Por Gilson Machado Neto*
A maior obra de infraestrutura hídrica do país, a transposição do Rio São Francisco, pode abrir caminho para ampliar o desenvolvimento econômico Região Nordeste também por meio do turismo.
Essa semana estive com o Ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, discutimos ações para promoção do setor no entorno dos mais de 700 km de extensão do projeto de transposição.
Estamos discutindo a possibilidade de abrir novos perímetros irrigados, novas cidades como Petrolina, Sertânia e Irecê, por exemplo, que podem se replicar em outras regiões de Pernambuco, do Nordeste.
Estima-se que, no Brasil, existam aproximadamente 3,5 milhões de hectares irrigados, dos quais pouco mais de 500 mil localizados no semiárido (em torno de 140 mil em áreas públicas de assentamento e cerca de 360 mil em propriedades privadas).
Os projetos de irrigação exercem um papel importante para a redução da pobreza no semiárido, particularmente por contribuírem efetivamente para a geração de empregos, requerendo baixos investimentos por posto de trabalho gerado relativamente aos demais setores.
Além disso, as intervenções públicas direcionadas à mobilização de investimentos privados promoveram um intenso processo de desenvolvimento local e regional, obtendo-se, em média, para cada hectare irrigado, um emprego integral on farm, e cerca de 1,5 emprego adicional em atividades ancilares, para frente ou para trás na cadeia de produção, a um custo médio de US$ 5 mil a US$ 6 mil.
Para outros setores, esses custos se situam em torno de US$ 44 mil por emprego. Em segmentos como o turismo, a indústria automobilística e os setores metalúrgico e químico, esses custos encontram-se entre 18 e 44 vezes acimados estimados para a agricultura irrigada no nordeste e no semiárido.
Mas, além da geração de empregos, o setor favoreceu, por meio da elevação da produção e da produtividade, atraindo, em conseqüência, uma demanda adicional, o aumento do consumo de alimentos a preços mais baixos, nos mercados local e nacional. Esses benefícios são particularmente aproveitados pelos extratos inferiores de renda, visto que despesas com alimentação constituem um percentual mais elevado de suas receitas, elevando, portanto, seu poder de compra.
De maneira geral, os municípios com irrigação apresentam um desempenho melhor do que aqueles sem irrigação, indicando a influência positiva da agricultura irrigada no desenvolvimento social e econômico da região. Contribuíram para a atração de empreendedores rurais nas regiões afetadas pela irrigação fatores como uma melhor infra-estrutura, um suporte urbano mais efetivo e uma maior proximidade dos mercados consumidores.
Em trinta anos, de 1970 a 2000, três dos cinco municípios com irrigação foram convertidos a cidades de grande porte e incorporados à lista dos 4% de municípios brasileiros com população acima de 100.000 habitantes, a saber: Petrolina (PE), que passou de 61.000 habitantes, em 1970, a 219.000, em 2000, a uma taxa de 4,4% ao ano; Juazeiro (BA), que passou de 62.000 habitantes para 175.000; e Mossoró (RN), que passou de 97.000 para 214.000 habitantes. A título de comparação, enquanto Petrolina cresceu 257%, entre 1970 e 2000, Serra Talhada (PE), seu município-espelho, cresceu apenas 27%, passando de 60.000 a 71.000 habitantes. De modo similar, a população de Juazeiro(BA) cresceu 183%, enquanto a de Jacobina, seu município-espelho, decresceu 0,04%. Por seu turno, Mossoró (RN) cresceu 120%, enquanto Acari cresceu apenas 3%, durante o mesmo período.
Indicadores estatísticos sugerem que a agricultura irrigada contribuiu significativamente para a redução da pobreza no semiárido.
Segundo os dados apresentados, verifica-se uma diferença considerável entre as condições existentes nos municípios com e sem irrigação, ainda que ambos apresentem percentuais muito elevados de famílias pobres.
A irrigação contribuiu para a redução da pobreza em todos os pólos, tanto em âmbito municipal quanto a nível microrregional. Foram observados substanciais incrementos da renda per capita. Os principais indicadores sociais, expressos pelo Índice de Desenvolvimento Humano do PNUD, referentes ao desenvolvimento da educação, à longevidade e à renda municipal, melhoraram consideravelmente durante as três últimas décadas, atingindo, no ano 2000, níveis médios e altos de desenvolvimento.
O indicador mais evidente da redução da pobreza consiste no número de empregos gerados. A demanda por mão-de-obra varia de 0,2/ha, na rizicultura, a 0,7/ha, na bananicultura, chegando a 2,5/ha, na viticultura.
*Ministro do Turismo