se tornou tão dominante que engoliu outros grupos, ultrapassou as barreiras estaduais e estendeu seus braços por outros países.
A segurança pública é uma das pouquíssimas áreas que em hipótese alguma pode ser privatizada. É um problema, portanto, que cumpre ao governo — e só ao governo — resolver. Como? Está mais que na hora de criar e consolidar a política nacional de segurança pública que no Brasil nunca existiu.
Branca Nunes
Diretora de Redação
O que significa restaurar a política nacional de segurança pública? E se ela nunca existiu , como pode ser restaurada? Com uma nova ditadura militar?