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Agronegócio vira aliado do ouro branco do Araripe

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Foto: reprodução

Por Blog do Magno Martins

Jorge Amado disse, certa vez, que a Bahia, de tão negra e religiosa, é tão misteriosa quanto o verde do mar. De tão branco, cobrindo a relva e o manto sagrado do Araripe, o pó do gesso tem também seus mistérios que, aos poucos, começam a ser desvendados. Com a pandemia, que fechou o mercado para as exportações de gesso, mineral produzido a partir do aquecimento da gipsita, os calcidadores da região encontraram uma saída para manter a atividade e recuperar os empregos jogados pela janela.

Trata-se do gesso agrícola, um fertilizante e condicionador do solo. Quando jogado de encontro às terras não férteis no eixo de produção do agronegócio do País, setor que está segurando firmemente o PIB nacional, o pó branco faz um verdadeiro milagre: fornece cálcio e enxofre e tem a função de neutralizar o alumínio em subsuperficie do solo. Faz com que as plantas absorvam sulfato mais rápido e com ação imediata, garantindo maior produtividade.

Filho de Josias Inojosa, cuja história se confunde com o gesso no País, o empresário Josias Inojosa Filho, da Indústria de Gessos Especiais Ltda, conhecida como a Super Gesso, detém uma reserva de 234 hectares em Araripina e está tirando das suas minas rochosas entre quatro a cinco mil toneladas de gesso agrícola por mês. Já sai da sua calcinadora pago pelos empresários do Agronegócio no Sul do Piauí e no Oeste Baiano, além de outras áreas da Bahia.

“O gesso agrícola é a gipsita moída. Ela fofa o solo e rebaixa o alumínio tóxico, impedindo que as raízes se aprofundem”, diz Inojosa Filho. Segundo ele, o gesso agrícola tem uma função mais específica e profunda do que o calcário, tradicional corretor de solos ruins, de terras difíceis de se plantar. “Para se chegar a uma terra fértil e produtiva é preciso uma dosagem dos dois, o calcário com o gesso agrícola”, explica.

O branco do gesso está presente na cultura do Araripe. De longe, quando se chega na região, o fumaceiro branco das chaminés dá medo porque se associa a uma poluição descontrolada. O polo gesseiro, gerador do ouro branco em plena Chapada do Araripe, é responsável pela produção de 95% do produto consumido em todo o Brasil, sendo a maioria das jazidas localizadas em Araripina, Ipubi e Trindade e fazendo de Pernambuco o maior produtor do País, com reservas de gipsita que chegam aos 2,8 milhões de toneladas.

Estão envolvidos na atividade mais de 600 empresas, entre mineradoras, calcinadoras e fábricas de blocos e placas de gesso, entre outros, trabalhando com uma produção reconhecida no País pelo seu alto grau de pureza e transformando a atividade no principal ramo industrial da região.

O gesso do Araripe é utilizado de várias formas, sobretudo nas indústrias de joias, cerâmica, automotiva, na Medicina, na Odontologia, entre outras. É para a construção civil, entretanto, que a maior parte dos seus produtos são escoados, apresentando uma ótima relação custo-benefício, graças às características de isolamento térmico, leveza, estabilidade e precisão dimensional.

Donos da Servex Mineração, Erick Freitas e Ariel Sampaio, em parceria com a GYPSUM S.A. (Etex Group), estão na região desde 2019, desenvolvendo um projeto para mineração de gipsita em Trindade. Ali, implantaram a maior central de britagem e moagem de gipsita do País, colocando a empresa entre os maiores produtores nacionais, com capacidade de produção de 120.000 toneladas/mês.

A linha de produtos da SERVEX MINERAÇÃO é composta de gipsita britada, destinada à indústria de cimento e gesso e, também, a gipsita moída (gesso agrícola), destinada ao agronegócio. Para Erick, o gesso agrícola vem despontando, nos últimos anos, como um dos principais produtos do Polo Gesseiro do Araripe, sendo responsável por uma melhora substantiva no aumento de produtividade das culturas de soja, milho, algodão, cana de açúcar, café, entre outras mais.

“As jazidas de gipsita da SERVEX MINERAÇÃO possuem excelentes níveis de pureza e qualidade, tendo elas sido auditadas e certificadas por empresa internacional. Em pouco mais de um ano de atividade já empregamos diretamente 48 pessoas”, diz ele.

AÇÃO PREDATÓRIA

Na fase mais difícil para o setor, quando a pandemia reduziu de 14 mil para oito mil o número de trabalhadores formais e informais na atividade gesseira, os calcinadores foram salvos pelo mercado do agronegócio, fornecendo gesso agrícola, o que garantiu a permanência de muita gente no setor e no polo da região.

Mas os calcinadores agem de forma desordenada e até predatória, praticando um preço muito barato. Segundo Inojosa, a tonelada a granel do gesso agricola varia entre R$ 35 a R$ 40 e o R$ 120 ensacada. “Muito barato. Se houvesse um acordo e disciplina, a gente estaria praticando um preço, hoje, muito mais competitivo”, disse o herdeiro do velho Inojosa, que presidiu a entidade reguladora do setor.

Diferente do calcário, no manejo do solo, o gesso tem a capacidade de carrear o alumínio para camadas mais profundas do solo, permitindo que os nutrientes possam ser absorvidos, potencializando o uso do calcário e demonstrando quão importante é esse produto, de Pernambuco, para o futuro da agricultura e do País.

“O gesso agrícola é um coproduto da rocha Gipsita que ao ser aquecido, desidratado e triturado em pequenos grânulos encontra-se apto a ser aplicado no solo”, destaca o pesquisador Geraldo Eugênio, do IPA, que fez um estudo sobre o mineral. Segundo ele, o gesso agrícola quando aplicado, propicia uma lavagem e leva o alumínio para baixo até dois metros de profundidade e faz com que as raízes de milho, soja, algodão fiquem livres para absorver os nutrientes e a água.

“Rico em enxofre e cálcio é uma solução natural para recuperar o solo e aumentar a produtividade e o lucro. O gesso é um aliado da vida microbiana do solo, aumentando a resistência das plantas às pragas, a doenças e a longos períodos de estiagem”, explicou Geraldo Eugênio.

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