Processo está bem costurado entre as cúpulas partidários, mas casamento ainda esbarra em divergências estaduais; as duas legendas abrigam hoje três pré-candidatos ao Palácio do Planalto
Há pouco mais de 10 dias, DEM e PSL divulgaram uma nota conjunta repudiando os ataques feitos pelo presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao ministro Alexandre de Moraes, magistrado da Corte. O documento é o exemplo mais recente de uma “identidade de posicionamento político” que deve resultar, nas próximas semanas, na fusão entre os dois partidos, que se transformaria em uma “superbancada” no Congresso Nacional e renderia um vultoso orçamento de cerca de R$ 1 bilhão no ano que vem, somando recursos dos fundos eleitoral e partidário. Para um líder do Democratas, o cenário colocaria a nova legenda em condição de protagonista no cenário político nacional e fortaleceria os planos das siglas visando à corrida pela Presidência da República no ano que vem.
As negociações entre os diretórios nacionais de DEM e PSL ocorrem há aproximadamente dois meses. Na terça-feira, 21, as cúpulas partidárias vão se reunir para dar início a negociações e articulações internas em busca de uma convergência. Ainda não há definição sobre o nome o número da nova sigla, mas a tendência é que a presidência fique com Luciano Bivar (PSL), enquanto o presidente do DEM, ACM Neto, ficará com a secretaria-geral. Dirigentes que acompanham este processo afirmam que o assunto está pacificado entre os caciques partidários, mas admitem que há “microproblemas” que precisam ser solucionados. O principal deles é a definição dos comandos das centenas de diretórios municipais e estaduais. “Temos hoje a percepção de que este é um movimento político e estratégico inteligente, diante do cenário colocado de que o Senado deve confirmar o fim das coligações. Nós nos antecipamos e unimos forças. Na terça, as Executivas devem se reunir não para bater o prego, mas para dar início ao processo. Conversamos, há interesse na fusão, há convergência na identidade, mas precisamos saber como proceder nos Estados, como organizar”, disse à Jovem Pan o deputado federal Efraim Filho (DEM-PB), líder do partido na Câmara e presidente do diretório paraibano do Democratas. Nos cálculos do parlamentar, em 18 Estados há uma solução “bem encaminhada” – o acordo respeitará a influência dos partidos na região.
Para o vice-presidente nacional do PSL, deputado federal Júnior Bozzella, o novo “superpartido” poderá oferecer ao eleitor uma alternativa ao que ele chama de “polo democrático”. “Nossa ideia é agregar valor a esse polo democrático que tentamos construir. Isso é importante para esse projeto de construção do país que idealizamos. Tenho circulado pelo país, viajado de Norte a Sul, e nossas bases [do PSL] estavam muito bem compostas, com palanques já estabelecidos para construirmos grandes bancadas a nível federal, tínhamos ativos políticos que nos permitia fazer isso. Com a chegada do DEM, conquistamos uma musculatura maior”, afirmou.
Os dois partidos esperam fazer 80 deputados federais, o que daria à nova sigla a condição de maior bancada da Câmara. A estimativa dos líderes é feita, inclusive, para suprir o provável desembarque de parlamentares mais identificados com o presidente Jair Bolsonaro. Dentro das duas legendas, ninguém acredita que Carla Zambelli, Carlos Jordy, Eduardo Bolsonaro, Bia Kicis, entre outros, permanecerão. “A saída dessa ala do PSL, digamos, está precificada. Mas temos feito um trabalho de reposição nos Estados onde ficaria uma lacuna, vamos continuar mantendo uma bancada do mesmo tamanho para chegar e sair forte das urnas em 2022. Projetamos crescimento na Câmara, no Senado e de sete a oito candidaturas a governadores na largada”, diz Efraim. Mesmo antes do início da discussão sobre fusão, o PSL já vinha sinalizando que seguiria um caminho oposto ao de Bolsonaro em 2022. Exatamente por isso, Bozzella acredita que os parlamentares bolsonaristas não seguirão na legenda nesta nova empreitada. “Não faz sentido nenhum permanecer. A não ser que mudem de opinião, mas, por mais arrependidos que estejam, não conseguem voltar atrás, eles só têm um projeto de poder. É oportunismo apoiar o Bolsonaro. Se não fizerem isso, não terão outro nicho para se agarrar”, avalia.
‘Dor de cabeça do bem’
A fusão entre DEM e PSL também deve impactar as articulações pensando na eleição para a Presidência da República no ano que vem. Neste momento, as duas legendas abrigam três pré-candidatos ao Palácio do Planalto: o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e o apresentador José Luiz Datena (PSL), da TV Bandeirantes. Segundo apurou a Jovem Pan, Mandetta foi surpreendido com a rapidez com que as negociações avançaram. Ele também quer entender como sua pré-candidatura é recebida pelo PSL e se o partido comandado por Bivar irá apostar na eleição majoritária ou no crescimento das bancadas federais.
Caciques do DEM que acompanham as tratativas apostam que, até o início da campanha, no ano que vem, apenas o nome de Mandetta seguirá colocado como candidato à Presidência pelo partido, uma vez que Pacheco tem sido cortejado pelo presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, e Datena sinaliza que dará prioridade a um cargo no Legislativo – o jornalista já afirmou mais de uma vez que vê com bons olhos a disputa pelo Senado. Além disso, no início da semana, o apresentador da Band foi convidado para se filiar ao PDT e ser vice de Ciro Gomes.
Apesar de parecer pouco provável, o cenário com todos os nomes à disposição não preocupa Bozzella. “Todo partido gostaria de estar bem servido da forma como estamos. Alguns não têm nenhum candidato, nós temos três. É um problema gostoso de ser administrado, uma dor de cabeça do bem”, diz. “Teremos nomes capazes de figurar como protagonistas desse movimento de alternativa a Lula e Bolsonaro. Ainda não apareceu o rosto, o nome e o mensageiro que seja capaz de captar esse sentimento, mas tem timing para isso acontecer. Temos três nomes com excelente perfil, que serão testados para saber quem tem capacidade de conquistar esse sentimento da sociedade para que seja oferecido à população, a quem caberá a decisão final”, avalia Efraim.