Gilson Machado Neto, único pernambucano no primeiro escalão do Governo Bolsonaro, como todo ministro, tem direito a segurança, carro oficial e outros penduricalhos inerentes ao cargo em viagens nacionais e internacionais. Homem simples, tocador de sanfona e acostumado aos altos e baixos da vida como produtor de coco em Alagoas, Gilson dificilmente recorre às logísticas oficiais.
Anda de táxi, Uber e avião de carreira. Recentemente, pousou em Aracaju e se deslocou de Uber até o local do evento. Entre uma conversa e outra, o motorista quis saber o que ele fazia. De pronto, respondeu: “Sou ministro. O motorista deu uma risada debochada e sapecou: “Ministro, porra nenhuma! Fale a verdade, meu senhor”.
E acrescentou: “Já viu ministro andar de Uber? ” Novamente, Gilson insistiu: “Acessse o Google com meu nome, Gilson Machado Neto, e comprove. O Governo Bolsonaro é assim mesmo”. “O senhor está de brincadeira”, retrucou o motorista.
Chegando ao local do evento, a restauração de uma igreja histórica, Gilson pagou a corrida e se despediu do Uber. Este, sem acreditar ainda que havia conduzido um ministro, foi assistir à cerimônia sem Gilson tomar conhecimento da sua presença. Quando estava saindo, Gilson se deparou com o motorista, que disse: “O senhor não estava debochando mesmo da minha cara. Agora, quero uma selfie”. E saiu feliz da vida.
O motorista é contador e faz bico de Uber para aumentar a renda da família em Aracaju. Gilson é dono da Brucelose, banda de forró, plantador de coco em Alagoas, onde tem também uma rádio, além de criador de gado em Tocantins. É dono também de uma pousada em Alagoas e de outra emissora de rádio em Gravatá. Tudo, diga-se de passagem, antes de ser ministro, resultado do que Eduardo Campos dizia: “Pegar no serviço”.
Gilson ralou a vida inteira para construir o patrimônio que tem hoje. Quando estourou nas paradas de sucesso, sendo uma das bandas mais requisitadas do País, Gilson ganhou o dinheiro suficiente para investir em gado, coco e hotelaria.
Mas nunca abriu mão do preceito pelo qual se inspira até hoje: o gado só cresce com o olho do dono. Na semana passada, um motorista que levava uma carrada de coco da fazenda de Gilson para a Ceasa passou mal. Avisado, o ministro foi ao local e ele mesmo dirigiu o caminhão até o Ceasa.
Os receptores da carga tomaram um susto quando o ministro desceu e entregou a carga.
Coisas de gente que não se embriaga pelo poder.