Por Magno Martins
A deputada Marília Arraes (PT) não será candidata ao Senado apenas pela má vontade do PSB, que terá primazia na Frente Popular com a indicação do deputado Danilo Cabral a governador. Ela fechou as portas do seu partido a partir do episódio da eleição da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, em janeiro do ano passado, quando se elegeu para a Segunda-Secretaria, na condição de candidata avulsa, impondo derrota ao candidato oficial do PT, o deputado sergipano João Daniel.
Na ocasião, Marília fez uma aliança silenciosa com o presidente eleito da Câmara, Arthur Lira, do PP de Alagoas, principal liderança do Centrão. “A atitude de Marília não foi correta com o partido e a discussão das suas consequências será feita nas instâncias partidárias”, disse, na época, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. O PT, com o respaldo de Gleisi, chegou a ameaçar Marília com um processo disciplinar, que acabou não prosperando.
O fato é que, mesmo sem punição, Marília perdeu a confiança do partido e dos seus principais dirigentes, a começar por Lula. “Para trair, basta coçar”, disse, ontem, um alto dirigente da legenda, reforçando a informação que este blog recebeu de que esse fato – a derrota que ela impôs ao PT – deixou a parlamentar em maus lençóis dentro do partido e junto aos caciques. “Ninguém mais confia nela”, acrescentou a mesma liderança.
Sem tradição de militância no PT, vindo do PSB como cria do ex-governador Eduardo Campos, com quem brigou depois dele ter papel preponderante quando emplacou seu primeiro mandato de vereadora do Recife, Marília esqueceu um princípio básico quando agiu de olho grande no cargo da Mesa Diretora: o PT é um partido grande e orgânico, tem regras e preza muito pelas decisões coletivas e internas.
“Marília é de fato o nome mais competitivo do PT para o Senado. Da parte do PSB não existe nada contra ela, que até reforçaria a chapa. O seu problema está no PT. Ela tem que resolver sua vida lá, aqui não há vetos”, disse uma liderança do PSB, que até chegou a torcer para vê-la na chapa como candidata ao Senado.
Ameaça de expulsão – Recordar é viver: tão logo Marília derrotou o petista João Daniel, candidato oficial para Segunda-Secretaria indicado pela liderança na Câmara, ocorreu outro episódio que deixou a parlamentar em maus lençóis: uma corrente do PT chegou a propor sua expulsão do partido por ela ter passado por cima da orientação do voto contrário ao projeto que autorizava a compra e aplicação de vacinas contra a Covid por empresas privadas. Ela se absteve.