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Lula x Bolsonaro: O termômetro das ruas

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Foto: reprodução

Por J.R Guzzo

Lula, o PT e a campanha de ambos para a Presidência da República perderam a batalha das ruas nesse 1º de Maio que vinha sendo considerado tão importante para a avaliação da popularidade dos candidatos. Na verdade, sofreram uma derrota tamanho gigante, daquelas que se tenta esquecer com o máximo de empenho.

A mídia, como de costume, tratou o fato como um segredo de Estado. As fotos foram escondidas. Os relatos falaram de ”manifestações de ambas as partes”, como se a presença popular nos atos rivais de Lula e do seu adversário na eleição, o presidente Jair Bolsonaro, tivesse sido equivalente. Alguns veículos preferiram simplesmente não tocar no assunto.

Mas não adiantou muita coisa – hoje a internet está aí. O que foi ocultado pelos meios de comunicação apareceu em fotos, vídeos e áudios nas redes sociais – essas mesmas que o STF faz tanta questão de controlar nas eleições. O resultado é o que se pode ver; está lá.

Em São Paulo, sempre considerado o melhor termômetro do país para medir essas temperaturas, Lula teve um miserável ajuntamento de militantes na frente do Pacaembu. Não adiantou atrasar a hora do discurso, para ver se vinha mais gente, nem oferecer o show grátis de uma cantora que é destaque na campanha do PT – que foi um fiasco igual ao do comício. Bolsonaro, mais uma vez, encheu os dois ou três quarteirões de praxe diante do Masp.

Nos outros estados brasileiros, a situação foi a mesma – muita gente e muita bandeira verde-amarela de um lado, pouca gente e muita bandeira vermelha de outro. Lula, o PT e os “analistas” continuam achando que a eleição já está decidida, e que o ex-presidente já ganhou. Mas a rua, para eles, continua sendo um problema – ou, então, não é problema nenhum, porque hoje em dia não é mais preciso ter apoio popular público para ganhar eleição. Outubro dirá.

Enquanto isso, Lula vem chamando a atenção por dizer ao microfone coisas cada vez mais extraordinárias. É curioso: quanto menos gente aparece em torno dele, mais bobagem ele diz. Depois de declarar que “Bolsonaro não gosta de gente, gosta de policial” – negando, assim, que os policiais sejam seres humanos – veio com a história de criar “uma moeda para a América Latina”. Para que fazer um negócio deles? Segundo Lula, para acabar com “essa dependência do dólar”. Não faz nenhum nexo.

O Brasil, neste momento, tem cerca de 400 bilhões de dólares de reservas; de onde ele foi tirar a “dependência” que o aflige? Depois, Lula precisaria combinar com mais ou menos uns 20 países da América Latina se eles querem mesmo juntar suas moedas que não valem nada e ficar com outra que valerá menos ainda. Lula perguntou se a Venezuela, por exemplo, quer trocar dólares por reais, ou pela tal moeda que ele imagina? E o México – será que topa? E Cuba, que ele acha um modelo de regime?

Outro detalhe: a Arábia Saudita vai aceitar “moeda latino-americana”, em vez de dólar, para vender petróleo ao Brasil? E os Estados Unidos, a Europa e o Japão – vão abrir mão de receber em dólar as suas exportações de tecnologia, instrumentos médicos, máquinas de precisão, peças de automóvel e mais um milhão de coisas? É insano – mas Lula é isso.

O candidato, como faz a cada vez que diz um disparate ou insulta alguém, pediu desculpas pela agressão aos policiais. Já tinha pedido desculpas por dar indulto ao terrorista Cesare Battisti, que matou quatro pessoas – ele, que tanto condena o perdão ao deputado Daniel Silveira, que não matou ninguém. Pedirá desculpas, de novo, na próxima barbaridade – ou vai alegar que a sua “moeda” não é para ser levada a sério por ninguém. É este, segundo os liberais bem-pensantes, o homem que vai salvar o Brasil.

Quem é J.R. Guzzo?

J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976, período em que a circulação da revista passou de 175.000 exemplares semanais para mais de 900.000. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame.

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