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Che Guevara é um exemplo de amor; a família é opressora: 10 ideias do escritor Paulo Freire

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Foto: reprodução
Autor de livros de esquerda faria 100 anos neste domingo
Revista Oeste
O escritor marxista Paulo Freire completaria 100 anos neste domingo, 19. O recifense é conhecido por atuar fortemente na educação dos brasileiros a partir de uma ótica socialista. Em 2012, a então presidente Dilma Rousseff (PT) sancionou uma lei que tornou Freire “Patrono da Educação” do país.

Em seus livros, Freire defende o “papel primordial da educação no processo de conscientizar o povo e levá-lo ao senso crítico” — esquerdistas brasileiros dão a ele créditos pelo avanço da alfabetização. A Revista Oeste selecionou 10 pensamentos extraídos da obra Pedagogia do Oprimido, a mais famosa de Freire:

1) A educação tem de servir à revolução

“O sentido pedagógico, dialógico, da revolução, que a faz ‘revolução cultural’ também, tem de acompanhá-la em todas as suas fases. É ele ainda um dos eficientes meios de evitar que o poder revolucionário se institucionalize, estratificando-se em ‘burocracia’ contra-revolucionária, pois que a contra-revolução também é dos revolucionários que se tornam reacionários”

O foco de Freire é permitir que a sala de aula se torne palanque político, com foco em atingir os alunos.

2) A opressão da família

“As relações pais-filhos, nos lares, refletem, de modo geral, as condições objetivo-culturais da totalidade de que participam. E, se estas são condições autoritárias, rígidas, dominadoras, penetram nos lares que incrementam o clima da opressão. Quanto mais se desenvolvem estas relações de feição autoritária entre pais e filhos, tanto mais vão os filhos, na sua infância, introjetando a autoridade paterna.”

No livro, Freire não menciona que as famílias têm um papel na educação dos filhos. A tarefa é papel do professor, que assume o papel de “agente transformador social”.

3) O mundo se divide entre opressores e oprimidos

“Precisamos de uma pedagogia que faça da opressão e de suas causas objeto da reflexão dos oprimidos, de que resultará o seu engajamento necessário na luta por sua libertação.”

Ao se basear em Karl Marx, Freire defende que os estudantes têm de buscar sua liberdade diante dos “opressores”.

4) Os homens “se libertam” em comunhão

“É este caráter de dependência emocional e total dos oprimidos que os pode levar a manifestações que Fromm chama de necrófilas. De destruição da vida. Da sua ou da do outro, oprimido também. Somente quando os oprimidos descobrem, nitidamente, o opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua “conivência” com o regime opressor.”

O trecho ressalta a defesa de Freire pela organização das esquerdas com a finalidade de derrubar um inimigo em comum.

5) Che Guevara versão paz e amor

“O que não expressou Guevara, talvez por sua humildade, é que foram exatamente esta humildade e a sua capacidade de amar que possibilitaram a sua ‘comunhão’ com o povo. (…). Este homem excepcional revelava uma profunda capacidade de amar e comunicar-se.”

No livro Antes que anoiteça, do escritor Reinaldo Arenas, o guerrilheiro Che Guevara é descrito como alguém que detesta gays. Che defendia que homossexuais precisavam ser “curados” através de trabalho forçado ou fuzilados em um paredão. A obra destaca que gays eram vistos no regime castrista como “seres inferiores”.

6) O diálogo começa na “busca do conteúdo programático”

“Para o educador-educando, dialógico, problematizador, o conteúdo programático da educação não é uma doação ou uma imposição — um conjunto de informes a ser depositado nos educandos, mas a revolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo, daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada.”

Freire busca uma revolução social organizada, que comece dentro da sala de aula, com a finalidade de “devolver ao povo sua humanidade roubada”.

7) Organização das massas

“A organização não apenas está diretamente ligada à sua unidade, mas é um desdobramento natural desta unidade das massas populares. Desta forma, ao buscar a unidade, a liderança já, busca, igualmente, a organização das massas populares, o que implica no testemunho que deve dar a elas de que o esforço de libertação é uma tarefa comum a, ambas.”

O trecho ressalta a necessidade que Freire vê em unir “classes oprimidas” contra o que chama de manipulação. O foco é instruir as pessoas desde pequenas.

8) Combate à “invasão cultural”

“Os estudantes precisam ser protegidos da ‘invasão’: “Neste sentido, da invasão cultural, indiscutivelmente alienante, realizada maciamente ou não, é sempre uma violência ao ser da cultura invadida, que perde sua originalidade ou se vê ameaçado de perdê-la.”

O escritor procura relativizar erros cometidos na língua portuguesa. Para Freire, não há certo ou errado no que diz respeito às regras gramaticais para o uso do idioma, basta entender o significado das palavras. Freire vê a influência de outras culturas como uma forma de imposição de valores.

9) Instrumentos de conquista da “elite”

“Os opressores desenvolvem uma série de recursos através dos quais propõem à “admiração” das massas conquistadas e oprimidas um falso mundo. Um mundo de engodos que, alienando-as mais ainda, as mantenha passivas em face dele. Daí que, na ação da conquista, não seja possível apresentar o mundo como problema, mas, pelo contrário, como algo dado, como algo estático, a que os homens se devem ajustar.”

No trecho, Freire afirma que “discursos” em torno de direitos, como o da defesa da propriedade privada, são mecanismos utilizados como ferramenta de dominação de uma classe dominante. Da mesma forma, o escritor critica o ensinamento segundo o qual rebeliões são ruins: “O mito de que as elites dominadoras, ‘no reconhecimento de seus deveres’, são as promotoras do povo, devendo este, num gesto de gratidão, aceitar a sua palavra e conformar-se com ela. O
mito de que a rebelião do povo é um pecado contra Deus.”

10) Liderança revolucionária

“A liderança revolucionária, comprometida com as massas oprimidas, tem um compromisso com a liberdade. E, precisamente porque o seu compromisso é com as massas oprimidas para que se libertem, não pode pretender conquistá-las, mas conseguir sua adesão para a libertarão. Adesão conquistada não é adesão, porque é “aderência” do conquistado ao conquistador através da prescrição das opções deste àquele.”

Freire prega a adesão popular ao movimento revolucionário, de modo a questionar padrões pré-estabelecidos pela sociedade. Segundo ele, “problematizar” esses temas “não é sloganizar, é exercer uma análise crítica sobre a realidade
problema.”

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